Destaque (Ed.662)

“Produzir vinho certificado de Lafões é um serviço público”

António Lopes Ribeiro, Engenheiro Zootécnico de profissão, decidiu certificar o vinho. A partir deste ano, também o “Encosta de Lafões” passa a ter Dominação de Origem Protegida (DOP). Mais cerca de 7 500 litros de vinho certificado. Já são cerca de 30 mil litros. Depois do fim da Adega Cooperativa de Lafões, a marca Lafões, quase morria. Uma fase que parece ultrapassada. A pouco e pouco, vão aumentando os produtores e os litros produzidos. Em entrevista à Gazeta da Beira, António Ribeiro explica porque é que decidiu certificar o vinho e fala da importância deste produto para a região de Lafões.

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Há cerca de um ano a Gazeta da Beira levantava a questão: “Qual o futuro do Vinho de Lafões?”. Sem produtores certificados, a DOP Lafões podia desaparecer. Na altura, havia apenas um produtor António Costa. Hoje são três os produtores, três os vinhos certificados: O vinho da Quinta da Moitinha, em Vila Maior, o Chão do Vale em S. Miguel do Mato e, mais recentemente, o Encosta de Lafões, em Lourosa, Santa Cruz da Trapa. O vinho de Lafões atravessa agora uma nova etapa. O sector começa a revitalizar-se, há novamente esperança na marca.

Encosta de Lafões certifica mais de 7 mil litros

António Ribeiro não esconde a paixão pelo sector vinícola. Uma paixão que o levou a criar uma exploração de cerca de 1,5 hectare e a aplicar todos os seus conhecimentos técnicos no terreno.

Atualmente, nesta exploração, 90% das videiras são de casta branca, os restantes 10% são de casta tinta. O objetivo é reconverter praticamente toda a produção para vinho branco. A casta em que Lafões tem o poder diferenciador. O engenheiro zootécnico não tem dúvidas, Lafões produz brancos únicos. “Podem-se produzir brancos em qualquer parte do país, mas não o conseguem produzir com a tipicidade, que carateriza o nosso. O Lafões tem uma característica muito específica, não é um vinho demasiadamente alcoólico, é um vinho muito equilibrado, e para ser agradável de boca e deixar-se beber, não deve ir além dos 12 graus”, explica.

O produtor já fazia vinho há alguns anos e entregava-o à Adega Cooperativa. Com o seu encerramento viu-se obrigado a investir num espaço para continuar a produzir com qualidade. Como refere, “não podemos brincar às enologias” porque o vinho é um produto alimentar, temos que garantir a sua qualidade e assegurar todas as condições de higiene e sanitárias: frequências nas lavagens e desinfeções, para evitar desenvolvimentos de bactérias prejudiciais ao vinho. Sem passar por isso é impossível produzir e certificar vinho.” Um investimento na ordem dos 50 mil euros que contou com apoios comunitários na ordem dos 50%.

vinho2A decisão de certificar o vinho surge em 2014, depois de um convite da Comissão Vitivinícola da Região do Dão (entidade certificadora). Os cerca de 2 500 litros da colheita 2014 têm, agora, o selo de qualidade DOP Lafões. Mais do que mais-valias comerciais, o que levou António Ribeiro a certificar o vinho foi a promoção da região. Como refere, “A produção do vinho é importante para a região. Onde chega uma garrafa do Encosta de Lafões chega também a região é portanto uma forma eficaz de promoção. Além do que, eu entendo que muito da paisagem de Lafões se deve à vinha, a sua verdura faz desta região “aquilo que chamam Sintra da Beira”. Não nos podemos demitir da função de produzir o vinho, produzir vinho de Lafões é um serviço público.”

“Lafões merece uma unidade de vinificação”

António Ribeiro lamenta o encerramento da Cooperativa de Lafões que acredita só ter acontecido por “ter tido maus gestores”. O fim da Adega levou à queda do vinho de Lafões certificado. Quem quis continuar teve que usar os seus próprios meios.

A união faz a força e António Ribeiro acredita que a criação de uma unidade de vinificação seria um passo importante para revitalizar o Vinho de Lafões. “Lafões precisava de uma unidade que vinificasse entre 750.000 a um milhão de litros. Seria importante que os produtores e engarrafadores se juntassem, só assim todos os produtores teriam o mínimo de condições para produzir com qualidade e também seria mais fácil conseguirmos apoios. Lafões merece uma unidade de produção do nosso produto, porque o vinho de Lafões é de facto, um mensageiro de Lafões pelo país e pelo mundo”, justifica.

 Balanço das vindimas 

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António Ribeiro já acabou as vindimas. Em jeito de balanço fala de uma redução da produção, mas garante, a qualidade não foi afetada.

Este foi um ano atípico para as uvas. Como explica António Ribeiro, “O clima não favoreceu as vindimas, a nascença foi má”.

A humidade excessiva ao longo do ano contribuiu para o aparecimento de doenças do foro criptogâmico em percentagens muito elevadas na vinha e quem não esteve atento não obteve produção, (não sendo o meu caso), mesmo assim, tive uma quebra da produção em brancos na ordem dos 30%. Os meus tintos tiveram melhor sorte, “até aumentaram ligeiramente a produção”.

A quantidade, contudo, não foi afetada. Como explica o produtor, “tivemos uvas perfeitamente sãs e saudáveis, o grau alcoólico provável ronda os 12%, médias que considero excecionais para Lafões, ainda mais neste ano que foi péssimo para a vinha. Houve muita chuva o que nos obrigou a um cuidado acrescido nos tratamentos fitofármacos”.

Redação Gazeta da Beira