Entrevista a José Valgode

Gente Que Ousa Fazer”

 • Paula Jorge

Olá! Estarei convosco para responder a mais um desafio. Espero não vos desiludir.

A rubrica “Gente Que Ousa Fazer “será assente numa entrevista a alguém que tenha algo válido no seu percurso de vida. Gente que sabe o que quer e, acima de tudo, que luta por aquilo que quer. As entrevistas serão sempre encaminhadas de forma a mostrar o lado melhor que há em cada um de nós e, dentro do possível, ousar surpreender o leitor. Serão entrevistas com a marca das nossas gentes, da região Viseu Dão Lafões, de todos os quadrantes e faixas etárias. Vamos a isso!

 

Ficha Biográfica

Nome: José Valgode

Idade: 71 anos

Profissão: Reformado

Livro preferido: Bíblia, que é o livro dos livros e os Lusíadas

Destino de sonho: Voltar a Timor onde estive entre 1969 a 1971

Personalidade que admira: A minha esposa e companheira de longa data

 

Paula Jorge (PJ) – Muito obrigada, Senhor José Valgode, por mostrar disponibilidade para esta entrevista da rubrica “Gente Que Ousa Fazer”. Comecemos pelo princípio.

Pode descrever o seu percurso profissional.

José Valgode (JV) – Desde o ano de 1962 a 1968 fui para Lisboa onde trabalhei na extinta Corporação da Lavoura, um organismo do estado. Depois fui para o exército e em Abril de 1969 parti para Timor, faz este ano de 2019 precisamente 50 anos!

PJ – O Senhor José Valgode colabora com muitos jornais, inclusive o Jornal Gazeta da Beira. Como começou esta paixão pela escrita?

JV – Desde bem jovem comecei por ler quase tudo. Daí a minha paixão pela leitura, pois logo me apercebi que a leitura abre novos horizontes.

PJ – A escrita é para si uma necessidade ou um passatempo?

JV – Para mim a escrita é o pão literário diário. Essa necessidade só é saciada quando escrevo algo quase que diariamente.

PJ – Quais os temas que gosta de abordar quando escreve?

JV – A minha escrita foi iniciada na escola primária e portanto escrevendo alguns versos. À medida que cada vez lia mais, fui igualmente aumentando e aprimorando a minha poesia. Gostava muito de escrever versos românticos. Hoje ainda pratico esse género, mas fui amadurecendo e hoje abordo e escrevo sobre todos os temas.

PJ – É então um amante da leitura. Considera importante ler para se escrever bem?

JV – Gosto muito de ler, porque a leitura abre novos horizontes. Quando estamos sentados a ler, estamos viajando. Ler muito é proveitoso também para se escrever bem.

PJ – Quais os sentimentos que o dominam quando escreve?

JV – Quando escrevo, o sentimento que me domina é: como posso despertar o interesse nos leitores? Hoje procuro escrever de uma maneira pedagógica, por exemplo, um poema pode ou não rimar, mas tem que ter um tema, um corpo e uma conclusão motivadora, procuro ensinar quando escrevo, tanto na poesia, prosa, ou no jornalismo.

PJ – Muitas histórias terá guardadas durante todo o seu percurso de jornalista.

Quer partilhar connosco aquela que mais o marcou?

JV – Visto que sou leitor assíduo da Bíblia e que a estudo quase há 40 anos, colaborei em diversos jornais que me reservavam uma coluna para eu explanar um tema bíblico, muitos leitores devoravam tais temas, pois eu provava com base bíblica as contradições e os ensinos falsos ensinados pelas igrejas. O resultado era que uns queriam saber mais, outros parece que a sua consciência os acusava e faziam pressão perante os diretores dos ditos jornais para que não os autorizasse a publicar e isso certamente era um grande desafio para mim e para o jornal.

 PJ – Que lições tirou desta marcante experiência?

JV – Dessa experiência tirei a lição que qualquer jornalista deve escrever com respeito para com todos, mas deve ser frontal e claro nos temas que trata, ainda mais quando se trata de assuntos delicados como é o tema religião! Sempre citei fontes confiáveis, nunca especulei assunto nenhum, quando escrevo sei que uns concordam e outros questionam, mas nunca ninguém me provou que isso não é verdade. Para isso intitulei um dos meus livros “Só é Jornalista Quem Pode”. Daí para que o tema em causa não seja questionado e provado erróneo induzindo ao erro, eu tenho que estar bem dentro do assunto e devo conhecer bem as bases daquilo que as pessoas acreditam, ou professam crer. Um exemplo: se eu escrever sobre o tema evolução, ou criação, tenho que saber em que acredita um evolucionista, quais as suas bases e as suas provas. Tenho pois que explanar aquilo em que a pessoa acredita e depois apresentar os factos que provam tal fragilidade de ensino ou crença.

PJ – O que é ser um bom profissional ao serviço de um jornal quer regional quer nacional ou mesmo internacional?

JV – Ser um bom profissional é muito mais que ser jornalista, ou um bom perguntador. Vimos todos os dias um mundo de jornalistas fazendo perguntas a toda a classe de pessoas, desde presidentes, ministros, religiosos. Mas o erro de quase todos, ou da maioria deles são suas afirmações bombásticas e especulativas que afastam logo os seus interlocutores. Tais perguntas são na maioria para obter respostas quando dadas que visam grande tiragem de jornais ou notícia de abertura de uma rádio ou televisão. Para mim esse género não faz sentido nenhum. O que faz sentido é mostrar respeito pelos outros e não levantar perguntas contra ninguém que não se possam provar verídicas. Mas se um jornalista profissional, como disse, não praticar este tipo de jornalismo bombástico e duvidoso, provavelmente seria logo despedido do jornal.

PJ – Quer falar-nos de algum projeto, ao nível de escrita, em que esteja envolvido?

JV – Há neste momento um projeto em que estou envolvido, assim como o professor Carlos Almeida e outros poetas Santacruzenses, onde todos estamos envolvidos. A saber: Tornar a vila Poesia de Santa Cruz da Trapa numa vila que venha a ser reconhecida no mundo lusófono. Este projeto vai se materializou-se no mês de maio de 2019, nos dias 4 e 5 de maio. Virão até Santa Cruz da Trapa vários poetas da Lusofonia para partilhar connosco vivências literárias e verem que Santa Cruz da Trapa vai tornar-se o terceiro local em Portugal que vive a poesia, os outros locais são: Óbidos, Constância e agora Santa Cruz da Trapa! Também neste ano de 2019 faz 60 anos que iniciei a escrever meus primeiros versos, o tempo passa depressa, parece que foi ontem que isso aconteceu! Daí a Junta de Freguesia, na pessoa do Presidente, o senhor Celso Almeida, tem apoiado muitíssimo. Para este nosso Presidente dinâmico, o nosso obrigado e a todos quantos nos visitaram nesse fim-de-semana de 4 e 5 de maio de 2019.

PJ – Acredita que a sociedade dá a devida importância ao setor da cultura?

JV – Dá sim importância, mas não a devida importância à cultura. Mas posso dizer que estamos a despertar bem o interesse da sociedade local e cientes que irão apreciar cada vez mais este setor. Temos pois que persistir e exortar a sociedade para que note a importância de ler mais.

PJ – Além de escrever, que outras paixões nutre, que o completam enquanto pessoa?

JV – Para além da escrita, sou uma pessoa que leva o evangelho à casa das pessoas. Reconheço o valor dessa mensagem e o bom que seria na vida das pessoas aplicarem os bons conselhos bíblicos. Esse amor pelo próximo e a Deus dá-me coragem para partilhar com outros aquilo em que acredito que quando posto em prática, o resultado seria que as guerras terminariam, a violência doméstica acabaria e o mundo seria muito melhor em muitos outros sentidos.

PJ – Imagine a sua vida sem a escrita, como seria?

JV – Sem escrita, sem leitura e sem poesia, a fome literária me devoraria. A escrita é para mim como o alimento físico. A poesia é o pão de cada dia. Minha vida se tornaria muito escura e sombria.

PJ – Apenas numa palavra, pode descrever-se?

JV – Gosto mais de escrever do que falar. Amo as pessoas e não tenho dificuldade em fazer amizades. Gosto sempre de visitar pessoas idosas ou acamadas com uma palavra de consolo genuíno.

PJ – Para fechar esta entrevista, o que me diz o seu coração?

JV – O meu coração diz-me que ainda existem pessoas que o praticam o jornalismo sem ambições e com o espírito de abnegação à cultura!

PJ – Quero, em meu nome pessoal e em nome da Gazeta da Beira, dizer-lhe que foi uma enorme honra, Senhor José Valgode! Desejo-lhe a continuação de um excelente trabalho e MUITO OBRIGADA! Peço-lhe que deixe uma mensagem breve a todos os nossos leitores.

JV – Agradeço a todos os leitores a atenção dispensada e a todos os que visitaram Santa Cruz da Trapa nos dias 4 e 5 de maio. E continuem a divulgar o jornal “Gazeta da Beira “, embaixador de uma região!

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