Manuel Silva

PS pretende descartar PCP?


Aquando da discussão da recente moção de censura ao governo apresentada pelo CDS, numa resposta ao Bloco de Esquerda (BE), o primeiro-ministro António Costa afirmou: “o PS e o BE ainda não têm maioria nesta Assembleia”. Pouco tempo depois, estes dois partidos fizeram um acordo que permite a governabilidade de Lisboa, deixando de fora o PCP, que obteve mais votos que os bloquistas.

Nas últimas autárquicas, o PS engoliu importantes fatias de eleitorado do PCP e do BE. No entanto, o primeiro destes partidos mostrou ter uma base social de apoio muito mais robusta que o segundo. Então, porquê esta atracção dos socialistas e do governo pelo Bloco de Esquerda?

Há várias razões para António Costa, o seu governo e o seu partido assim procederem.

1º – O PCP, após o recuo que teve nas últimas eleições autárquicas, desencadeou e planeia desencadear várias lutas e greves, através da CGTP: entre enfermeiros, professores e, muito especialmente, a greve da função pública realizada no passado dia 27 de Outubro, como forma de pressão sobre o governo e de recuperação do seu eleitorado.

O PS sabe bem que o partido de Jerónimo de Sousa só mantém o apoio ao governo para que o PSD e o CDS não regressem. Imaginemos o que diriam os comunistas sobre os incêndios se estivessem na oposição…

2º – Perguntará o leitor: mas o BE não é mais radical que o PC? As organizações que estiveram na sua origem não provinham da extrema-esquerda maoista, trotskista, pró-albanesa, após o corte de Enver Hodxa com o maoismo? Provinham, sim, mas compare-se o discurso do BE com o da UDP ou do PCP(R),  por exemplo. Enquanto estas organizações tinham uma forte componente operária, camponesa e sindical, o Bloco é um partido tipicamente urbano e característico do chamado radical chic. Quantos operários fazem parte da sua direcção? As caras suas representativas fazem parte da pequena burguesia, outrora radical, mas hoje moderada. Francisco Louçã, quando era líder do BE, há alguns anos, dizia ser o mesmo “um partido socialista não revolucionário”.

3º- Retirando as causas fracturantes e a defesa de minorias, a ideologia política bloquista pode ser endossada por qualquer pessoa da ala esquerda do PS, a qual, aliás, controla este partido.

4º – O BE ambiciona o poder e cada vez demonstra mais estar disposto a fazer cedências aos socialistas para que tal aconteça.

5º – O PS vai procurar ganhar as próximas legislativas com maioria absoluta, mas poderá não a obter por pouco, como aconteceu duas vezes sucessivas sob a liderança de António Guterres. Caso o PSD escolha Santana Lopes para a sua liderança, a possibilidade de os socialistas ganharem com maioria é grande. O mesmo não acontecerá se o PSD regressar à social-democracia reformista, com Rui Rio. Aí, as eleições legislativas de 2019 serão renhidas. Basta que as medidas tomadas contra as grandes empresas, a nível fiscal, no OE-2018, afastem o investimento, provocando reflexos económicos, financeiros e sociais.

6º – O PCP continua coerente com o que sempre defendeu. É esse o “segredo” para a força que ainda mantém. As suas bases não pretendem a mudança.

O PS escolheu o BE como futuro parceiro. O PCP não deixará de aguentar o governo até ao final da legislatura, mas tentará provocar desgaste no mesmo. A paz social dos anjos terá terminado, o que poderá beneficiar o PSD, caso corte com o austericídio passista.

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