Manuel Silva

QUO VADIS, RUI RIO?

Recentemente e a propósito das medidas de combate à covid-19, o líder do PSD, Rui Rio – dizer que é o líder da oposição é, no mínimo, absurdo – afirmou: “era o que faltava, estarmos a preocupar-nos com inconstitucionalidades numa crise”. A imprensa, vá-se lá saber porquê, não deu importância ao assunto, mas aquelas afirmações são graves num político que se diz social-democrata. É a velha lógica dos ditadores: trocar a liberdade por segurança, quando ambas são compatíveis. Salazar dizia coisas parecidas, por exemplo, que o povo português não estava preparado para a democracia. Enganou-se, pois tanto estava preparado para o actual regime, que, no PREC, lutou contra os que queriam impôr uma ditadura de sinal contrário e, até agora, votou sempre nas forças moderadas, rejeitando partidos como o novo aliado dos laranjas, o Chega.

Embora diga estar a criar uma alternativa política ao PS e até tenha apresentado algumas propostas e ideias nesse sentido, na prática, tem sido um seu aliado. Se é certo que a luta contra a pandemia é um desígnio que deve envolver todos os partidos, há imensas críticas que Rio poderia fazer a este governo desgastado e não faz. Quem ainda não viu que António Costa e os seus ajudantes, como diria o Aníbal de Boliqueime, nesta batalha, estão desorientados e actuam casuisticamente?

Numa entrevista televisiva realizada no Verão passado, Rui Rio disse que, na alternativa ao PS, caberia o Chega do reaccionário e xenófobo André Ventura, que, por acaso, até iniciou a sua actividade política no PSD, se o mesmo se moderasse. Foram dois tiros em ambos os pés. O Chega nasceu como partido de protesto e aproveitador da desconfiança popular face à actual classe política. Caso se moderasse, desapareceria.

Nas últimas eleições regionais nos Açores, o vencedor foi o PS, o qual perdeu a maioria, tendo a chamada esquerda ficado em minoria no parlamento. O PSD regional, com o apoio do nacional, negociou uma geringonça com os partidos à sua direita, tal como o PS fez em 2015, com o PCP e o BE, para derrubar o governo Passos – Portas e conduzir o maior derrotado daquelas eleições, António Costa, a primeiro-ministro.

Foi formado um governo regional chefiado por José Bolieiro, líder açoreano do PSD e vice-presidente da sua Comissão Política Nacional, que, além do seu partido, irá integrar o CDS e o PPM.

Dizem os responsáveis regionais e nacionais do PSD que é a reconstituição da AD (Aliança Democrática), liderada por Sá Carneiro, em 1979. Não é verdade. A AD não era uma frente de direita, mas um bloco reformista, que ia do centro-esquerda ao centro-direita, incluindo os dissidentes socialistas do Movimento Reformador. Na altura, na extrema-direita, existiam o PDC e o MIRN. Sá Carneiro e os seus parceiros da Aliança Democrática não quizeram nada com tal gente.

Nos Açores, como aqueles três partidos não tinham maioria parlamentar, fizeram um acordo com o Chega, que, sem fazer parte do governo, apoia o mesmo no parlamento. Uma das condições para tal acordo foi diminuir os apoios sociais na região, logo quando a economia passou e irá passar ainda mais por um grande retrocesso. Isto é que é social-democracia?!

Com esta atitude, Rio e o PSD legitimaram politicamente um partido anti-democrático, mostrando ao mesmo tempo que o que interessa é o poder, seja como fôr, sem ética nem princípios. Certamente que tudo isto terá consequências na política nacional. O PSD voltou a ser, tal como no tempo de Passos Coelho, um partido de direita, conciliador com a direita anti-democrática.

Perante esta situação, espera-se que os críticos da mesma, procurem arranjar outro líder e uma política coerente para o PSD. Caso contrário, os verdadeiros sociais-democratas deste partido terão que escolher outro lugar onde defender a sua ideologia e o legado de Francisco Sá Carneiro.

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