O Brasil vai ter golpe!
Mário Almeida
O Brasil está a viver um momento muito melindroso, grave até, na vida da sua democracia recente.
A presidente(a) Dilma Rousseff, eleita democraticamente, corre o risco, mais que certo de ser destituída do cargo.
O Brasil, é sabido, tem uma classe política onde a corrupção é uma forma, ou melhor, é a forma de fazer política!
Naturalmente haverá quem escape a esta prática, mas serão poucos tendo em conta todas as notícias que nos vão chegando diariamente do outro lado do Atlântico. Encontrar um político que não seja corrupto é quase como encontrar agulha em palheiro.
Ainda assim, todos os políticos são eleitos com a bandeira verde e amarela do combate à corrupção.
O PT, Partido dos Trabalhadores, de Lula da Silva e Dilma Rousseff, não foi diferente de todos os outros. Porque fez sempre da sua bandeira eleitoral o corte com a corrupção e contra um sistema que alimentava políticos corruptos. Essa, corrupção, dizia o PT, impedia uma melhor distribuição pelo povo dos dinheiros gerados pela economia.
Sendo o PT um partido claramente identificado com as classes mais pobres e os “trabalhadores”, era de prever que pelo menos no que diz respeito à corrupção o partido não falhasse.
Mas falhou!
Diz o povo que “quanto maior é a espectativa, maior é a desilusão!” E foi isso o que aconteceu com o PT, com Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Mas será que podia ser de outra forma? Será que é possível um presidente governar sem recorrer a um esquema de pagamento de propinas? Creio que não!
O PT estava e está no poder com o apoio de vários partidos. O que torna já por si muito difícil o exercício da governação. Por outro lado, no Brasil o exercício da política não funciona como em Portugal onde existe alguma disciplina de voto em relação aos partidos, quebrada, ainda assim, em circunstâncias muito especiais. No Brasil cada deputado é dono do seu voto e apesar de haver também alguma disciplina partidária o deputado, em nome do interesse do seu estado, pode votar de forma diferente. O que abre caminho à disponibilidade de “venda” do seu voto.
Portanto, todo o sistema político no Brasil é construído para permitir o pagamento de “propinas”, como é chamado de forma carinhosa o pagamento de favores políticos. E o Partido dos Trabalhadores de Lula da Silva não fugiu a essa prática, tendo até alguns altos dirigentes do partido na cadeia por via disso mesmo.
Mas o que torna tudo curioso neste processo de destituição da presidente(a), é que Dilma Rousseff é dos poucos políticos no Brasil que não tem o seu nome envolvido em qualquer processo de corrupção. Ou como eles dizem, tem a “Ficha Limpa”!
No entanto, está a dias de ser destituída do cargo de Presidente da República por um grupo de pessoas que nada têm de limpo na sua ficha. Eduardo Cunha, Presidente da Câmara dos Deputados, que aceitou abrir o processo de votação do “impeachment” está acusado no célebre processo “Lava Jato”. Renan Calheiros, Presidente do Senado Federal do Brasil, que vai liderar o processo na Câmara Alta e que está também na lista dos sucessores à presidência, também está indiciado no processo de corrupção e Michel Temer, Vice-presidente e sucessor direto em caso de destituição da presidente, também está indiciado por corrupção.
Não tenho nenhuma simpatia por Dilma Rousseff, muito menos por Lula. Acho que Lula da Silva, apesar de ter tirado muita gente da pobreza no Brasil, limitou-se a distribuir dinheiro pelos mais pobres e não resolveu os problemas reais do Brasil, nem fez as reformas que o país precisava. No entanto, partilho da mesma opinião de muita gente de esquerda, e não só, que acha que Dilma Rousseff está a ser vítima de um golpe.
O Brasil parece fazer jus à tradição e leva o Carnaval e o Samba também para o poder. Aquela votação na Câmara dos Deputados que assistimos pela televisão foi um autêntico carnaval fora de época, e revelou bem a classe política que representa o povo brasileiro!
Fiquem bem!Redação Gazeta da Beira
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