Inovação e capital social: contributos para o desenvolvimento agrícola e rural

Pedro Reis (Investigador no INIAV, Professor no ISA)

Ed649_agricultura-inovacao-02Inovação. Todos nós falamos de inovação. Todos nós assumimos a sua importância para a competitividade da agricultura e para o desenvolvimento nos territórios rurais. Há alguns anos atrás, não muitos, falávamos da modernização da agricultura e das florestas. Estaremos a falar do mesmo? Por que razão a inovação é tão importante? Como devemos encarar a inovação? Que podemos, ou devemos, fazer?

A inovação é a introdução de uma novidade com sucesso na economia, seja no mercado dos bens e serviços, seja no mercado dos fatores de produção e das matérias-primas, seja no processo produtivo. Essa novidade permite-nos ganhar vantagem sobre a concorrência. É uma luta pela liderança, pela conquista do mercado. Mas é também uma luta pela sobrevivência. Por exemplo, a inovação tecnológica permite reduzir os custos de produção, com um consequente abaixamento do preço no mercado e um aumento das vendas. Quem não adotar a inovação, vai ficando numa situação cada vez mais desvantajosa, e nalgum momento deixará de ter condições económicas e financeiras para manter a sua atividade produtiva. Por outras palavras, todos os produtores estão condenados a inovar, seja pela introdução de uma novidade no mercado, seja pela adoção de novas tecnologias, produtos ou sistemas de produção.

Além da inovação, o nosso quotidiano vai também ficando familiarizado com a ciência, a investigação científica, as descobertas científicas. Neste ponto importa clarificar que a inovação é diferente da investigação científica. Na ciência procuram-se as explicações para os fenómenos da natureza, incluindo os humanos e da Humanidade, através do método científico. Esta busca, pela verdade explicativa da natureza, é um processo sistematizado de observação, colocação de questões, realização de ensaios, de experimentação, discussão de resultados e de construção de conhecimento. A investigação não é inovação, mas é fundamental para que esta surja. Vários estudos, realizado ao longo de algumas décadas, demonstram o elevado contributo da investigação científica para o desenvolvimento da atividade agrícola. Esta relação entre o desenvolvimento agrícola e o conhecimento científico é uma longa história de sucesso. No final do século XVIII uma família agrícola apenas conseguia produzir um excedente de 20 a 30%, em relação às suas necessidades mas atualmente, a EU-15, com uma taxa de emprego na agricultura, silvicultura, caça e pesca de apenas 3,1%, consegue ter uma balança comercial externa positiva de bens agrícolas e alimentares. Entre 1960 e 2000, em 40 anos, foi possível reduzir a fome no mundo de 60% para 17% da população.

Ao longo de várias décadas, a ciência foi impulsionando a agricultura através de um modelo normativo, suportado pelas instituições públicas. O Estado era responsável pela investigação científica, assegurava o ensino superior agrário, assumia as funções de extensão rural e intervinha no mercado de produtos agrícolas. Mudanças profundas foram ocorrendo ao longo dos anos, desde a mudança de paradigma da produção agrícola, até à visão holística do sistema de inovação agrícola e à liberalização dos mercados globais dos bens agrícolas. Atualmente a abordagem tem de ser enquadrada no modelo do sistema de inovação, constituído por uma rede de organizações, empresas e indivíduos focados na obtenção de novos produtos, processos e sistemas de organização, para a atividade económica, conjuntamente com as instituições e políticas públicas que afetam a o seu comportamento e desempenho. As instituições de investigação, ensino, formação e aconselhamento técnico, continuam a ser os pilares da inovação agrícola e das atividades nos espaços rurais mas têm de assumir outras abordagens e integrar novos relacionamentos. Por sua vez, os produtores são, cada vez mais, gestores dos fatores terra, trabalho e capital, mas também do conhecimento e da inovação, em resposta às condicionantes e oportunidades do mercado. Neste processo, aparentemente caminhando para o caótico, emerge uma nova ordem organizativa, mais complexa e muito mais exigente do saber fazer (know how) e do saber por quê (know why), a par do saber tácito.

Nos últimos dois anos, tive o grato prazer de realizar entrevistas a alguns produtores da região do Dão-Lafões sobre a inovação na produção agrícola. Os resultados obtidos mostram a existência de produtores dinâmicos, empreendedores e orientados para o mercado. Muitos são jovens, com formação superior. A este capital humano, importa estimular os contactos, as parceiras, os canais de comunicações, promovendo assim o capital social. Isto é, fazer com que a capacidade de reflexão e de intervenção dos agentes económicos locais seja superior à soma das suas capacidades individuais. Esta orientação estratégica permitirá absorver mais conhecimento pelos produtores locais e incrementar a inovação na região, seja ao nível das inovações do mercado, seja ao nível da difusão das melhores práticas e tecnologias. No presente, o caminho é a formação de uma rede regional de stakeholders com vista à promoção da inovação nas atividades agrícolas, florestais, agroalimentares e de desenvolvimento rural, com vista a promover a inovação no setor agrorrural, através da criação, absorção, partilha e difusão do conhecimento entre os agricultores, as suas associações e cooperativas, a pequena transformação agroalimentar, os agentes do desenvolvimento local, com a participação ativa dos serviços do Ministério da Agricultura.

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