João Carlos Matos do Vale

“FILHOS E ENTEADOS”

Sempre fui apologista de que numa sociedade, todos devem ser tratados de igual forma, tendo os mesmos direitos e deveres. É esse um dos princípios fundamentais das sociedades onde a democracia seja regra. A igualdade entre todos, independentemente das suas origens, formação académica ou conta bancária.

A discriminação por género, raça, credo ou estatuto social é totalmente inaceitável, para todos aqueles que proclamam a igualdade. Infelizmente até nestas sociedades ditas democráticas esta discriminação acontece. Obviamente não falarei de ambientes onde seja reinante a ditadura ou o totalitarismo, pois aí certamente que as desigualdades serão por demais evidentes.

Infelizmente, nas novas democracias, há quem defenda com “unhas e dentes” os seus direitos, não se coibindo de ir para a praça pública (preferencialmente em datas de que estrategicamente se apoderaram), gritar palavras de ordem, criticando tudo e todos, defendendo ideais, alguns deles já obsoletos. O que é curioso é que esses mesmo direitos que tanto proclamam, são negados em causa própria ou nos regimes que esses arautos da democracia tanto apoiam.

Que diriam de mim se me ouvissem dizer que acho muito bem que as autoridades autuem quem anda em excesso de velocidade, se me virem criticar as mesmas autoridades no dia em que for multado por ultrapassar esses mesmos limites de velocidade?

Ou criticar quem foge aos impostos, se eu mesmo o faço?

Há que ser honestamente intelectual. Há quem diga que o exemplo deve partir de cima. Concordo em pleno. Mas se quem está acima, não dá um bom exemplo, eu não terei de seguir e fazer os mesmos erros.

Sou apologista da igualdade de direitos e deveres entre todos, por isso não concordo com os subsistemas de saúde e com diferentes organismos que vão gerir os nossos mensais descontos para a reforma. Não vejam nesta opinião um qualquer divisionamento entre o Estado e o Privado. Nada disso. Apenas a igualdade de direitos e deveres. Os descontos (percentualmente) deveriam ser igual e os apoios os mesmos de igual forma. A idade para a reforma igual para todos os trabalhadores, com algumas excepções óbvias, nas profissões de desgaste rápido. O mesmo número de horas de trabalho semanal para todos, bem como o mesmo número de férias.

Estes são os direitos que todos nós devíamos ter de forma igualitária, para que não se diga que há filhos, enteados e bastardos (para não os chamar filhos da quarta-feira).

Mas se os direitos devem ser iguais, também o devem ser os deveres. Todos nós devemos contribuir com os nossos impostos para o bem comum de igual forma. Todos nós devemos respeitar as regras de um país quase milenar, independentemente da nossa raça, credo, cor clubística ou condição social.

Não é admissível ver a impunidade de certos extratos nossa sociedade. Há quem muito fale de crimes que não são investigados, da diferença na acessibilidade à justiça fruto das condições económicas, bem como à saúde, mas na realidade há quem também viva num regime de quase impunidade e tem até um incompreensível direito de preferência em certos locais.

Recordo-me de num serviço público aguardar a minha vez durante mais de uma hora e subitamente me vejo a ser ultrapassado por alguém que havia chegado naquele momento. Educadamente aguardei a minha vez e quando fui atendido fiz questão de mostrar de forma tranquila o meu desagrado. A resposta que ouvi da parte de quem me atendeu é que havia passado essa pessoa à minha frente, para evitar problemas. A pessoa em causa, segundo me foi informado, considerava ser um marginalizado pela sociedade e sempre que recorria aqueles serviços, fazia-o de forma agressiva. O que é curioso é que o meu direito de ser atendido naquele momento, foi preterido pois quem foi atendido não conhece o seu dever de esperar. Uma vez mais há filhos, enteados. Perguntam-me porque não reclamei? Não o fiz para não ser acusado de ser racista, xenófobo ou de não gostar de minorias étnicas, grupos onde tenho imensos amigos de longa data.

Sem respeitarmos os nossos deveres, não temos o direito de reivindicar os nossos direitos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *