João Semana

Sobre a saúde e o dever pessoal e social de a conservar – parte 03

Continuando o assunto sobre que me propus escrever, considero de referir a questão da alimentação. Quase todos os seres vivos vivem de outros seres vivos, de partes deles, ou dos seus cadáveres. A excepção a essa regra são as plantas com clorofila, que são capazes de produzir moléculas orgânicas complexas, usando sais minerais, a energia solar, o dióxido de carbono atmosférico e a água. Com a clorofila as plantas que dispõem dela sintetizam a glicose que lhes  fornece energia e complexos compostos a partir de azoto do solo ou que obtêm da atmosfera, do cálcio, do potássio, do fósforo e doutros múltiplos minerais com que sintetizam celulose, açúcares e outros hidratos de carbono, gorduras, múltiplas vitaminas e outros compostos orgânicos que lhes são necessários.

Muitas outras plantas vivem parasitando outras, isto é, retirando delas compostos orgânicos que produzem. Entre essas plantas há algumas em Portugal, podendo nomear-se o linho de raposa, o visco, que é raro, que parasita oliveiras na região de Portalegre, as pútegas que parasitam as raízes dos sargaços, os rabos de raposa que parasitam as raízes de diversas plantas, nomeadamente as giestas, e outras.

A maior parte dos animais vive de plantas ou partes de plantas que come, incluindo folhas, flores, seiva, caules e frutos, incluindo, quando mortas, nomeadamente em apodrecimento. Outros animais comem partes de animais vivos, incluindo sangue, como os piolhos, pulgas, lampreias e outros. A maior parte dos animais caça outros para se alimentar deles, como as raposas, saca-rabos, lobos, ginetes, águias, mochos, leões, tigres, tubarões e muitos outros.

Os omnívoros, como os porcos e outros, comem tudo cujo paladar não lhes repugna. Os animais domesticados comem o que os humanos lhes dão e eles não rejeitam. Os  humanos, porque são omnívoros, tendem a comer tudo o que lhes não desagrada.

Algumas sociedades humanas observam numerosos interditos alimentares, como os judeus, que os trouxeram, com a religião que seguem, do Egipto, onde viveram até ao século 14 antes de Cristo, e depois transmitiram aos árabes no século 7 depois de Cristo e estes estenderam a todos os seguidores do islamismo, que são hoje cerca de 1.200 milhões de pessoas, seguindo os interditos alimentares judaicos.

Os cristãos, que são hoje cerca de 2 mil milhões, não seguiram os interditos alimentares que os judeus trouxeram do Egipto, porque, para poderem converter o mundo romano ao cristianismo, abandonaram os numerosos interditos alimentares judaicos, como não comer carne de porco e de outros animais senão de animais terrestres que não comem plantas, não ruminam, e, nessas condições, não têm cascos fendidos. Dos que vivem na água não comem senão os que têm escamas.

Muitas outras culturas têm escassos interditos alimentares. A cultura chinesa quase que não tem interditos alimentares além da rigorosa interdição do canibalismo.

A ingestão de alimentos, que inclui como parte fundamental a água, é necessária para que se tenha saúde. Mas a alimentação não pode ser excessiva nem escassa.

Durante quase todo o tempo passado os humanos tiveram grande dificuldade em ter comida suficiente com excepção das camadas sociais que dominavam os meios de produção e por isso podiam viver na abundância. Ainda actualmente em grande parte do mundo, sobretudo em África, os humanos passam fome.

Com o desenvolvimento económico decorrente do desenvolvimento tecnológico, parte significativa da humanidade não tem  hoje significativa escassez alimentar.

Disso resulta frequentemente comer-se em excesso, sobretudo dos alimentos mais agradáveis ao paladar, como os doces, as gorduras e a carne.

Todo o excesso é nocivo. Os excessos alimentares são prejudiciais, porque sobrecarregam os sistemas fisiológicos de autorregulação biológica, não só no que toca ao processo digestivo, como à actividade do fígado, dos rins, do coração e de  outros órgãos.

Das primeiras regras alimentares é não fazer excessos, devendo comer-se quando se sente fome, mas sem  o estômago ficar cheio, e comer, se possível, só quando se sente fome.

Beber água simples, ou incluída nos alimentos, ou outros líquidos, é essencial à saúde.

Muitas plantas, até animais, produzem compostos orgânicos que afectam a fisiologia do corpo humano, incluindo sobre o sistema nervoso, quando os ingerem ou por outra forma os introduzem no corpo. Essa interacção não é necessariamente prejudicial. Em alguns casos, desde que com uso moderado, até podem ser benéficos, como muitas das plantas amargas. Também os compostos orgânicos que agem sobre o sistema nervoso podem não ser prejudiciais e até ser benéficos, desde que a quantidade ingerida não seja excessiva. Concretizando: o álcool, o café, o chá e outros, desde que não ingeridos em excesso, são em regra benéficos, mas se consumidos em excesso são sempre prejudiciais, podendo levar a graves danos na saúde. Porque frequentemente agem sobre o sistema nervoso central, que é o que comanda todo o corpo, da repetida ingestão em excesso frequentemente resulta pulsão para ingestão cada vez mais repetida e em maiores doses, criando dependência e levando a graves danos físicos e psicológicos.

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