O 25 de Abril nos corações lafonenses

Os 40 anos de liberdade não foram esquecidos na região

Ed654_Cineteatro_IMG_017240 anos depois, foi outra vez 25 de Abril. Em 2014, não houve revolução, mas houve memórias, exaltações e esperanças. São Pedro do Sul, Vouzela, Oliveira de Frades e Sever do Vouga, não foram indiferentes a esta efeméride. Homenagens, palestras, teatros, discursos… De diferentes modos, os quatro concelhos celebraram Abril e provaram que a revolução dos Cravos está bem presente nos corações dos Lafonenses.

São Pedro do Sul

25 de Abril, dia de homenagens

Em São Pedro do Sul, três homenagens marcaram  as comemorações do 25 de Abril. Jaime Gralheiro, Joaquim Ramalho e Correia de Campos foram agraciados pelo Município. Três homenagens distintas a três homens que, de formas distintas, levaram o nome de São Pedro do Sul além fronteiras. Como referiu Vítor Figueiredo no discurso, no Salão Nobre do Município, é com grande honra que o executivo homenageia “os ilustres conterrâneos” que “à sua maneira e em diferentes âmbitos, sempre souberam de igual forma, serem  Senhores dos senhores e serem dos servidores” e ajudaram a “cumprir os desígnios de Abril”, através da “Liberdade Civil”; o “Espírito Comunitário” e o trabalho em prol “do bem-comum”.

Cineteatro, oficialmente Jaime Gralheiro

O cineteatro de São Pedro do Sul tem agora nome próprio: Jaime Gralheiro. Uma homenagem que associa para sempre dois nomes que, até então, já eram indissociáveis. Jaime Gralheiro, no seu estilo inconfundível, mostrou-se satisfeito com a homenagem que peca por tardia. Como referiu, “Sinto-me feliz, porque até que enfim”. O encenador e dramaturgo sampedrense fez ainda referência ao trabalho feito “ao longo de mais de 50 anos”. Como acrescentou, “Eu tenho escrito um grande discurso virado para os meus conterrâneos, para os do teatro, para aqueles que comigo fazem da palavra gente”.

Vítor Figueiredo justifica a homenagem. Como defendeu,  Jaime Gralheiro é um “homem de Abril”; que exerce a “advocacia como profissão e ama o teatro com paixão”. Uma obra longa, “criativa e reflexiva pautada por valores de democracia e liberdade, envolvida na dinâmica associativa e nas artes teatrais, que levou São Pedro do Sul pelo mundo fora”.

A apresentação de Jaime Gralheiro esteva ao Cargo de Fernando Matos de Oliveira Baptista. O diretor do Teatro Académico Gil Vicente fez referência a um “Exercício de cidadania e comunicação”, no qual Gralheiro usou o “Teatro como Arena Cívica”. Na sua exposição, Oliveira Baptista louvou, ainda, o facto de o cineteatro ter sido preservado ao longo dos tempos, até porque “noutras cidades, espaços semelhantes foram destruídos”, sendo substituídos por “espaços brilhantes, mas sem alma”.

Nessa noite, no já Teatro Jaime Gralheiro, subiu ao palco o espetáculo “Arraia Miúda”, protagonizado pela Universidade Sénior. Mais um contributo de Jaime Gralheiro com casa cheia.

Um novo prémio de atletismo chamado: Joaquim Ramalho

Por motivos de doença Joaquim Ramalho, um dos fundadores do Clube de Drizes, não pôde estar a na cerimónia, foi um dos seus seguidores, o filho, que o representou. Num discurso emotivo, Carlos Almeida agradeceu a homenagem e prometeu lutar pela continuidade do Clube. As apresentações, couberam a Idalécio Teixeira que caracteriza Joaquim Ramalho como alguém “que muito deu ao desporto”; que sempre mostrou o “amor à terra”. Alguém que, muitas vezes, “abdicava da sua vida pessoal e profissional” em prol do clube. Vítor Figueiredo salientou “a determinação e voluntarismo necessários para conceber e desenvolver uma associação cultural e desportiva que ainda se mantém forte e ativa nos dias de hoje”.

O primeiro Grande Prémio de Atletismo realizou-se, no dia das homenagens. Logo pela manhã. Várias provas de atletismo, divididas por vários escalões, passaram pela cidade termal. Ao todo, estiveram em prova 280 atletas.

Medalha de Ouro a Correia de Campos

A Medalha de Ouro do concelho foi atribuída a Correia de Campos. Uma distinção motivada pela atuação do então ministro das finanças, que decidiu fixar em São Pedro do Sul um serviço de urgência básico. A iniciativa foi do anterior executivo e foi agora concretizada. No discurso, Correia de Campos recorda os tempos de governação. Como referiu, “Sinto que não fiz mais do que o meu dever, o dever de ser independente”. O antigo ministro explicou que tomou a decisão tendo como base, apenas, o parecer técnico da sua equipa.

Vítor Figueiredo elogiou a “sua postura institucional” e o da sua luta por uma “saúde em benefício de todos e que chegue a todos e em boas condições para todos”. Já José Duque, responsável pela apresentação de Correia de Campos, destaca “a sobriedade com que revela ser solidário” e caracteriza o antigo ministro como um “homem firme nas suas convicções, combativo, incansável no exercício de pedagogia, próximo de todos e sempre disponível para ouvir e ajudar a resolver problemas”.

A Gazeta recorda a luta contra a destruição do Cineteatro

Quem vê hoje o cineteatro Jaime Gralheiro, está longe de imaginar que tempos antes, este espaço esteve quase a ser destruído. Em 1989, como relata Paulo Quintela, na obra Lafões Terras e Gente (155 a 161 pg.) o espaço encerrou. Desde logo, houve mobilizações para o cineteatro voltar a abrir portas. Aquando das autárquicas, nesse mesmo ano, surge uma força política independente: Movimento Independente de Jovens Autarcas ( MIJA) que se propunha “a defender o território da nossa terra”. Essa proposta incluía, obviamente, a defesa do Cineteatro. Uma campanha que se distinguiu das demais que sai das urnas com a maioria dos votos.

Em 90, mais uma má notícia, o espaço de cultura ia ser substituído por um Centro Comercial. Em resposta, a Assembleia de Freguesia de S. Pedro do Sul decidiu, por maioria, expor a questão ao Instituto Português do Património Cultural e ao Instituto Português de Cinema.

A partir desse momento, foi declarada luta aberta pela defesa do Cine Teatro S. Pedro.

Recorrendo à mesma fonte pode ler-se, “O MIJA propôs a aquisição da Casa de Espectáculos à Assembleia Municipal e ganhou a proposta, mas “Agora menos de um mês volvido, este órgão deliberou o contrário” (Jornal “Público”, 9/8/1991). Há um aspecto importante a referenciar, é que nesta assembleia extraordinária os Presidentes das Juntas de Freguesia foram “chantageados”: ou votavam contra a aquisição ou então a Câmara Municipal cortava-lhes os orçamentos”. Nesta sequência, foi dado o curto período de 15 dias para se resolver o dilema, caso contrário a demolição era a certeza.

A pedido da Junta, o arquitecto Castanheira visita o cineteatro e elabora uma parecer técnico que “declara que o Cine Teatro S. Pedro não se encontrava em estado de ruína”. O documento rapidamente chegou às mãos da Câmara. Como relata Quintela, “O argumento camarário é derrotado, pois o “Nosso Cine” não estava em estado de risco e portanto não havia necessidade de ser demolido. A tese da demolição cai, assim, por terra.

Apesar de pelo palco do cineteatro passarem diversos espetáculos, a luta continuava. Reivindicavam-se obras, reivindicava-se que o cineteatro fosse adquirido pela Câmara, mas nem sempre o poder autárquico esteve na luta. Como recorda o autor, em “1994 é criada uma comissão para elaborar um projecto de recuperação para ser candidatável aos Fundos Comunitários. O projeto é enviado para Bruxelas…O projecto foi enviado através da edilidade, mas o resultado do concurso é negado pela própria autarquia”.

Só em 97 é que a luta chega ao fim, o Cineteatro é adquirido pela Câmara. Pouco tempo depois, iniciaram-se as obras. Como se pode ler: “A 29 de Outubro de 1997, a Câmara Municipal de S. Pedro do Sul em cerimónia pública, finalmente compra o edifício. Este acto foi forçado pela proximidade das eleições e pela polémica que se gerou à volta deste caso que podia pôr em risco a reeleição dos autarcas em funções”. Em 2014, o Cineteatro, agora Jaime Gralheiro, é um dos pontos de referência da Cidade de São Pedro do Sul.Redação Gazeta da Beira

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