Manuel Silva

A INFERIORIDADE INTELECTUAL DE DIRIGENTES DO CDS

Recentemente, o eurodeputado Nuno Melo, do CDS, escreveu um artigo, no qual afirmava que a comunicação social e o país estavam dominados pelo marxismo cultural.

Citando o próprio Karl Marx, disse que “a ideologia dominante é sempre a ideologia da classe dominante, em cada período histórico”. Assim sendo, como Pacheco Pereira, em tom jocoso, respondeu a Nuno Melo, “estamos na ditadura do proletariado, os operários tomaram o poder e vivemos numa sociedade a caminho do comunismo”. E é este um dos “nossos” representantes no Parlamento Europeu…

Se Nuno Melo se enrolou e espalhou ao comprido com as suas contradições, em entrevista realizada pouco tempo depois, o homem que é o protótipo do yuppie e do betinho, Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, mostrou, à semelhança do seu companheiro de partido, a sua inferioridade intelectual e ignorância sobre o chamado marxismo cultural.

Quando o entrevistador perguntou a Francisco Rodrigues dos Santos que dissesse o que era o marxismo cultural, respondeu, entre outras coisas, “o subjectivismo, o individualismo, o relativismo, a falta de solidariedade e de amor intergeracional”. O Chicão não percebeu mal a pergunta, certamente, é um ignorante do ponto de vista político. O que disse faz parte do neo-liberalismo.

Margareth Thatcher, por quem o CDS nutre enorme admiração, é que tinha uma perspectiva subjectivista, individualista e egoísta sobre a sociedade. Mais: chegou a dizer que “a sociedade não existe, mas famílias e indivíduos”. Com estas ideias levadas à prática, criou o que nos anos 80 se chamava “o me generation”, a geração do “eu”, os outros, cada um que se amanhe. Toda esta política conservadora inglesa conduziu ao hedonismo e ao deslaçamento social.

Thatcher teve o desplante de afirmar, numa entrevista realizada à volta de 25 anos, que ainda guardo, “que saudades deixam hoje os yuppies!”. Nessa altura, os meninos lindos de Margareth Thatcher encontravam-se na cadeia, a cumprir, e muito justamente, longas penas de prisão, por roubarem, burlarem e praticarem outras patifarias em Wall Street, rebentando com a bolsa, o que provocou uma enorme hecatombe nas bolsas dos outros países, incluindo Portugal. Muitos yuppies, sabendo o que os esperava, suicidaram-se.

Álvaro Cunhal falava da superioridade moral dos comunistas. Esta é a hipocrisia moral dos conservadores.

A falta de solidariedade e de amor intergeracional foram apanágio do último governo em que esteve o CDS, chefiado por Passos Coelho. Atenção, que, na altura, este já não pertencia à UEC e ao PCP, era da alt-right (direita dura), a mesma de Francisco Rodrigues dos Santos e André Ventura.

Se quer conhecer o marxismo para melhor combater as suas ideias, Chicão deverá ler “O Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels”, a “Guerra Civil em França”, o “18 do Brumário de Luis Bonaparte” ou “O Capital”, de Karl Marx, “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, de Frederich Engels, “O Estado e a Revolução”, de Lenine, as citações de Mao Tsé Tung, entre outros. Se o fizer, não porá mais os conhecedores de tal matéria a rir-se à sua custa.

Nessas obras Chicão poderá verificar que o marxismo é o inverso do que afirmou. Não existe individualismo, mas colectivismo, o individual está submetido ao colectivo. Ali não há qualquer relativismo. Mais: num partido comunista, um militante tem o direito de exprimir divergências no partido, mas, segundo o centralismo democrático, na concepção leninista do partido, a minoria submete-se à maioria e fora da organização nenhum militante tem posições pessoais, divulga o que o partido decidiu.

É lamentável que o partido fundado por Freitas do Amaral e Amaro da Costa, posteriormente liderado por Lucas Pires, Adriano Moreira, Manuel Monteiro ou Paulo Portas, todos pessoas com uma sólida formação política e cultural, tenha caído nas mãos destes ignorantes, o que poderá levar o CDS a nem sequer eleger deputados em posteriores eleições, o que beneficiará claramente os populistas de extrema-direita do Chega.

A que pobreza chegou boa parte da política portuguesa !

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *