EDITORIAL 708

Tempo de Natal

Tempo de Natal, tempos de Natal. Tempo de memórias, tempo de viver. Tempo de memórias de infância feliz com presépio, festa, família e prendas; tempo de memórias de infância com cheiro a fome, miséria, frio, desconforto e tristeza; tempo de viver a festa e a alegria do Natal; tempo de sentir as injustiças, a insegurança, o medo e o desespero; tempo de solidariedade e de celebração. Vários tempos, mas todos muito intensamente vividos.

Cada um e cada uma vive o seu próprio tempo em cada Natal. Cada um e cada uma pode também perceber e sentir o tempo das outras pessoas, sobretudo o tempo de quem precisa de solidariedade, de luta e de forte empenho na construção de uma sociedade mais justa e sustentável. O Natal é um misto de tudo isto, sobretudo a solidariedade de pensar nos outros e para os outros.

Assistimos neste momento a dois debates que são bem o exemplo do muito que há a fazer para a transformação social que se impõe para uma sociedade justa, inclusiva e sem medos: o debate sobre o aumento do salário mínimo nacional que decorre ao nível da “concertação social” entre entidade patronais, sindicatos e governo e o debate que decorre na Assembleia da República sobre a reposição das freguesias.

À data do encerramento desta edição da Gazeta da Beira ainda não são conhecidos os resultados da votação sobre as freguesias realizada na quinta-feira, dia 22, no Parlamento.

Em cima da mesa, propostas do PCP e do Bloco de Esquerda (BE) para reposição de freguesias, antes das eleições de outubro de 2017, e uma resolução do PS para a avaliação da reforma do ex-ministro Relvas e mais competências para as autarquias após o ato eleitoral, na linha do que preconiza o Governo.

A Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, presidida pelo Deputado Pedro Soares, aprovou no passado dia 20, por unanimidade, o relatório do grupo de trabalho parlamentar para a reorganização territorial das freguesias, que concluiu não ser possível elaborar uma proposta comum sobre os projectos de lei do PCP e BE e o projeto de resolução do PS. Por essa razão, vão todas a votação.

A propósito do debate em curso sobre o aumento do salário mínimo nacional (SMN), se não fosse tão grave, apetecia dizer simplesmente: vergonha!

É uma vergonha um país manter o salário mínimo ao nível dos mais baixos da Europa, é uma vergonha tamanha discussão para aumentar uns míseros euros, é uma vergonha o Governo pretender oferecer aos patrões a baixa da Taxa Social Única em 1% em troca do seu acordo para aumentar o SMN, o que significa por os contribuintes a pagar às empresas privadas para elas aumentarem o salário mínimo, é uma vergonha o Governo não ter a coragem política para impor um aumento digno do SMN.

Como se alguém pudesse ter uma vida digna com estes níveis salariais, ao mesmo tempo que se assistiu à enorme degradação do sistema de saúde, educação, apoios sociais e habitação social.

Natal a sério, seria a reposição da identidade e da proximidade das populações com as suas freguesias e um aumento do SMN que trouxesse dignidade de vida a todas as famílias portuguesas. • Maria do Carmo Bica

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