Manuel Silva

O governo chegará às autárquicas?

698_ManuelSilvaOpiniaoApós ter dito, em tom de “brincadeira”, ser o primeiro-ministro um optimista irritante, o Presidente da República afirmou: ”o governo chegará às eleições autárquicas. Depois, logo se vê”.

A principal manchete da edição do jornal “Expresso” do passado dia 28 de Maio referia não confiar Marcelo Rebelo de Sousa nas contas de António Costa. Alguém fez chegar tal informação àquele semanário, que não se pauta propriamente pela criação de factos políticos, dos quais tire partido. A “lua de mel” entre o PR e o PM já conheceu melhores dias.

O governo de António Costa repôs salários e pensões de reforma e aumentou o salário mínimo, pelo que a sua popularidade é crescente, como demonstram todas as sondagens e o fim da tensão social observada aquando da vigência do governo PSD/CDS.

Passado meio ano sobre a posse do governo de António Costa, a chamada geringonça tem funcionado bem, mas, como diz uma velha frase feita, “não há bela sem senão”. A economia encontra-se anémica, o desemprego mantém-se elevado, as exportações baixam, não há investimento, o défice e a dívida pública dão sinais de crescimento, o que justifica as preocupações presidenciais mencionadas no “Expresso”. A continuar esta situação, o mais certo será acontecer uma derrapagem das contas públicas até ao final do ano.

Se a economia não arrancar, as metas do défice e da dívida pública não serão atingidas. As instituições comunitárias obrigarão o governo a adoptar medidas extraordinárias e impopulares de “ajustamento”. O que fará o executivo de Costa? Com toda a probabilidade, cederá às pressões europeias. O PCP, o BE, os Verdes e a CGTP aceitarão tal cedência só porque não querem o regresso da direita ao poder? As suas bases sociais de apoio estarão dispostas a aceitar mais austeridade e empobrecimento? Se se confirmar este cenário, que se mostra muito provável, o actual governo poderá nem chegar às eleições autárquicas.

O mais certo será, então, decorrerem eleições legislativas antecipadas ainda antes das autárquicas, pois falhando a solução que permitiu ao PS, apesar da derrota obtida em 4 de Outubro do ano passado, formar governo, não haverá nenhum bloco central. Assim, a contestação já hoje visível a António Costa em certos sectores do PS, destacando-se entre os críticos Francisco Assis, aumentará e os socialistas só poderão sair vitoriosos em tais eleições se assumirem uma postura mais moderada e reformista, ocupando o centro e procurando a partir daí conquistar o essencial dos votos da esquerda, no que terão um bom auxílio de Passos Coelho e do PSD, cada vez mais à direita, e que a maioria das pessoas não quer de regresso, sozinhos ou acompanhados do CDS e de Assunção Cristas.

Dentro do PSD também se verifica um crescente descontentamento relativamente a Passo Coelho e restante direcção, das mais fracas de sempre. Se os críticos ousarem avançar e conquistar a direcção do partido, tornando-o novamente no partido social-democrata que já foi, reconhecerem ter sido a austeridade entre 2011 e 2015 injusta, porque penalizadora apenas das classes mais desfavorecidas e médias, as quais deram, no passado, grandes vitórias ao PSD, mostrarem que a mobilidade social, conjugada com a igualdade de oportunidades, poderá significar novamente ascenção e não descida, como se viu durante o consulado passista, não só a polarização política se voltará a fazer a partir do centro como o seu partido poderá vencer eleições antecipadas e efectuar as necessárias reformas para tornar Portugal um país mais produtivo, competitivo e socialmente justo, dentro da lógica inter-classista que sempre vigorou no PSD até à sua recente viragem à direita. PS: a polémica em torno dos contratos de associação entre o Ministério da Educação e 3% dos colégios privados mostrou que os “nossos” liberais são o são para pagar menos impostos ou comprar empresas privatizadas a preço de saldo. Quando toca a receber rendas do tão abominado “Estado omnipresente”, metem o liberalismo na gaveta. Na América de que tanto gostam, o Estado não subsidia o ensino privado. Quem o faz são mecenas e fundações privadas. E não venham com a chamada liberdade de escolha, pois as escolas privadas também escolhem e rejeitam alunos. Irão aceitar alunos provenientes de minorias étnicas, de famílias complicadas ou de bairros degradados? Não, mas a escola pública tem de os aceitar.  Aliás, nas universidades privadas americanas de elite, mais de 70%  dos seus alunos são ricos, 9% são pobres e cerca de 20% pertencem à “midle class”, como afirmou há algum tempo Joseph Stiglitz, prémio Nobel da economia e professor na Universidade de Columbia. Quem disse ser a direita portuguesa a mais estúpida do mundo? Álvaro Cunhal, Francisco Louçã, Arnaldo Matos? Não, foi o actual PR Marcelo Rebelo de Sousa.Redação Gazeta da Beira

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