Manuela Tavares

Violência no namoro

UMAR apresentou estudo com resultados preocupantes

• Adriana Gomes, Cristina Bandeira e Manuela Tavares

A UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta inquiriu 4.652 jovens em escolas de diversas regiões do País, Porto, Braga, Coimbra, Viseu, Lisboa e Madeira. O estudo mostra que 68,5% dos jovens aceitam como natural, pelo menos uma das formas de violência na intimidade. A violência no namoro é um problema sério na adolescência, tendo repercussões na vida dos/as jovens.

A UMAR tem procurado sistematicamente conhecer junto dos/das jovens, quer as suas conceções acerca do que é ou não aceitável, quer as suas experiências de violência vividas nas relações íntimas.

Segundo declarações ao jornal Público Maria José Magalhães, presidente da UMAR e coordenadora do estudo, afirma “Na adolescência, achamos sempre que o amor romântico justifica tudo e os jovens defendem inúmeras situações com este ideal de que fazemos tudo por amor. Mas ele nunca pode justificar a violência”.

Uma das preocupações que resultam deste estudo é o facto de muitos/as jovens considerarem que não constitui violência as situações de insulto nas redes sociais e de revelação de imagens de intimidade. Legitimam comportamentos violentos em termos psicológicos: humilhação, controlo social (o caso dos telemóveis, a proibição de falar com amigos ou de vestir certo tipo de roupas). Ao não identificarem estas situações como não violentas abrem caminhos para a aceitação futura da violência em relações de intimidade mais permanentes nas vidas em comum.

É interessante verificar que nas sessões que o Projeto Capacitar para Melhor Intervir (CAMI) da UMAR realizou na escola de S. Pedro do Sul a 115 alunos e alunas do 10º ano, se notou que, nas características que os rapazes mais gostavam de ver nas raparigas, se situavam em serem “humildes” e “discretas”, para além de certos padrões de beleza como cabelos compridos e sensualidade. Por sua vez as raparigas gostavam de rapazes “meigos”, “engraçados” e “inteligentes”. Estas diferentes representações que rapazes e raparigas têm uns dos outros mostram também porque a aceitação de comportamentos de violência têm níveis elevados.

Ainda sobre o estudo realizado, mais de metade dos/as jovens que dizem já ter namorado sofreram algum tipo e violência no namoro: 18,5% violência psicológica; 11% controlo social; 7% violência sexual e 6% violência física. Realça-se também que 20% dos/as jovens dizem que já tiveram imagens de relacionamento íntimos nas redes sociais sem sua autorização.

Este estudo leva-nos a concluir a grande necessidade de sessões de prevenção nas escolas através da educação para a Igualdade e a Cidadania para que as mentalidades se venham a formar na perspetiva do respeito e igualdade, com capacidade crítica para questionar a violência e outras formas de abuso.

O núcleo da UMAR de Viseu, através do projeto CAMI tem realizado ações em muitas escolas do distrito e observado que estas têm sido bem sucedidas, pela grande receptividade demonstrada pelos/as jovens.

Em S. Pedro do Sul, em colaboração com a CPCJ e a Câmara Municipal, a UMAR colocou no atrium e escadarias da Câmara a exposição Cenas.Love, do Projeto Art Ways da UMAR Porto. Este trabalho fotográfico foi realizado por alunos/as da região do Porto integrados neste projeto. Numa das imagens pode ler-se “Homem de verdade não bate na mulher”.

Nas sessões realizadas na escola de S. Pedro do Sul obtivemos na avaliação final frases de alunos e alunas que sublinhamos: “Assuntos como este fazem-nos pensar, refletir. Fazem-nos pensar como queremos viver um relacionamento, fazem-nos crescer”; Amar é cuidar e não bater”; “Foi uma sessão bastante útil, em especial quando tiver um relacionamento; “Tudo começa no namoro, ao primeiro sinal de ataque devemos agir” “Amar não é controlar e todos devem ter o seu espaço,…”; “Devemos deixar a pessoa que amamos ser livre”; “Bater não é solução, no amor não há violência”; “Se alguém namora com outra pessoa é porque gosta dela e porque quer estar com ela, por isso não há razão para sentir ciúmes e magoar a pessoa, tanto fisicamente como psicologicamente”, “Com isto tudo aprendi que as mulheres e os homens merecem respeito mútuo, ou seja, terem os mesmos direitos e que afinal, as pancadinhas de amor também doem”; “Esta formação foi útil pois infelizmente no nosso país existe violência no namoro, e assim se existirem casos destes na nossa escola, as pessoas já ficam alertadas para o que devem ou não fazer numa situação destas”.

Muitas outras frases poderiam ser tiradas daquilo que alunos e alunas retiveram das sessões realizadas.

A UMAR Viseu pensa que vale a pena ir às escolas, estar com alunos/as e docentes nesta batalha pela Cidadania e Igualdade.

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