Fragas, a associação que quer valorizar o território através da ciência, do ambiente e da cultura

Associação inaugura sede em Sul no próximo dia 16 de Agosto

A associação Fragas Aveloso nasceu em 2013. Um ano depois, surge com uma nova sede e uma mão cheia de projetos. A inauguração vai ser já no mês de Agosto, aquando do 1º Festival da Associação, que vai decorrer entre 13 e 17 desse mês. Tendo como pilares o Ambiente, a Ciência, a Cultura e a Comunidade a coletividade quer conjugar saberes, desenvolver, descobrir, preservar e intervir em diversos planos. O projeto começou a ser sonhado, por familiares e amigos, como uma forma de homenagear e preservar a memória de Paula Tavares, uma investigadora e ativista ambiental que morreu cedo de mais, num fatídico acidente, há quase 5 anos. Hoje, a Associação Fragas Aveloso está pronta para continuar a trilhar os projetos que Paula Tavares foi obrigada a deixar a meio. Uma prova de amor que conseguiu transformar a dor mais profunda, num projeto válido com muito para dar. A Gazeta da Beira esteve à conversa com Manuela Tavares, uma das fundadoras que nos dá a conhecer Fragas Aveloso, e fala da “musa inspiradora” deste projeto. A sua filha, Paula Tavares.

Assoc03-ED658Há dias em que o mundo nos cai em cima. Foi assim que se sentiu Manuela Tavares quando recebeu a triste notícia. A sua filha Paula tinha morrido num acidente rodoviário provocado por terceiros. Uma trágico acontecimento que interrompeu tantos projetos. “A minha filha era uma bióloga, ativista, investigadora, ambientalista, uma mulher de muitos sonhos e projetos, com um percurso científico promissor, desenvolvia uma investigação pioneira em Portugal. Era uma pessoa que marcava pela positiva, que tinha um enorme espírito de iniciativa e criatividade, que quando agarrava com a duas mãos as coisas iam sempre por diante”. Recorda Manuela Tavares.

Qualidades que não queriam ser esquecidas, qualidades que não podiam ser esquecidas. Havia que continuar. “Os pais, os amigos e os familiares da Paula, e também de Ágata de Sousa, engenheira do ambiente, que também faleceu na sequência do mesmo acidente, tiveram a ideia de criar uma associação”. Nasce Fragas Aveloso, uma associação que quer continuar as lutas e os projetos das duas jovens falecidas. Como acrescenta Manuela Tavares, “Éramos incapazes de gastar o dinheiro da indemnização para qualquer outro fim, nem para nós, nem para ninguém, ainda pensámos em distribuir o dinheiro por várias associações, mas assim seria pouco dinheiro para cada uma… e onde é que ficava a memória da Paula?”

A memória de Paula vai ficar em Fragas, Aveloso, freguesia de Sul, São Pedro do Sul. Um centro de intervenção de portas abertas ao mundo e para o mundo. Não é por acaso que este projeto vai ter sede em Aveloso, como também não é por acaso que aqui descansam os restos mortais da bióloga. O lugar de Aveloso, Fraga em especial, sempre foi um lugar de muita inspiração para a bióloga que conseguia, aí, uma verdadeira simbiose com a natureza. Como explica a mãe, “Ela adorava a aldeia, desde sempre, teve com Aveloso uma ligação muito especial e, pela vida fora, nunca perdeu os vínculos à aldeia. Preocupava-lhe se colocavam asfalto na aldeia, preocupavam-lhe as construções que podiam descaracterizar a vila, preocupavam-lhe se os aviários podiam poluir a ribeira, o corte dos carvalhos…”.

Do sonho à obra

Nasce, assim, uma nova associação, com uma sede pronta a acolher investigadores e com uma localização rica para explorar. Fragas Aveloso avança agora com um objetivo: contribuir para a preservação do património ambiental e cultural de uma região centrada na freguesia de Sul. Tudo vai começar no 1º Festival da Associação Fragas Aveloso, depois, há já “um manancial de ideias em cima da mesa”. Com a inauguração para agosto ultimam-se agora os preparativos, de um projeto de grande empregadora cuja construção iniciou-se em novembro do ano passado. O edifício foi dotado das melhores condições para funcionar. Está ainda previsto que a Associação, que contém dois quartos, possa vir a receber e apoiar alguns investigadores que queiram ter a freguesia de Sul como ponto de partida para os seus estudos.

p16_01ED658Uma mão cheia de projetos

Fragas Aveloso é uma Associação para a Interação Ambiental, Científica, Comunitária e Cultura que surge já com muitos sonhos para concretizar. Um projeto pluridisciplinar que integra um elenco com pessoas com conhecimentos e experiências diferentes que se cruzam. Como explica Manuela Tavares, a Associação quer “conjugar vertentes de forma integrada”.

Em todos os projetos há um denominador comum: A comunidade local. Por isso, vários elementos dos corpos sociais são habitantes de Aveloso. “Não queremos que a Associação esteja colocada ali artificialmente, queremos estabelecer uma ligação com as pessoas da aldeia, este projeto está pensado para estar completamente integrado no meio ambiente, temos que ter a preocupação em não fazer iniciativas desligadas das pessoas, queremos criar uma relação efetiva e afetiva”. Explica a fundadora.

A ciência como parceira do meio ambiente

“Há vida no Rio”, é uma das iniciativas inseridas no Programa Ciência Viva, que vai animar o 1º Festival da Associação, no próximo mês de agosto. Como avança Manuela Tavares, o objetivo passa por “conseguir ver qual a qualidade da água, através do envolvimento das pessoas na recolha de invertebrados que, depois, são qualificados consoante o seu papel no caudal”.

Um exemplo entre muitos outros que querem vir a desenvolver. “É preciso sensibilizar as pessoas para as causas ambientais, queremos desenvolver algumas sessões sobre o tema, alguns passeios pedestres…”.

Há ainda muito a fazer dentro desta temática, “quando cortamos determinadas plantas ou eliminamos determinadas árvores estamos a dar cabo do equilíbrio do próprio ecossistema que vive de todas estas relações. Quando há algo que começa a falhar isto também vai afetar as nossas vidas”, conclui a fundadora. Os direitos dos animais também estão no centro das preocupações da Associação. Como lamenta Manuela Tavares, “há ainda muitas pessoas que têm uma visão muito utilitarista dos animais”.

Esta é um meio de dinamizar o território, mas de uma forma em que a “natureza também tem que ganhar”. Como defende Manuela Tavares, “queremos aproveitar esses passeios para requalificar e limpar algumas zonas que não estão hoje a ser aproveitadas”.

Paralelamente, vão ser desenvolvidos estudos e recolhas para investigar inúmeras questões científicas. “Nesta região temos uma grande riqueza que importa conhecer, queremos estudar a flora, a qualidade da água da ribeira, do rio Sul …” explica.

 

A Cultura e a valorização do territóriop17_Assoc_ED658

Tendo sempre presente os interesses da população Fragas Aveloso, quer trazer à aldeia “outros modos de cultura, artes alternativas”. “CINE-ALDEIA”; workshop de danças tradicionais europeias, as Vozes de Manhouce, são alguns dos destaques do 1º festival que querem elevar a cultura, mas há mais.

A Associação já apresentou uma candidatura à Fundação Calouste Gulbenkian, “por uma cooperação intergeracional para um turismo ético e responsável” Um projeto que quer reinventar o conceito de turismo. “Pretendemos mostrar que existem outras formas de acolhimento para grupos, a ideia é que as pessoas que venham visitar a Aveloso possam ser acolhidas em casa nas aldeias”. Os visitantes que visitassem Aveloso podiam ser albergados nas casas da aldeia, uma forma de criar riqueza mas também de trocar saberes e experiências, como acrescenta Manuela Tavares, “o objetivo é exercer o turismo de uma forma envolvente e empenhada, sempre numa perspectiva de estabelecer uma relação entre as pessoas. Não queremos que as pessoas venham, tirem fotografias e que se vão embora. Não, queremos que se criem laços.”

Sendo um projeto intergeracional, esta iniciativa tem também como objetivo criar novas oportunidades para os jovens da região. Fragas Aveloso quer promover sinergias com as Escolas Profissionais, para que os alunos que não queiram ingressar no Ensino Superior, tenham aqui, “uma forma de complementar a sua formação e de abrir portas para o futuro”. Os jovens teriam um papel ativo, entre outras funções podiam “mostrar os aspetos culturais, o património natural, organizar as visitas, quem sabe, criar uma rede interaldeias…”

Um projeto que quer, ainda, trabalhar com as mulheres e lutar pela igualdade de género. “Com este projeto queremos trabalhar com as mulheres, porque são elas que estão mais no habitat, queremos conhecer as suas histórias de vida e procurar entender como é que essas histórias podem ser empreendedoras e capacitadoras das mulheres da aldeia”.

Um Festival, uma nova sede, força de vontade e muitos projetos. Estes são os ingredientes de uma nova história que começa. Um ponto de partida para Fragas Aveloso, uma associação que quer desenvolver o território através da ciência, do ambiente e da cultura.

O Festival

1º Festival da Associação Fragas Aveloso 2014´

Local: Rua das Fragas, Aveloso, Sul, S. Pedro d Sul

13 de agosto

21h30- CINE-ALDEIA: Ciclo Músicas do Mundo

I- PASSIONE de John Turturro (Itália, 2010)

14 de agosto

21h30- CINE-ALDEIA: Ciclo Músicas do Mundo

II- SIGO SIENDO de Javier Corcuera (Peru, 2012)

 15 de agosto 

16h00- Workshop sobre Jogo do Pau

17h30 – Concerto Igreja de Sul: “Vozes de Manhouce com Isabel Silvestre e António Alexandrino”

21h30- CINE-ALDEIA: CICLO MÚSICAS DO MUNDO

III-  LATCHOO DOM de Tony Gatlif (França, 1992)

16 de agosto

10h00- “Há vida no Rio” atividade inserida no Programa “Ciência Viva” (ponto de encontro: adro da Igreja de Sul. Inscrições obrigatórias em <http://www.cienciaviva.pt >

17h00- Inauguração da sede da Associação Fragas

20h00- Workshop de danças tradicionais europeias

21h30-  Concerto seguido de baile com o grupo LEDA MADRUGADA ( Miguel Ribeiro, Mike Simões, João Mendes)

17 de agosto

10h00- “Há vida no Rio” atividade inserida no programa “Ciência Viva” (ponto de encontro: adro da Igreja de Sul). Inscrições obrigatórias em <http://www.cienciaviva.pt >

14h30 -Assembleia Geral da Associação “Fragas Aveloso”.Redação Gazeta da Beira

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