“Quezílias, insultos, não contem comigo para noticiar e muito menos política baixa…”

Entrevista a Fernando Morgado Jornalista e Radialista de Lafões

A rubrica “Gente Que Ousa Fazer “será assente numa entrevista a alguém que tenha algo válido no seu percurso de vida. Gente que sabe o que quer e, acima de tudo, que luta por aquilo que quer. As entrevistas serão sempre encaminhadas de forma a mostrar o lado melhor que há em cada um de nós e, dentro do possível, ousar surpreender o leitor. Serão entrevistas com a marca das nossas gentes, da região Viseu Dão Lafões, de todos os quadrantes e faixas etárias. Vamos a isso!

• Paula Jorge

 

Ficha Biográfica

Nome: Fernando José Araújo Morgado

Idade: 76 anos

Profissão: Aposentado do Ministério das Finanças

Livro preferido: Qualquer um de Fernando Pessoa

Destino de sonho: Ser feliz

Personalidade que admira: Zeca Afonso

 

Paula Jorge (PJ) – Muito obrigada, Senhor Fernando Morgado, por mostrar disponibilidade para esta entrevista da rubrica “Gente Que Ousa Fazer”. Comecemos pelo princípio.

Pode descrever o seu percurso profissional.

Fernando Morgado (FM) – Fui durante quase 40 anos funcionário do Ministério das Finanças e Inspetor Tributário dos Serviços de Fiscalização, tendo andado 38 anos de pasta na mão. Trabalhei em S. Pedro do Sul, Oliveira de Frades e Vouzela e passei pelo distrito de Aveiro, nomeadamente Arouca que me deixou muitas saudades. Fiz muitas operações Stop na estrada com GNR-Brigada de Trânsito e percorri o distrito de Viseu de norte a sul em ações de fiscalização. Durante os anos de trabalho, fui exercendo as minhas funções e estudando ao mesmo tempo. Fui desafiado por um colega e ir até à cidade de Coimbra para uma licenciatura, o que fiz durante cerca de 6 anos, aproveitando uma Lei de trabalhador-estudante da altura e como não assistia às aulas de Economia-Direito Fiscal, um colega de Coimbra, que frequentava o mesmo curso, enviava-me fotocópias para que eu estudasse em casa e fazer exames e tudo isto durou 6 anos. Mas valeu a pena, pois licenciei-me, era o que eu queria, pois valorizei os meus conhecimentos para desempenhar os meus trabalhos profissionais. Foi uma boa experiência ter passado por Coimbra, nunca mais esqueço.

 

PJ – O Senhor Fernando Morgado escreve para o Jornal Gazeta da Beira. Como começou esta paixão pela escrita?

FM – Sempre gostei muito de escrever e foi-me lançado esse desafio quando estava em Viseu e durante 18 anos dava aos leitores da GB notícias, principalmente da região de Viseu, tendo deixado de colaborar por motivos de saúde, mas o bichinho pela escrita não morreu. E na minha vida profissional, não deixei de fazer os complicados relatórios das inspeções que fazia aos contribuintes, tendo sempre a preocupação de escrever o mais simples possível para terceiros lerem e compreenderem aquilo que eu tinha visto com os meus olhos. Um pouco difícil.

 

PJ – A escrita é para si é uma necessidade ou um passatempo?

FM – Talvez as duas coisas. Tenho necessidade de ocupar o meu tempo livre que já é pouco e cada vez menos, mas escrever para a GB, eu adoro e é uma honra dar a conhecer aos leitores aquilo que eu vejo e ouço nos locais onde me desloco em serviço e representando a GB, é uma honra muito grande. Também é um passatempo, pois enquanto escrevo esqueço todos os restantes problemas da minha vida e acima de tudo a minha mente está ocupada e não pensa em coisas más. Tenho que agradecer a duas pessoas que me abriram as portas da GB em S. Pedro do Sul, o jornal da minha cidade. Em primeiro lugar ao Dr. António Bica que acreditou em mim e agora mais recentemente à atual Diretora, Engª Maria do Carmo Bica, bem hajam!

 

PJ – Quais os temas que gosta de abordar quando escreve?

FM – Eu escrevo tudo, mas principalmente notícias que sejam sempre boas e de agrado dos leitores. Não gosto muito de escrever más notícias, mas também são precisas para informar o público em geral. Mas tudo o que seja notícias das nossas aldeias, vilas e cidades, falando do nosso povo, dando voz ao povo, em geral, e aos leitores, é o que eu mais gosto. Quezílias, insultos, não contem comigo para noticiar e muito menos política baixa, porque elogiar o trabalho desenvolvido por um Autarca, ou vários, não é fazer política, mas sim noticiar aquilo que bom é feito.

 

PJ – Gosta de ler? Considera importante ler para se escrever bem?

FM – Gosto muito de ler e acho que é muito importante fazê-lo, para que se escreva bem, ou muito bem. Já fiz noticiários para rádio, durante muitos e bons anos de serviço e lê-los aos microfones é muito bom, pois a grande maioria, não sabe fazer nem uma coisa, nem outra.

 

PJ – Faz também um programa na Rádio Lafões. Há quantos anos colabora com a Rádio Lafões?

FM – Atualmente faço 2 programas na Rádio Lafões em S. Pedro do Sul, aos domingos e 3ªs feiras, das 21 às 24 horas. É aquilo que eu mais gosto de fazer em termos de comunicação social, é o contacto e estar na companhia dos ouvintes e saber que estou a trabalhar e levar até todos eles aquilo que mais gostam, a sua música, poesia, saudades e também lembranças do passado e recordações da sua vida. Já trabalhei durante anos na Rádio Lafões (altura da pirataria). Deixei, com pena e fui para a Rádio de Vouzela, onde estive durante quase 25 anos e agora voltei à Lafões vai fazer 4 anos e estou muito bem.

 

PJ – Qual o sentimento que o domina quando faz um programa de Rádio, sabendo que chega a tantos ouvintes?

FM – É um sentimento enorme saber que se está frente a um microfone, muito equipamento à nossa volta e temos que transmitir aos ouvintes aquilo que nós sentimos no nosso coração e no nosso íntimo, com muito amor, carinho, dedicação, amizade, alegria, coragem, educação, êxitos, felicidade, humildade, liberdade sabedoria, trabalho, verdade e vida. Tudo isto deve fazer parte de um programa de rádio.

 

PJ – Muitas histórias terá guardadas durante todo o seu percurso de locutor de Rádio, tal como de jornalista da Gazeta da Beira. Quer partilhar connosco aquela que mais o marcou no seu percurso?

PM – Muitas histórias poderia aqui contar, mas há efetivamente duas ou três que me marcaram na minha vida de locutor e apresentador de programas de rádio. A época Natalícia marca sempre quem fala para os ouvintes, ou escreve. Neste caso, foram dois programas de rádio pelo Natal, em que eu pedi aos ouvintes ajuda para famílias carenciadas dos concelhos de Lafões (S. Pedro do Sul, Vouzela, Oliveira de Frades e Castro Daire). E… fui ouvido e levei o Natal a famílias carenciadas, para quem o Natal era uma época como outra qualquer, sem amor, sem carinho e tudo o mais. Desloquei-me à freguesia de Monteiras-Castro Daire, presenteando uma família muito numerosa, filhos pequenitos a viver miseravelmente, mas o Natal daquele ano foi diferente. Levei roupas, géneros alimentícios, roupas de cama, utensílios de cozinha e acima de tudo o conforto, as palavras de amor e carinho e presenciei, não só eu, mas quem me acompanhava nessa diligência, um cenário que nunca mais esqueci na minha vida. A alegria que consegui transmitir a esta família abandonada pela sociedade em geral. O mesmo aconteceu na freguesia de Alcofra-Vouzela e na freguesia de Serrazes, uma menina deficiente e que estava quase que permanentemente na cama, tinha apenas um carrito artesanal de madeira para se deslocar com a mãe às terras. E no concelho de Oliveira de Frades consegui que um amigo comerciante, que já não está entre nós, oferecemos um rádio a um homem deficiente e ficou feliz com o mesmo, pois já ouvia a rádio, neste caso Vouzela.

 

PJ – Que lições tirou desta marcante experiência?

FM – Uma lição de vida, pois devemos ajudar quem precisa e nós fazendo o bem, mais tarde ou mais cedo, seremos recompensados na nossa vida.

 

PJ – Tem algum ritual que faça antes de entrar num direto de Rádio?

FM – A simplicidade, a honestidade e pedindo a DEUS que nos ajude, é este o ritual.

 

PJ – O que é ser um bom profissional de Rádio?

FM – Ser um bom profissional de rádio, é ser humilde, educado, ser Homem com H grande, ser verdadeiro e muitos mais adjetivos para ser um bom profissional. A grande maioria dos trabalhadores, em empresas de rádio, não têm qualquer formação, é o que sai, bem ou mal, mas devemos saber distinguir o bom do mau. Eu tenho 3 cursos de rádio, animador de cabine e foi meu professor um Senhor da Rádio – Dr. Emídio Rangel – fundador da T.S.F. rádio e da SIC Lisboa. Aprendi muito com ele, pena já não estar entre nós. Ensinou-me a construir noticiários, a ler os mesmos e gravar spots publicitários e o mais importante a conduzir programas de rádio, com cabeça, tronco e membros, animador de cabine com responsabilidades. Nunca interromper as músicas falando a meio das mesmas, o que não acontece com muita gentinha mal formada, falam, falam, falam e nada dizem. E, ensinou-me mais: a preparar programas de rádio, não se deve entrar num estúdio de mãos vazias. Elaborar, antecipadamente, textos e as respetivas músicas que se vão passar, tendo a preocupação de ler antes os textos que se vão abordar, assim sim, é rádio. Também tive 3 cursos de jornalismo em Lisboa com o mesmo Senhor, para que pudesse escrever para um jornal ou uma revista, o que estou a fazer neste momento. Escrevo para a G.B. e revista de Valadares-S. Pedro do Sul – Ecos da Gravia. Há locutores de rádio amadores, sem qualquer formação para o efeito, a formação académica não é o suficiente, é preciso muito mais, saber transmitir aquilo que sentimos para os ouvintes e viver intensamente os programas, para que os ouvintes os vivam também connosco e se apaixonem pelos mesmos.

 

PJ – No seguimento da questão anterior, o que é ser um bom profissional ao serviço de um Jornal Regional?

FM – A resposta está dada na questão acima, é preciso ter um curso de Jornalismo e saber escrever, pois é um dom que já nasce com a pessoa e o curso a mim ensinou-me muitas coisas que hoje utilizo para a escrita da GB e Ecos da Gravia.

 

PJ – Acredita que a sociedade dá a devida importância ao setor da cultura?

FM – Suponho que não e muito menos os jovens que só sabem estar nos telemóveis, não falam com ninguém, não leem livros, é só jogos e Facebook. Temos uma juventude, futuros homens e mulheres do amanhã que, duvido muito deles jovens. Os miúdos vão para a escola de telemóveis, topo de gama, com 6 ou 7 anos. É o que temos. E quando se pergunta a um jovem, QUEM FOI O PRIMEIRO REI DE PORTUGAL? RESPOSTA: Dr. MÁRIO SOARES. Dá para pensar…

Mas ainda há pais que se preocupam com os filhotes e há dias apreciei uma cena no café: Uma Mãe entrou com o seu filho de 10 anitos, não mais e enquanto estavam à espera de serem servidos, o filho segredou qualquer coisa à mãe, eu não ouvi, mas pensei logo que estava a pedir o “telélé”. Qual o meu espanto, a mãe tirou um livro da carteira e deu ao filho e o mesmo começou a ler o livro. Fiquei deveras admirado e dei os parabéns à Mãe que me respondeu: “meu filho não precisa de telemóvel, nem o terá tão cedo, tem tempo, precisa de ler e estudar muito para ser um Homem”.

– Grande mãe!

 

PJ – Além da Rádio e do Jornal da Gazeta da Beira, que outras paixões nutre, que o completam enquanto pessoa?

FM – Sou um apaixonado pela música, ouço qualquer tipo de música, menos a Metálica. Tenho centenas de discos, LPs, 45 rpm, cassetes e CDs que eram da discoteca de meu Pai – Abel Morgado – e com toda esta música tenho deliciado os ouvintes da Lafões FM. Todos os programas são preparados antecipadamente.

 

PJ – Imagine a sua vida sem a Rádio e o Jornal, como seria?

FM – Não era a mesma coisa, faltava-me algo na minha vida, o contacto com os ouvintes e a vontade de viver e conviver, tudo isto faz parte da minha vida.

 

PJ – Apenas numa palavra, pode descrever-se?

FM – Feliz.

 

PJ – Para fechar esta entrevista, o que me diz o seu coração?

FM – Que posso fazer ainda muito mais por todos aqueles que precisam de ajuda nas suas vidas e estou ciente disso. Ainda recentemente participei e ajudei com amigos meus, na compra de uma cadeira de rodas elétrica, para uma jovem menina deficiente e residente em Viseu. A Segurança Social não estava lá. E vai receber essa cadeira no próximo dia 1 de março na cidade de Viseu. É assim que me sinto bem na minha vida.

 

PJ – Quero, em meu nome pessoal e em nome da Gazeta da Beira, dizer-lhe que foi uma enorme honra, Senhor Fernando Morgado! Desejo-lhe a continuação de um excelente trabalho e MUITO OBRIGADA!

Peço-lhe que deixe uma mensagem breve a todos os nossos leitores.

FM – Foi uma honra ter sido entrevistado por uma amiga do coração e que merece tudo na vida, com muito carinho, e que conheci recentemente e está a fazer um trabalho importantíssimo na G.B. Parabéns, Dr.ª Paula Jorge, o meu bem-haja.

Aos meus amigos leitores da GB desejo as maiores felicidades na vossa vida e se poderem levem os seus amigos e familiares a serem assinantes do vosso jornal, da vossa cidade e do vosso concelho S. Pedro do Sul, que é também o meu. OBRIGADO.

 

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