Manuel Silva

Pão e circo

No império romano, praticava-se a polítca de pão e circo. O circo, que incluía espectáculos de luta de gladiadores até à morte ou leões esfomeados devorando cristãos, geralmente era dado ao povo quando faltava o pão.

A rainha Maria Antonieta dizia: “se não há pão para o povo, dêem-lhe brioche”. Passado pouco tempo eclodia a Revolução Francesa de 1789 e Maria Antonieta morria na guilhotina.

O Império Romano teve o seu fim há muitos séculos.-

Passados 2000 anos, continua a haver quem, no poder, em sentido próprio ou figurado, use o circo quando não há pão.

Circo pode ser o “milagre económico” propagandeado pelo governo de António Costa, que se deve mais a condições externas que internas, bem como ao esforço de empresários e trabalhadores.

Toda a política económica do actual governo é contrária ao aumento do crescimento, senão vejamos: onde está o aumento do investimento público? A carga fiscal é das mais elevadas da Europa. Assim sendo, como cativar investimento estrangeiro, pois o capital nacional é muito escasso? O salário mínimo e as pensões de reforma mais baixas aumentaram nos últimos anos, o que está certíssimo. Mas onde está a melhoria do poder de compra para o resto da população? Não basta ter acabado com impostos extraordinários impostos pela troika e os seus lacaios Passos Coelho e Paulo Portas. É caso para perguntar ao resto da população: tendes melhor poder de compra que há 3 anos? Este circo é uma cortina de fumo que esconde a escassez de pão.

Circo é também a adopção por autarquias de atitudes popularuchas relativamente a sectores que garantem vitórias eleitorais como meio de esconder aquilo que é o seu dever, como seja, a manutenção das vias de comunicação e a limpeza das respectivas bermas, ou gastarem dinheiro em festarolas pimba, passadas em programas televisivos ofensivos do bom gosto e estupidificantes das populações.

Circo é utilizar o mundial de futebol e a genealidade de Cristiano Ronaldo ou Rui Patrício, mais como forma de esconder a mafia em que se transformou o futebol do que exultar o patriotismo desportivo. A imprensa, nestes dias, por acaso, tem dado destaque às suspeitas da prática de crimes nalguns dos principais clubes portugueses ou à violência das claques desportivas que o poder político não tem capacidade para proibir? Certo é que também a oposição não tem a devida coragem para promover medidas nesse sentido.

Circo é o acordo entre a Coreia do Norte e os EUA, sem qualquer calendarização das medidas acordadas entre dois loucos narcisistas como são Trump e Kim Jong Un. Nas últimas décadas, “acordos” do género foram celebrados entre aqueles países e violados pouco depois. Nessa altura, a América era governada por gente ajuizada e crente nos valores da democracia, da liberdade e dos direitos humanos…

Circo é a maioria do grupo parlamentar do PSD, que não é social-democrata, mas da alt-right (direita radical), ali pontificando apoiantes do reaccionário Trump, condenar um putativo acordo com o PS para a passagem do OE-2019, caso a “geringonça” não se entende na matéria. Desconhecem que, caso o Orçamento não passe e haja eleições antecipadas, o PS poderá ganhar as mesmas com maioria absoluta?

A direita radical, herdeira de Passos Coelho e Portas, tem sido uma aliada do PS no tocante a conflitos sociais. Também pretenderá dar a maioria a este partido nas próximas legislativas? Com que preço? O futuro o dirá…

Tal como o Império Romano e Maria Antonieta, estes actores circenses cairão um dia com grande estrondo. E, atenção, o autor destas linhas já foi, mas não é, antes pelo contrário, defensor de finalismos históricos. Como o grande social-democrata alemão, Eduard Bernstein, para mim, “o movimento é tudo, o objetivo não é nada”.

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