Entrevista a Serafim Soares

Provedor da Misericórdia de Nossa Senhora dos Milagres de Oliveira de Frades

 

 

Ficha Biográfica

Nome: Serafim Soares

Idade: 71 anos

Cargo que ocupa: Provedor da Misericórdia de Nossa Senhora dos Milagres de Oliveira de Frades há 19 anos

 

Eu cheguei aqui mais ou menos em 2001 com vontade de fazer algo mais do que aquilo que já existia:

Eu vou dar as minhas primeiras palavras desde quando cheguei a esta instituição. Eu cheguei aqui mais ou menos em 2001 com vontade de fazer algo mais do que aquilo que já existia. Era uma instituição relativamente pequena. Tinha poucas valências nessa altura, tinha o jardim-de-infância, a creche, o lar… e nada mais. Daí para cá criaram-se muitas valências. Comecei por remodelar o lar, o hospital que existia, daqui a mais há um século, que era o hospital da Misericórdia, mais tarde foi para as mãos do estado e esteve até 2002, remodelei todas as instalações e temos lá, hoje, desde 2006, uma Unidade de Cuidados Continuados. Temos um trabalho feito bastante grande, temos uma Unidade de Cuidados de Saúde no mesmo edifício, para além disso, temos acordo para fisioterapia a nível nacional e essa unidade, hoje, é uma referência para o concelho de Oliveira de Frades e arredores. Não ficamos só por aí, acabo por obter acordo para a gastro com a especialidade de medicina geral, com acordo com o Ministério da Saúde. Também no meu percurso acabei por fazer uma creche nova aqui em Oliveira de Frades, que foi inaugurada em 2006. Tive o apoio domiciliário que também não existia e, só para ter uma ideia, dou cobertura ao concelho de Oliveira de Frades, 80% é feito pela instituição Nossa Senhora dos Milagres, temos então o apoio domiciliário e o Centro de Dia.

Não cruzei os braços:

Ao assumir o cargo de Provedor não cruzei os braços e entendi, em 2001, criar, em Ribeiradio, um Pólo de mais um Centro de Dia e apoio domiciliário que, mais tarde, há cerca de 10 anos, não fiquei por aí e também construí um lar. Essa freguesia é uma das maiores freguesias do concelho de Oliveira de Frades.

Durantes estes anos não tem sido tarefa fácil, porque criei muitas valências, para além daquelas que existiam, que não eram praticamente nenhumas. Hoje, temos o lar de Oliveira de Frades que já existia, mas que fui sempre remodelando. Esta instituição é uma realidade por aquilo que faz e por aquilo que ainda não acabou de fazer que agendou. Eu vim de facto com a ideia de fazer alguma coisa, para além daquilo que já existia. Por exemplo, tínhamos 3 viaturas já um pouco antiquadas e hoje temos 20 e tal viaturas na instituição, comprámos um autocarro também.

 

Não tem sido tarefa fácil:

Para além disto tudo, ainda não me sinto para abandonar, mas, como sabe, são 19 anos que estou à frente desta instituição, não tem sido tarefa fácil, porque as dificuldades são gerais. Todas as instituições têm tido dificuldades, algumas mais, outras menos, e criar uma como esta, que é uma mais-valia para o concelho, porque todos os dias nos batem à porta, porque todos os dias temos que ajudar aqueles que mais precisam. Ainda nem tudo foi feito! Gostaria de continuar a fazer. Também, a verdade seja dita, o tempo, que já são 19 anos, já começa a saturar, mas, ainda não decidi se realmente me irei recandidatar. Para já, estou numa fase de ver a minha saúde, se posso dar mais algum contributo a esta instituição. Aquilo que eu tenho feito tem sido com muito amor e carinho a esta instituição, porque todos os dias eu me lembro daqueles que mais precisam e que todos os dias me batem à porta e custa-me realmente abandonar esta casa, mas um dia terei que o fazer, porque não vou continuar a ter esta vitalidade, nem ter saúde para continuar. Mas, enquanto cá estiver, farei sempre aquilo que eu entender que seja o melhor.

 

Novos projetos:

Eu tenho dois projetos, que já os tenho há cerca de 3/4 anos, mandei fazer esses projetos, estão prontos para fazer as candidaturas. Esperei que realmente 2020 nos trouxesse essa abertura, mas tem sido difícil, ainda não fizeram essa abertura para nos podermos candidatar. É um lar-residencial, num edifício antigo, que já foi comigo que comprámos essa casa, esse terreno. Tem também este lar que já tem alguns anos e eu queria vê-lo remodelado com aquilo que era necessário, mas as candidaturas têm sido um bocado difíceis e eu não tenho conseguido que, até à data, se abram as portas para que possamos dar um pouco de ar fresco a este edifício, a este lar, porque o de Ribeiradio é novo, as outras instalações praticamente também são novas, da Unidade e outras do Jardim, esta aqui é que está a precisar. Então, estas duas candidaturas, estou à espera que realmente se venham a concretizar. Se não for eu, será outra equipa que me venha substituir.

 

 

Nós somos a família desses idosos:

A solidão dos idosos é um tema difícil. Alguns idosos têm a família longe, alguns filhos gostariam de estar com eles, mas têm os seus empregos e não têm possibilidade… eles sós, a família é a Misericórdia, porque lhes chega, no apoio domiciliário, todos os dias, uma palavra de conforto, de gratidão, para com esses idosos. Os funcionários desta instituição levam-lhes a medicação, uma palavra de carinho e isso é muito importante para quem está isolado, porque os filhos também têm a sua vida e a instituição, através dos seus funcionários, leva-lhes um bocadinho de conforto, uns é o vestuário, outros é limpar-lhe a casa, outros é a refeição, outros é a palavra de carinho e nós somos a família desses idosos, que todos os dias têm uma visita, que é a Misericórdia que lhes bate à porta.

 

Tem que se gostar daquilo que se faz e ter espírito de servir:

As pessoas que venham para este trabalho é gratuito, este trabalho é voluntário, tem que ser com muito carinho, ter boa vontade. Todos os dias tem os seus problemas, todos os dias lhe batem à porta. Nós temos 170 funcionários, entre os técnicos, as pessoas formadas, as pessoas têm que gostar daquilo que fazem, porque este trabalho é voluntário. Se fosse um trabalho que fosse pago, nós estavamos aqui, porque tínhamos que o fazer, não sei se o faria com esta precisão, com este carinho. Tem que se gostar, eu que já cá estou há 19 anos, outros que estão há 40, outros há 20, outros há 30, mas tem que se gostar daquilo que se faz. E neste aspeto, eu tenho tido boa vontade e espírito de servir e sinto-me satisfeito por tudo aquilo que faço.

Tudo quanto se faz é um bem para as pessoas e para este concelho:

Desde que deixei a minha vida profissional há cerca de 20 anos, eu era comerciante, um amigo disse-me “Vamos à Misericórdia, vamos dar um ar fresco à instituição, porque ela tem que crescer mais um pouco e vamos avançar com este projeto”. Só que ao fim de um ano, ele deixou-me, faleceu esse meu amigo e eu fiquei com outros colegas a enfrentar aquilo que ele me puxou a fazer. A partir daqui, os anos também já vão passando e, se quer que lhe diga, depois de deixar esta instituição, levo-a no coração, mas o tempo tem um fim e a pessoa começa a ter uns anos, já são 71, e, como lhe disse, ainda vou pensar se me vou recandidatar. Tudo quanto se faz é um bem para as pessoas e para este concelho, porque nós não damos apoio só a este concelho, temos pessoas de outras localidades, como S. Pedro do Sul, Vouzela, Sever do Vouga, Aveiro, que nos vêm bater à porta nas horas difíceis e nós, desde que tenhamos lugar, desde que tenhamos um “buraquinho”para realmente os ter cá, são bem-vindos.

 

Esta casa é um bem de todos:

Tudo quanto fiz, fiz aquilo que gostei de fazer. Poderia ter-me dedicado a andar pelos cafés, ou andar por outro lado qualquer, a entreter-me, a passar o tempo, mas não o dou por perdido. Fico muito satisfeito por ter feito alguma coisa por quem precisava. Esta casa é um bem de todos. Esta casa não é de ninguém, é de todos. Todos quantos possamos ajudar, colaborar, é com esse fim que eu estou aqui nesta instituição, enquanto cá estiver. Depois, outros irão dar continuidade. Sinto satisfação por tudo quanto fiz, momentos bons, momentos menos bons, mas sinto-me realizado por tudo quanto fiz.

 

Vocês ajudam-nos a levar bem longe o que nos vai na alma:

Tenho a agradecer à Gazeta da Beira por se ter lembrado desta instituição, porque o jornalismo é, realmente, uma forma de levar, a todos os cantos, não só do distrito de Viseu, mas do país. Vocês são os que nos transporta, que nos levam a mensagem. É bom que as pessoas também se aproximem das instituições para que nós possamos divulgar aquilo que se faz de bom. Tenho a agradecer a todos vós, seja à Gazeta da Beira, seja a outros jornais. É sempre bom, porque vocês ajudam-nos a levar bem longe o que nos vai na alma.

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