Crónicas do Olheirão por Mário Pereira

Até o lixo desapareceu

Não conseguindo escrever sobre o grande desastre que nos afetou a todos e das enormes perdas que muitas pessoas sofreram, vou falar de coisas agora sem importância, com a consciência de que se lhe dermos a devida importância no futuro poderemos minorar alguns desastres.

Vou retomar uma crónica que comecei a escrever, exatamente há um mês atrás, mas que por ter surgido um tema que, então, me pareceu mais pertinente não terminei, deixando a ideia para outra oportunidade.

Infelizmente, o lixo que era o tema desapareceu.

Vou falar do lixo que se via ainda há um mês, com a esperança de que partindo agora do zero não voltemos à mesma situação em poucos anos ou mesmo meses.

Como o Verão é propício a isso costumava fazer caminhadas dentro de várias povoações, incluindo a vila de Oliveira, e ao longo de várias estradas.

Nos caminhos e ruas dentro das aldeias era fácil encontrar ervas e silvas que cresciam sem controlo, restos das atividades agrícolas, mas também muitos plásticos, papeis, garrafas de vidro e um pouco de tudo o que se possa imaginar.

Poderíamos pensar que este era um problema das aldeias, mas dentro da vila de Oliveira saindo do núcleo central e indo até à Devesa ou à Remolha o aspeto era o mesmo.

Caminhando ao longo das nossas estradas conseguíamos, ainda há mês, encontrar as coisas mais variadas nas bermas. Em algumas estradas com mais trânsito já não havia, literalmente, um palmo livre dum pedaço de plástico, papel, vidro, latas e outras embalagens.

Era fácil encontrar embalagens de iogurtes líquidos, garrafas de água, que depois de vazios foram atirados pela janela, lenços de papel, fraldas de bebé, etc, mas também encontrei caixas do McDonalds, e situações em que as pessoas foram propositadamente despejar o lixo que tinham em casa na berma duma estrada.

Se tivéssemos conseguido recolher e juntar todo lixo que se encontrava nas bermas das nossas estradas ele daria para fazer um monte bem alto.

Acontece que a limpeza das bermas, com fresas próprias para destruírem pequenos arbustos, feitas pelas câmaras e pela Infraestruturas  de Portugal não são uma solução para este problema e podem até agravá-lo.

Na verdade, acontece que ao cortar o mato e a erva as fresas desfazem também todo o plástico que lá se encontra que assim fica pronto para nas primeiras chuvadas ser arrastado para os rios e daí para o mar, sendo provável que algum volte a nossa casa na sardinha que comermos nos próximos anos.

As pessoas são complexas e por vezes estranhas.

Fomos capazes de, praticamente, de um dia para o outro deixar de usar sacos de plástico quando vamos às compras ao supermercado, o que parecia ser uma coisa difícil dados os hábitos instalados, mas muitas das pessoas que conseguiram isso continuam a ser capazes de no caminho entre o supermercado e a sua casa beberem uma bebida e atirarem a embalagem pela janela fora.

Óbvia a necessidade das câmaras agirem, mas  pensando um pouco podemos imaginar o custo que teria, para qualquer câmara municipal dos meios rurais, manter limpas desses lixos  todos os caminhos e estradas do respetivo concelho

Sendo que o grande incentivo para reduzir drasticamente o  uso dos sacos de plástico nas compras foi eles serem pagos, poderá ser necessário criar algo que incentive as câmaras a fazerem uma limpeza regular e ao mesmo tempo incentive os cidadãos a não sujar.

Uma das hipóteses a considerar seria  a criação de um sistema que calcule o custo  de manter limpas, de lixos nocivos para o ambiente, as bermas das estradadas e caminhos, o qual no final do ano seria dividido pelos munícipes como uma taxa extraordinária de recolha do lixo.

Havendo pouco lixo a Câmara teria pouco trabalho e nos pagaríamos menos.

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