Entrevista a Daniel David Gomes Martins

A rubrica “Gente Que Ousa Fazer“ será assente numa entrevista a alguém que tenha algo válido no seu percurso de vida. Gente que sabe o que quer e, acima de tudo, que luta por aquilo que quer. As entrevistas serão sempre encaminhadas de forma a mostrar o lado melhor que há em cada um de nós e, dentro do possível, ousar surpreender o leitor. Serão entrevistas com a marca das nossas gentes, da região Viseu Dão Lafões, de todos os quadrantes e faixas etárias. Vamos a isso!

 

Ficha Biográfica

Nome: Daniel David Gomes Martins

Idade: 45

Profissão: Advogado

Livro preferido: O Processo, de Kafka

Destino de sonho: Cuba

Personalidade que admira: Winston Churchill

 

Muito obrigada, Dr. Daniel Martins, por mostrar disponibilidade para esta entrevista da rubrica “Gente Que Ousa Fazer”. Comecemos pelo princípio.

Paula Jorge (PJ) – Pode descrever-nos o seu percurso académico?

Daniel Martins (DM) – Toda a minha vida de estudante, com exceção do ensino superior, foi feita em São Pedro do Sul, da pré-escolar, passando pela primária, ao ensino preparatório e secundário. No meu décimo primeiro ano optei por ir para a Universidade Católica do Porto, onde frequentei o então ano zero e onde me licenciei em Direito em 1997.

De então para cá e porque defendo e pratico a formação ao longo da vida, tenho passado por vários estabelecimentos de ensino superior, o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde frequento o mestrado em Administração Pública, o INA – Direção Geral da Qualificação dos Trabalhadores em Funções Públicas, onde frequentei vários cursos relacionados com a gestão pública, a Católica Lisbon Business  Economics e a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde frequentei e frequento vários cursos relacionados com o Direito.

 

PJ – Dr. Daniel Martins, fale-nos do seu percurso profissional.

DM – A primeira parte da minha vida profissional, iniciada em 1997, foi dedicada ao mundo do Direito, tendo exercido a minha atividade profissional de advogado no Porto e em São Pedro do Sul, o que fiz até 2008. Neste período acumulei sempre a profissão de advogado com a atividade de formador, principalmente em empresas da região de Lafões, e de dirigente associativo.

No ano de 2008, a convite da Professora Doutora Maria Manuel Leitão Marques, à época Secretária de Estado da Modernização Administrativa, rumei a Lisboa, onde fui seu assessor no XVII e no XVIII Governo Constitucional.

Em 2010 passei a integrar os quadros da Agência para a Modernização Administrativa, responsável pela rede nacional de serviços de atendimento composto pelas Lojas do Cidadão, onde me mantenho ainda hoje.

Em 2011 interrompi as minhas funções na Agência quando aceitei o convite formulado pelo Dr. Marco António Costa, então Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, para ser seu assessor no XIX Governo Constitucional.

 

PJ- Nas Autárquicas de outubro de 2017, como independente, foi o cabeça-de-lista do PSD à Câmara de São Pedro do Sul. Obteve 33% dos votos e o PS obteve 61%. Neste momento, não lhe peço, obviamente, para analisar resultados, mas pedia-lhe para nos falar das suas principais motivações como Vereador do executivo municipal de S. Pedro do Sul.

DM – As motivações que tenho hoje enquanto vereador da oposição são exatamente as mesmas que tinha enquanto candidato à Câmara Municipal de São Pedro do Sul em 2017: contribuir para que o meu concelho se desenvolva, para que os sampedrenses possam ter um melhor nível de vida, todos eles e não apenas os que votaram em mim!

 

PJ – Quais as áreas que, no seu entender, estão a precisar de uma maior intervenção por parte do executivo municipal no concelho de S. Pedro do Sul?

DM – São Pedro do Sul é um concelho que precisa ainda de muita coisa, praticamente em todas as áreas, e não falo intuitivamente, mas antes assente em factos. São Pedro do Sul tem perdido mais população do que muitos concelhos semelhantes em termos de área e localização, não tem conseguido atrair empresas e isso impede a criação de postos de trabalho, o que leva a que a maior parte dos jovens seja forçada a rumar para o estrangeiro, mas também para outras zonas do país. O problema destes jovens que saem é que nunca mais voltam, pois acabam por se fixar nessas novas paragens, aí passando a residir e a constituir família.

PJ – Fale-nos um pouco de alguns entraves, a nível geral, que possam apresentar-se como fatores impeditivos daquilo que se pretende fazer pelo município.

DM – O principal entrave é a falta de visão estratégica do atual executivo camarário, principalmente do Presidente da Câmara Municipal. A sua única preocupação é voltar a ser eleito nas eleições seguintes, pelo que se preocupa apenas com o curto prazo, com aquilo que pode manter os sampedrenses satisfeitos no imediato.

É por isso que a maior atividade do município é organizar festas e passeios. No imediato, este tipo de política resulta, mas, mais tarde, o concelho vai pagar uma pesada fatura. Todos os dias partem sampedrenses para fora, estamos a ficar um deserto e temo que a situação se torne irreversível. É deprimente estar em São Pedro do Sul a partir das 18.00 horas ou ao fim-de-semana. É deprimente visitar a maior parte das nossas aldeias e vê-las abandonadas, com casas vazias e em ruínas.

PJ – Quais os grandes projetos que pretende concretizar, a médio e longo prazo, na política?

DM – A política para mim é uma de tantas outras coisas que gosto. Nas eleições de 2017, apesar de ter sido convidado a candidatar-me apenas a 4 meses das eleições, aceitei o repto e dei o máximo que tinha para dar, sabendo que a tarefa era difícil. Construímos um programa que ainda hoje continua atual – e creio que continuará para os próximos 10 anos. Constituímos uma equipa motivada. Orientei a minha vida familiar para regressar a São Pedro do Sul no dia a seguir às eleições se as viesse a ganhar.

Não ganhei, mas não faço disso um desastre pessoal ou sequer um desastre político. Quem faz o que pode, faz o que deve e eu fiz tudo quanto podia, o melhor que sabia, o mais profissional que conseguia.

Continuarei sempre a acompanhar a evolução do meu concelho e os seus principais problemas, contribuindo da melhor forma que esteja ao meu alcance para os solucionar, mais envolvido ou menos envolvido, mais na linha da frente ou numa posição mais de retaguarda.

 

PJ – Qual o sentimento que o domina quando está no terreno ao serviço de uma população que também o elegeu?

DM – Frustração.

Sinto-me frustrado por o meu concelho ter um enorme potencial paisagístico e não o ver aproveitado, como por exemplo sucede com Arouca, que soma e segue com projetos inovadores nas suas serras, captando cada vez mais visitantes.

Sinto-me frustrado por o meu concelho ter das melhores Termas do país, mas ver o mesmo modelo de exploração de há 40 anos, sem chama nem rasgo para desenvolver novos mercados. Não fossem alguns privados que vão investindo dinheiros seus e nem quero pensar onde poderíamos estar.

Sinto-me frustrado por ver que o orçamento do Município é superior a 30 milhões de euros, mas que a maior parte dos seus funcionários e da Termalistur sobrevivem com o salário mínimo ou pouco mais e alguns deles com contratos precários.

Sinto-me frustrado por ver os comerciantes a definhar num cenário dantesco de abandono, a sobreviverem sem nenhuma espécie de apoio do Município.

Sinto-me essencialmente frustrado por não conseguir obter da parte do Presidente da Câmara a resposta à questão que deve estar presente em qualquer autarca: qual é o objetivo para o desenvolvimento do seu concelho?

 

PJ – Muitas histórias terá guardadas, quer partilhar connosco uma das que mais o marcou no seu percurso de vida, quer como Advogado, quer como Vereador do município de S. Pedro do Sul?

DM – Gostava de dar um exemplo positivo, mas, mais do que as histórias em concreto, o que sempre me impressionou enquanto advogado e enquanto vereador em São Pedro do Sul foi a miséria em que vivem ainda tantas pessoas do nosso concelho. Constatei isso pelas pessoas que defendi enquanto advogado, mas também pelas histórias de vida a que fui assistindo, nas visitas que fui fazendo pelas nossas aldeias, nos casos e pedidos que nos chegam às reuniões de Câmara.

Creio que a maioria das pessoas do nosso concelho não faz ideia das más condições de vida de muitos dos nossos conterrâneos, em termos de habitação, saúde, educação e informação.

 

PJ – Porque os jovens são o futuro, acha que os jovens, atualmente, acompanham e dão valor à política?
DM – Os jovens de hoje não acompanham a política e, como tal, não lhe podem dar valor. Não acompanham porque não são chamados a participar na vida cívica desde tenra idade, não são envolvidos. Este estado de coisas não faz nenhum sentido nos dias de hoje, muito menos num concelho como o nosso, que deveria ouvir os jovens, pois só garantindo a sua permanência no concelho é que o concelho pode continuar a sobreviver.

Foi por isso que, na lista do PSD das últimas eleições autárquicas, levávamos uma jovem. Foi por isso que realizámos vários debates com jovens e integrámos todas as suas propostas no nosso programa. Não há que ter medo de atribuir lugares importantes aos jovens de hoje, que têm um nível brutal de preparação, melhor do que muitos dos que se vão arrastando na política.

Os partidos, todos eles, sem exceção, fecham-se sobre si próprios, para que entre pouca gente nova, sempre com a ideia de que quanto menos forem, mais facilmente são controlados. Este controlo de entradas torna a política numa atividade obscura, com interesses pouco claros, impossibilita a discussão aberta, procurando antes que os poucos fóruns políticos assentem no unanimismo.

Em suma, a culpa não é dos jovens, mas de quem está nos cargos de poder e que não os quer ou não sabe envolver.

 

PJ – Para além da advocacia e da política, que outras paixões nutre, que o completam enquanto pessoa?

DM – Em primeiro lugar a família e a obrigação que temos em proporcionar-lhe o melhor que temos, não no sentido de bens, de dinheiro, mas de tempo de qualidade que devemos passar com ela.

Em segundo lugar, os amigos que escolhemos e que nos permitem ser escolhidos e que nos acompanham ao longo de toda a nossa vida, nos bons momentos, mas também nos menos bons, em todas as suas componentes, a social, a desportiva, a cultural, a gastronómica, etc…, e que devemos manter sempre por perto, mesmo que à distância!

 

PJ- Apenas numa palavra, pode descrever-se?

DM – Vou recorrer a uma palavra, seguida de mais duas ou três explicativas da palavra selecionada: perfecionista, não no sentido de quem busca a perfeição, porque isso implicaria que a reconheço, o que não é o caso. Um perfecionista consciente de que a perfeição não existe, mas de que todas as coisas podem e devem sempre ser melhoradas.

 

PJ – Para fechar esta entrevista, o que me diz o seu coração?

DM – O que me diz o meu coração não sei, mas sei o que lhe digo eu a ele: que dure muito porque tenho tantas coisas para fazer na vida que temo vir a necessitar de dois ou três corações para conseguir terminar metade das que gostava de realizar.

 

PJ – Quero, em meu nome pessoal e em nome da Gazeta da Beira, dizer-lhe que foi uma enorme honra, Dr. Daniel Martins! Desejo-lhe a continuação de um excelente trabalho e MUITO OBRIGADA!

Peço-lhe que deixe uma mensagem breve a todos os nossos leitores em particular e aos sampedrenses em geral.

DM – Não se resignem nunca e acreditem que tudo pode sempre ser melhorado e que o nosso concelho tem todas as condições para poder ser um melhor local para viver trabalhar e constituir família!

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