“Os sacrificados de Castro Daire” é o título da reportagem do Le Nouvel Observateur

Concelho é notícia internacional

“Os sacrificados de Castro Daire” é este o título de uma grande reportagem publicada no jornal francês, “Le Nouvel Observateur”. Um trabalho que reflete sobre as consequências das medidas de austeridade no Interior do País. Como revelamos em edições anteriores, duas jornalistas deste órgão de comunicação social estiveram em Lafões. Vieram em ao encontro de histórias de vida que a crise prejudicou. O resultado final já é público. A Gazeta da Beira dá-lhe, agora a conhecer os principais temas em destaque.

“Enfermeiros, cozinheiros, educadores… Eles deixam Portugal para a Suíça. Os seus credores têm Portugal como um exemplo que deveria inspirar a Grécia. Mas, em Castro Daire, pessoas pagam caro estes bons resultados económicos.” É esta a dicotomia expressa na reportagem do “Le Nouvel Observateur”. “Três anos de cortes nos funcionários públicos, nos salários, pensões, três anos de aumentos de impostos e privatizações” é este o preço a pagar pela fama de bom aluno. “Para ganhar o título de campeão da austeridade Europeia, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho não hesitou em emigrar seus desempregados”, pode ler-se.

Histórias reais, escondidas pelos números

São muitas as histórias que se cruzam. Em comum, a austeridade. Tiago, que vive com a sua avó, porque os seus pais foram obrigados a emigrar. Telmo que decidiu regressar ao cultivo das terras, apesar dos estudos superiores. Ou Dimas que abriu um restaurante na sua terra natal, mas o sonho virou pesadelo. O IVA e a desertificação de Castro Daire arruinaram a viabilidade de um negócio que ia correndo bem. Estes são só alguns exemplos retratados, nesta reportagem.

“Castro Daire está a morrer. Metade das bancas do mercado estão desertas, as lojas que resistem encontram-se entre os painéis “arrendamento” e “para venda”. Em cinco anos, seis escolas foram fechadas. No ano passado, foi o tribunal que colocou a chave debaixo da porta, enquanto o centro de saúde reduziu o seu pessoal. Em 2012, a renovação da estrada que serve as aldeias circundantes, incluindo Cabril, foi adiada indefinidamente.” Este é o reflexo recolhido pelo “Le Nouvel Observateur”. É a história por detrás dos números.

A análise dos especialistas

Os testemunhos de vida são, na reportagem, cruzados com testemunhos de especialistas. José Caldas, economista, membro do “Observatório da Crise” (programa de investigação universitária, lançado em 2012, para auscultar as consequências das políticas de austeridade), mostra-se reticente relativamente às mudanças do País. “Estamos a testemunhar uma transformação profunda do tipo de sociedade em que vivemos. Estamos a passar de um sistema baseado na solidariedade pública para um sistema baseado na assistência privada de uma economia social para a economia de caridade, fortemente influenciado pela Igreja Católica, como há cinquenta anos”, diz em declarações ao “Le Nouvel Observateur”, numa referência ao aumento massivo de pessoas que, sem alternativa, procuram, hoje, assistência em associações de solidariedade social.

O aumento progressivo do desemprego, em especial no Interior, também merece reflexão. “Em pequenas localidades do Interior, a Câmara Municipal, lojas, construção e obras públicas foram os maiores prestadores de emprego. Três setores afetados pela crise e pela austeridade “, explicou geógrafo Jorge Malheiros, ao jornal francês.

Hoje, Castro Daire é notícia Internacional, mas não por bons motivos. É notícia pelo desemprego que aumenta, pela emigração que se torna a única alternativa, por uma terra que, a pouco a pouco, se desertifica, por uma população que definha com a austeridade. Hoje, é essa a realidade que todos conhecemos e que o “Le Nouvel Observateur” captou. Aguarda-se o futuro.Redação Gazeta da Beira