Luís Pinheiro de Almeida

Baptismo de voo para Paris

Baptismo de voo para Paris

A minha primeira viagem ao estrangeiro coincidiu com o meu baptismo de voo: foi nas férias da Páscoa de 1970, tinha 22 anos, uma viagem organizada pelo Turismo Universitário (SIAEIST – Secção de Intercâmbio da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico) que me credenciou com um cartão internacional de estudante que me deu algumas vantagens, como entrada gratuita em museus.

O meu fito até nem era Paris, cidade pela qual nem sentia grande apreço.. O massacre a que fui submetido no Liceu pela cultura francesa deixara-me enjoado. Com o aparecimento dos Beatles em 1962, eu queria mesmo era mergulhar na nova cultura anglo-saxónica e Londres era o último destino desta viagem.

O excitante do baptismo de voo é o levantar e o aterrar. Boas sensações. O resto é uma seca: espaço fechado, comida horrível! Felizmente que ainda se podia fumar e que eu próprio ainda fumava, Português Suave sem filtro. Olhar cá para fora é mentira também, não se vê nada.

Hoje em dia, considero-me um “produto de Maio de 68”, imagine-se pois a excitação de visitar, apenas dois anos depois, em 1970, um dos palcos mais importantes dos acontecimentos na cidade-luz.

Não liguei muito, com raras excepções (até porque só lá estive uma semana), aos ex-libris turísticos. Preferi os lugares emblemáticos da revolução dos estudantes, como o Quartier Latin, Boulevard Saint Michel e Sorbonne.

Fui à Torre Eiffel, claro, aos Campos Eliseos e também ao Museu do Louvre, mas onde gastei mais o meu tempo foi, de facto, no Quartier Latin e arredores, “viver a revolução”.

Do magro orçamento estudantil de que dispunha, parte ficou na Maspero e na Que Sais-Je? (PUF – Presses Universitaires de France). Alguns dos livros que adquiri (que ainda guardo) diziam respeito a Jornalismo, já naquele tempo, três anos antes de iniciar profissionalmente a actividade na ANI (Agência de Notícias e de Informação, de Dutra Faria).

Claro que dei uma escapadela às Galerias Au Printemps (não havia nada do género em Portugal), onde – lembro-me bem – comprei um “poster” gigante de Ho Chi Minh, que tive de deixar em Londres, nas minhas cunhadas, por ser impossível trazê-lo para Lisboa.

Uma das impressões que guardo com mais precisão, por ser inóspita, é que num restaurante em Saint Michel tive de pagar para ir à casa de banho.

Só voltei a Paris mais uma meia dúzia de vezes, todas em viagens profissionais, excepto uns escassos dias da Páscoa de 1990 com os meus filhos menores, João Pedro e António Luís, que em Lisboa frequentavam o Liceu Francês. Nessa sim, passeámos um pouco pela cidade, lembro bem da felicidade do mais novo, António, que deixou na Torre Eiffel uma marca sua, uma fatia de queijo para “alimentar futuros pacientes”. Hoje em dia, o António é veterinário, bem como o irmão mais velho, João.

No dia 11 de Dezembro de 1989, voltei a Paris (ir num dia e regressar no outro) para um concerto dos U2 com BB King  no Palais Omnisports (Paris Bercy) para promoção do álbum “Rattle And Hum”. Na memória, fica-me o gesto do bom Rui Ferreira, nosso guia da EMI-Valentim de Carvalho que, tendo bilhetes-extra, os ofereceu à entrada a quem não tinha, não caindo na tentação de os vender na candonga.

A viagem de 15 de Outubro de 1994 também foi épica: entrevistar Jimmy Page e Robert Plant, dos Led Zeppelin, que estavam a promover o álbum “No Quarter”. Só esta entrevista dava para preencher um artigo, mas não há espaço.

Resta-me só assinalar que tive a honra de ter sido Jimmy Page que  me ensinou a manusear o gravador de mini-disc, que estreava.

Outra feliz visita a Paris ocorreu no dia 13 de Outubro de 1995 para uma entrevista/conversa com Bryan Ferry no Lancaster Hotel, o seu hotel preferido na capital francesa, um edifício do séc. XIX nos Campos Eliseos.

O pretexto foi a promoção de uma colectânea de êxitos com o nome de “More Than This”, uma das mais esbeltas canções da Roxy Music.

(continua)

29/04/2021


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