João Pedro Coelho

Síria

Síria

Ed684_SiriaA Rússia entrou directamente na guerra civil que se verifica na Síria. Esta nova posição russa, para além de reforçar e reafirmar o apoio russo ao ditador sírio , vem,  definitivamente, colocar a Rússia como um interlocutor a ter em conta para os cenários que se colocarão para este região no futuro.

A Síria encontra-se, hoje, dividida em três zonas militarmente ocupadas por diferentes protagonistas. De um lado temos o governo sírio, do outro o Estado Islâmico (E.I.) e ainda ocupando partes do território a resistência ao governo sírio.

Com o surgimento do E.I. no terreno, a resistência ao governo sírio deixou de ser o “centro das atenções” da comunidade internacional e passou ater um papel menor na contenda.

Nos últimos meses o E.I. alargou a sua área ocupada e consolidou a sua presença em território sírio . Actualmente, o auto proclamado Estado Islâmico controla vastas áreas da Síria e do Iraque.

Ainda, recentemente, na última Assembleia Geral das Nações Unidas,  o assunto foi o tema dominante das intervenções e provocou diversos encontros entre nações.

Enquanto o Ocidente tenta articular uma estratégia comum de acção militar no terreno, a Rússia decidiu, numa medida de antecipação, manifestar inequivocamente a sua presença, através de fortes bombardeamentos em solo sírio a posições do E.I. e, ao que parece, a posições dos rebeldes antigovernamentais.

A Ocidente nada de novo. A França ataca, a Grã Bretanha sobrevoa e os E.U.A. meditam.

Até agora, os aliados (?) ocidentais tinham como estratégia concertada a eliminação do ditador sírio,  Bachar al- Assad. O surgimento do E.I. veio desviar a atenção e criar uma nova situação: não bastava derrubar Bachar el-Assad, era necessário eliminar, também, o E.I.

No entanto, se no início do conflito a oposição síria era vista com bons olhos, hoje existem algumas interrogações sobre a efectiva natureza e a sua capacidade de criar e preservar um estado democrático na Síria. A ausência de uma alternativa credível e segura ao actual presidente, tem levado os países ocidentais a fazerem um compasso de espera na definição da sua estratégia para a região. A situação líbia está bem presente e ninguém pretende uma libianização da Síria.

Assim, assistimos à França a efectuar uns raides em território sírio, a Grã Bretanha a  enviar aviões de reconhecimento e os E.U.A. na posição “nim”.

Esta indefinição do que fazer, como fazer e quando fazer tem fortalecido o E.I. e enfraquecido a oposição síria.

A entrada em cena da Rússia, vai obrigar a uma definição clara do que os “parceiros” ocidentais pretendem.

A entrada da Rússia no conflito tem fortes motivações. Existe a possibilidade de um E.I. forte chegar às fronteiras russas. A questão ucraniana tem gerado sentimentos anti russos e a situação interna russa não é a mais favorável em termos de crescimento económico.  Putin necessita de mostrar uma Rússia forte, e assumir-se como uma potência internacional e ao mesmo tempo criar uma onda interna de forte nacionalismo russo, através da demonstração dessa mesma força.

O terrorismo internacional, na sua forma mais perigosa e mais forte de sempre, aqui na forma do E.I., embora condenado por todos, não consegue congregar e articular uma vontade  única e concertada de o combater.

À luz do direito internacional, a França ataca e justifica esse ataque como ataques contra o terrorismo. A Rússia ataca e justifica esse ataque com o pedido de ajuda do governo sírio. Hoje, ninguém discute a legalidade de intervenções armadas em território estrangeiros. Para que existes O.N.U.?

A Síria, hoje, é ainda um país à luz do direito internacional?

A Síria, hoje, é um território, onde existe de um lado o E.I., inimigo da liberdade, da paz, do bem estar, da justiça e  do outro um ditador, o presidente, que comete crimes de guerra e contra a humanidade e onde a comunidade internacional se “diverte” a fazer uns bombardeamentos e a posicionarem-se no xadrez da política internacional.

Se não fosse tão trágico, daria vontade de rir…

Não seremos capazes de, perante um inimigo (sim, é o termo) que por todos é repudiado, assumir uma estratégia comum?

Assusta-me o facto de essa estratégia concertada poder chegar atrasada.

E, enquanto isto se passa, o que acontece ao povo sírio? Morre, é morto, desaparece….

A Síria, também é a minha casa. E, também é a sua.Redação Gazeta da Beira

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