João Pedro Coelho

MIJA(dos)

MIJA – Movimento Independente de Jovens Autarcas

Em 1989 surgiu em S. Pedro do Sul um movimento constituído maioritariamente, ou quase exclusivamente, por jovens sampedrenses. Era, foi ou terá sido o MIJA.

O que começou por ser uma brincadeira de 3 ou 4 amigos e que tinha por objectivo candidatar o João (Joninhas) à Junta de Freguesia, cedo se transformou num inesperado movimento de vontades.

Esta pequena reflexão sobre o MIJA,  surge atrasada. Decorreram já vinte e seis anos, desde aquele longínquo ano de 1989. No entanto, e porque fiz parte do Movimento (num papel secundário); sinto-me particularmente à vontade para tecer algumas considerações.

Li, em tempos, num blogue sampedrense criado para promover uma personalidade local (Adriano Azevedo) uma série de disparates escritos por uma autor não identificado. Dizia o incógnito autor dos rabiscos, que certas pessoas se comportavam como o MIJA!

No meio de tanto disparate escrito naquele blogue, a determinado momento (porventura, único), o autor afirmou num rasgo de lucidez que o MIJA é “daquelas coisas que tem piada, mas que é de utilização única. Esfuma-se quando utilizada”

Sim, tem razão o “blogueiro”: o MIJA esfumou-se; ainda, antes de ser utilizado…

O MIJA surge de uma brincadeira, Mas cresceu, e excepto os seguidistas dos partidos tradicionais, todos, ou quase todos, os jovens sampedrenses aderiram ou simpatizaram com o movimento.

Movimento? Mas que movimento? E para onde se movimentava?

Estávamos em 1989. Quem não se lembra do “cinzentismo cultural”, do viver numa vila do interior, da distância a que ficavam as cidades, da certeza do “mais do mesmo”….

O MIJA com todo o seu tesão; perdão, com toda a sua pujança, congregou vontades. E como MIJA tanto a menina como o menino, ele foi crescendo…

O MIJA foi só uma candidatura à Junta de Freguesia? Não…ou melhor, acabou por ser.

Confuso? Talvez.

O MIJA promoveu algumas iniciativas interessantes. Recordo, com agrado, duas delas que tiveram algum impacto na comunidade sampedrense.

A primeira tratou-se de uma exposição fotográfica sobre S. Pedro do Sul. Recolheram-se centenas de fotografias de particulares, que as cederam para a exposição, e a iniciativa foi um “retrato marcante” da Vila, das suas gentes e seus feitos desde os primeiros anos do século XX até ao final da década de 80. Creio não cometer nenhum erro, afirmando que se tratou da maior exposição documental sobre o século XX de S. Pedro do Sul.

A segunda iniciativa foi a realização de um debate sobre a poluição do rio Vouga. Sim, já o MIJA se preocupava com as questões ambientais.. O salão dos Bombeiros Voluntários  mostrou-se pequeno para acolher tamanha afluência. No início deste debate, e porque se tratou da primeira “aparição pública” do Movimento, o MIJA anunciou que uma das suas primeiras preocupações seria a cultura e que tinha vindo para ficar.

Recordações…..recordações….recordações…eis o que ficou.

Recordo os comunicados redigidos com humor e sátira política e que provocavam sorrisos entre a população. Recordo, particularmente, um autocolante (sim , estávamos na era dos autocolantes) em que a Vila estava ensombrada por um chapéu e o MIJA iria devolver o sol a S. Pedro do Sul. Este autocolante, ou melhor a ideia “vertida” nele foi um tónico decisivo para o sucesso da campanha eleitoral.

Ou seja, o MIJA foi brincadeira, audácia, mobilização, humor, sátira, inquietude e foi, também, um não à resignação e ao conformismo que a juventude dos anos 80/90 começava a sentir.

O MIJA pode ter nascido de um tesão prematuro, mas foi capaz de o manter durante algum tempo.

Só que…

Nos finais dos anos 80, quando chegávamos a S. Pedro “cheirava” a MIJA.

Hoje, não.

Tirando a honrosa excepção do meu querido amigo de infância, Paulo Quintela; que em esforços quase quixotescos vai lutando contra alguns moinhos que ainda por aí permanecem; hoje encontramos em S. Pedro os MIJA (dos).

O que é ser-se MIJA (do)?

Ser-se MIJA (do) é ter deixado passar por nós, uma oportunidade de contribuir para a melhoria da comunidade onde vivemos, é termos deixado de acreditar que somos capazes de mudar, é resignarmo-nos depois da revolta.

É triste quando o comboio da história (mesmo que seja um regional) pára no apeadeiro  e nós viramos costas.

O MIJA surgiu de uma brincadeira. A história tomou conta dele, e conferiu-lhe contornos mais largos, deu-lhe capacidade de mobilização e actuação, fê-lo assumir a responsabilidade de se tornar uma referencia na cultura sampedrense. E à história, o MIJA disse nada.

Em jeito de conclusão, e falando numa linguagem futebolística: História 1 – MIJA 0. Teria sido tão diferente; se ,pelo menos, se tivesse verificado um empate.

Como o MIJA perdeu, nem teve direito a utilizar os balneários…

Aos MIJA (dos), espero que as barrigas, as dietas, o conforto do lar, os filhos, os petiscos, o cabelo, os jardins, a maquilhagem, a bola, sejam suficientes para vos fazer feliz… Afinal, todos nós aspiramos a sermos felizes.

Passados todos estes anos, fica que:

“A História do MIJA é, hoje, uma estória.”Redação Gazeta da Beira

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