Em Foco 720
A tragédia de Pedrógão Grande é o risco permanente em que vive o interior
No concelho de Pedrógão Grande, vítima de um dos maiores incêndios de que há registo no país, numa área de 128 quilómetros quadrados vivem menos de 4 mil pessoas, um terço das quais com mais de 65 anos. A indústria é muito frágil: havia uma serração, ardeu; havia um lagar, ardeu. Resta pouco.
Falemos cruamente: os incêndios de Pedrógão foram uma tragédia humana e fizeram implodir o que restava nesta área do centro do país. Vão ser precisos anos e anos, para recuperar. Vai ser necessário muito investimento público e privado e muito trabalho. E, terá de ser, com outras políticas.
A tragédia de Pedrógão Grande é o risco permanente em que vive o interior. No ano passado, foi a região entre S. Pedro do Sul e Arouca que sofreu esta devastação pelo fogo. Será inevitável sujeitar o interior do país a tais riscos?
Especialistas há muito identificaram o grave problema do desordenamento florestal, com extensos povoamentos monoespécie, sobretudo de eucaliptos.
A falta de fiscalização de algumas boas normas legais existentes sobre florestação agrava o caos florestal.
Por outro lado, no centro e norte do país, a extrema divisão da propriedade privada impede o imprescindível ordenamento. Como responder a este problema crucial?
Há quem sugira, à direita e à esquerda, a nacionalização/expropriação das pequenas propriedades abandonadas. Ilusória solução, porque a dispersão territorial das parcelas manter-se-ia e a floresta continuaria ingerível.
Já o Governo aposta na criação de empresas com “gestão profissional” que até podem ter capital inteiramente exterior à floresta. Seria inevitável a concentração da propriedade nas mãos de uns poucos – que não é difícil adivinhar quem.
Numa região de minifúndio, onde em muitos casos as pequenas parcelas não geram rendimento e acabam abandonadas, o ordenamento florestal implica a urgente definição de perímetros florestais de gestão coletiva, obrigados a planos de gestão florestal aprovados pelos serviços públicos.
Limitar as manchas florestais, reduzir as monoculturas, em especial do eucalipto e do pinheiro bravo, instalar um dispositivo de prevenção dos incêndios florestais só é alcançável com regras claras de ordenamento, gestão coletiva da floresta do minifúndio e ação pública na execução e fiscalização.
Este é um processo longo e exige muito apoio do Estado? É verdade que exige, mas quebrar o ciclo de décadas de abandono de intervenção pública na floresta é uma urgência que não se pode ficar pelos meses quentes do verão.
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