Manuel Silva
O CAPITALISMO PRETENDE SOBREVIVER?
O CAPITALISMO PRETENDE SOBREVIVER?
Quando foi sabido que, contrariamente ao afirmado pelo governo e o governador do Banco de Portugal, o BES atravessava uma grave crise que levou ao afastamento da instituição de Ricardo Salgado e restante administração e à nomeação para a mesma de uma nova equipa liderada por Vitor Bento, a qual, por sua vez, se demitiu passados cerca de dois meses, num só dia depositantes do “banco do regime” levantaram duzentos milhões de euros. Esse dinheiro foi transferido para o único banco público, a CGD, o que demonstra grande falta de confiança nos outros bancos privados.
Durante o PREC todos os bancos foram nacionalizados, bem como parte importante das grandes empresas. O resultado das nacionalizações foi muito prejudicial em termos económicos e sociais.
O sistema económico- financeiro herdado da época revolucionária esteve, em boa parte, na origem de dois recursos a empréstimos do FMI.
Após a revisão constitucional de 1989, o país, independentemente de os governos serem do PSD, do PS, e do CDS como segundo partido de alguns executivos, enveredou pela economia de mercado. À excepção da CGD, todos os bancos foram privatizados.
Em toda a Europa Ocidental, a economia de mercado, que não exclui a participação do Estado em sectores fundamentais, acompanhada de uma forte componente social implícita no Estado-Providência, foi fundamental para o crescimento económico e o desenvolvimento social. Este, entre outros factores, contribuiu para que a maioria dos portugueses se identificassem com as democracias ocidentais e repudiassem a economia de direcção central e o proteccionismo de certa direita como a que governou o país anteriormente ao 25 de Abril.
Hoje, boa ou mesmo a maior parte dos nossos compatriotas não vê com bons olhos a actividade financeira privada, já para não falar da desregulamentação neo-liberal. Por outras palavras, o capitalismo como sistema económico é cada vez mais visto com “maus olhos”. O que se passa em Portugal ocorre em muitos outros países de capitalismo democrático. Porquê?
A crise vivida por toda a parte, a qual teve origem na financeirização da economia e abandono da produção (a economia de casino), na globalização cavadora de injustiças e desigualdades sociais, não só nos países do terceiro mundo, onde se trabalha 12 e 14 horas por dia sem direitos sociais, mas também nos EUA e na Europa, onde se cortam direitos centenários dos trabalhadores, na desigualdade na distribuição de rendimento, cada vez mais favorável ao capital, no abandono dos pobres à sua sorte, especialmente após a aplicação das teorias de Reagan e Thatcher, na austeridade, no economicismo, nas vigarices de alguns empresários e banqueiros, está na origem do repúdio do capitalismo actual, o que, por sua vez, provoca o avanço da extrema-direita e da extrema-esquerda, como se viu pelos resultados das últimas eleições para o Parlamento Europeu.
Como dizia Marx, “a História repete-se, não como tragédia, mas como farsa”. A mesma História está a dar-lhe razão neste e em outros aspectos. Não lhe deu razão, nem a Fukuyama, quanto ao finalismo histórico.
Se o capitalismo quer sobreviver terá que se sujeitar à sua regulação pela democracia e o Estado de Direito, bem como adoptar um rosto humano, como aconteceu entre a II guerra mundial e o fim da guerra fria. Caso persista na actuação presente, será totalmente desacreditado e implodirá mesmo. O que virá a seguir poderá ser bom ou não.Redação Gazeta da Beira
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