Mário Pereira

Aeroshoppings

698_MarioPereiraOpiniao

A privatização dos aeroportos foi-nos vendida como um medida necessária para torná-los mais eficientes, mas os  efeitos práticos que começamos a sentir não me parecem que contribuam para tornar as viagens mais  fáceis e mais confortáveis.

Sem dúvida que para a empresa que comprou a ANA a vida está a correr bem. A primeira medida pós-privatização  foi o aumento das taxas aeroportuárias, pelo facto do tráfego ter aumentado, o que é, na verdade, matar dois coelhos com uma cajadada.

O aeroporto de Lisboa já era conhecido pelo seus espaços acanhados e por, na zona de acesso às portas de embarque,  o espaço que as lojas deixam livre para circulação dos passageiros ser mais acanhado que em qualquer centro comercial.

No aeroporto do Porto também já começaram as mudanças a favor dos donos  e contra os passageiros.

A primeira foi a introdução de pagamento do estacionamento junto à entrada e à saída o aeroporto. Certamente haveria pessoas que abusavam mas nunca tive problemas em parar para deixar ou recolher alguém, sendo que agora não há de facto mais espaço.

A segunda mudança é talvez ainda mais irritante.

Na zona de controlo dos passageiros são agora frequentes as bichas em que se demora uns bons minutos, mas em vez de melhorarem esta zona ampliando o número de máquinas de controlo de bagagens, o que fizeram foi alterar o acesso às portas de embarque de tal modo que, em vez de entrarmos no espaço aberto e amplo que antes exista, somos empurrados para dentro da loja da Duty Free.

Não contentes com esta alteração ocuparam a zona de embarque com mais  lojas, que tolheram os espaços de circulação e retiraram a visibilidade de algumas portas de embarque e até fiquei com a impressão que alguns dos espaços de espera junto dessas portas de embarque foram reduzidos para aumentarem as lojas.

Lembro-me do tempo em que o aeroporto do Porto era público e que quando passávamos o controlo chegávamos a um espaço amplo em que às vezes até havia concertos.

Este problema não é só português e hoje encontramos muito aeroportos internacionais em que somos tratados como consumidores e não como passageiros.

Há alguns dias no aeroporto de Amesterdão passei pela mesma cena. Um fila de vinte minutos para passar um controlo acanhado, mas logo à frente um espaço amplo está ocupado por uma perfumaria cuja renda deve ser mais útil à empresa que explora o aeroporto do que os seus perfumes aos passageiros.

O check in cada um que o faça em casa porque daqui a dias no aeroporto só haverá máquinas automáticas.

Em Lisboa e no Porto ainda não vi nenhum investimento para tornar as viagens mais agradáveis, tudo o que foi feito é para nos obrigar a gastar mais dinheiro e mais tempo.

As normas de segurança tornaram os controlos mais demorados mas em vez de aumentarem o número de máquinas e de controladores,  mandam-nos ir mais cedo e assim estando mais tempo no aeroporto temos de comer ou beber ou de ocupar o tempo a fazer alguma coisa e como parece que cada vez há mais pessoas que a única coisa que conseguem fazer quando não estão a trabalhar é comprar alguma coisa, tudo se conjuga para tornar a passagem pelos aeroportos um inferno.

A lógica dos aeroportos é simples: fazer as pessoas lá estarem o mais tempo possível porque isso é uma oportunidade para fazer negócios e ganhar dinheiro arrendando a lojistas espaços, que deveriam ser para circulação dos passageiros.

É evidente que quem explora os aeroportos está a usar os controlos de segurança para aumentar os seus negócios ainda que isso prejudique a segurança e o conforto dos passageiros.

Na mala não podemos levar uma pasta de dentes mas nos aeroportos a única coisa que não vi vender foram armas de fogo. Até carros já vi à venda em aeroportos.

Os gestores das empresas exploradoras estão interessadas no valor das ações e não propriamente em boas ações que tornem a vida de quem viaja mais fácil e por sua vez os reguladores parecem não regular grande coisa.

A missão de quem explora os aeroportos deveria ser conseguir que estivéssemos lá o menos tempo possível e não o contrário.Redação Gazeta da Beira

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