Manuel Silva

O inesperado sucesso de Jeremy Corbyn

As melhores votações do Partido Trabalhista Britânico foram obtidas quando Tony Blair era seu líder, tendo conseguido três maiorias parlamentares absolutas seguidas, o que nunca tinha acontecido antes nem voltou a acontecer depois.

Passados vários anos, ainda que não tenha ganho as recentes eleições legislativas britânicas, o Partido Trabalhista obteve 40% de votos (menos 2% que o Partido Conservador, que teve uma vitória com sabor a derrota, pois perdeu a maioria absoluta).

Enquanto Tony Blair governou com sucesso, melhorando o nível de vida da maioria das pessoas, em consequência do crescimento económico acompanhado de distribuição da riqueza e do reforço dos serviços públicos que a conservadora Thatcher deixou numa situação caótica, com um programa a que chamou “terceira via”, uma junção do melhor do capitalismo e do socialismo, semelhante ao projecto de Sá Carneiro para Portugal, desenhado mais de 20 anos antes, Jeremy Corbyn apresentou-se a estas eleições com um programa vincadamente de esquerda, idêntico ao dos anos 60 e 70 do século passado.

O Partido Trabalhista defende a renacionalização dos caminhos de ferro e dos correios, um serviço nacional de saúde e um ensino universitário totalmente gratuitos.

Particamente toda a imprensa inglesa e estrangeira afirmava defender Corbyn ideias falhadas e utópicas nos dias que correm, logo estaria condenado ao insucesso. No entanto, obteve um muito bom resultado. Porquê?

Embora o Estado deva promover o investimento público para animar a economia e manter alguns sectores económicos na sua posse, especialmente os que tenham a ver com as riquezas naturais, o “Labour” defende um programa que se fosse totalmente aplicado, teria maus efeitos económicos, financeiros e, consequentemente, sociais. Políticas que pôs em prática idênticas a estas, levaram a que em 1979 fosse derrotado pelos conservadores, liderados por Margareth Thatcher, os quais estiveram 18 anos no governo.

O que determinou este sucesso de Corbyn e do “Labour” não foi apenas a má campanha ou a arrogância de não debater com nenhum dos seus adversários, de Theresa May, mas as políticas conservadoras, que aumentaram a pobreza e emagreceram a classe média, à semelhança de toda a direita europeia, que há muito deixou de ser social, defendendo o crescimento económico assente em baixos salários, aumento dos horários de trabalho, retirada de direitos aos trabalhadores, etc, em nome da “competitividade”.

Theresa May seguiu a lição da sua antepassada na direcção do Partido Conservador e do governo, Thatcher, que apesar de melhorar as condições de vida para grande parte dos britânicos, deixou um enorme rasto de pobreza, perante a qual era insensível e incentivou o egoísmo e o desprezo por quem não foi capaz de subir na vida.

Se com Thatcher, apesar de todos os defeitos anteriormente mencionados, a maioria das pessoas passou a viver melhor, com Theresa May deu-se o inverso. Não foram apenas  pobres, desempregados e operários, base social de apoio tradicional dos Trabalhistas, que lhes deram 40% de votos, mas também parte considerável  da classe média.

Mais de metade dos britânicos repudiaram Theresa May, que já se deveria ter demitido de primeira- ministra, tal como prometeu na campanha eleitoral que o faria caso perdesse a maioria. Esta senhora, além de servir magnificamente o país britânico de cima contra o país britânico de baixo, é uma mentirosa, no que denota grandes semelhanças com os seus amigos da direita portuguesa.

40% dos eleitores quis Corbyn como primeiro-ministro. Defende um programa anacrónico, mas era a alternativa à injustiça social da direita. Como diz o nosso povo, aqui está mais um “abre olhos” para as forças moderadas, não só na aplicação de políticas nacionais, mas também numa reforma da UE, tornando-a mais social e onde todos os países sejam tratados de igual forma, como queriam os pais fundadores da CEE há 60 anos.

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