Crónicas do Olheirão de Mário Pereira

O estado e a restauração das freguesias

O Partido Socialista fez, em tempos, a promessa de que as freguesias agrupadas em uniões de freguesia, se o desejassem, poderiam retomar a sua autonomia, mal isso foi dito, logo veio o Sr. Presidente da República dar voz aos grupos que são contra esta possibilidade dizendo que isso não deveria ser considerado antes das próximas eleições.

A criação das uniões de freguesias foi uma imposição da Troika com o objetivo de reduzir a dimensão de estado e dar-lhe “racionalidade”, o que há 8 anos, como agora, significava reduzir os serviços públicos.

A contestação a estas uniões tem sido pontual e em geral em lugares bastante povoados, sendo várias as razões para que esse movimento não ganhe outra dimensão.

Nas pequenas cidades e vilas, as Juntas de Freguesia, muitas vezes, não têm uma atividade que, o comum dos cidadãos, distinga da atividade da Câmara Municipal, enquanto nos lugares onde a Junta de Freguesia poderia ter um papel importante, também como símbolo da presença do estado, são cada vez menos e mais velhas as pessoas que lá moram.

No tempo de vida de uma geração, diversas freguesias onde o estado estava presente através da junta de freguesia, da escola e, em alguns casos, da extensão do centro de saúde, deixaram de ter qualquer presença do estado.

Ao mesmo tempo também a igreja católica, pela necessidade de racionalizar os seus recursos, deixou de lá ter párocos em permanência e até as mercearias, à medida que os seus proprietários foram envelhecendo, se extinguiram.

Estes encerramentos, obviamente, reforçam a tendência natural para o abandono, pois não é possível viver em lugares onde não exista o mínimo de serviços.

A natureza, com os incêndios recorrentes, encarregar-se-á de correr com os últimos resistentes, mas é bom termos consciência que as serras com as aldeias em ruínas não serão o mesmo que eram quando habitadas.

O nosso Presidente e o Primeiro Ministro, tal como todos nós, teremos de refletir sobre o que queremos fazer com o território do nosso país, se continuarmos a acelerar o processo de abandono do território e isso fará com que daqui a alguns anos estejamos a discutir a união de algumas uniões de freguesia e de muitos municípios.

Este processo de abandono pelo Estado e os serviços dos territórios menos povoados tem hoje manifestações que há alguns anos acharíamos aberrações, mas podem ser antevisões daquilo que por aí virá.

Aconteceu-me ir ao BPI em Oliveira de Frades e em S. Pedro do Sul para levantar dinheiro e dizerem-me que a caixa só estava aberta à tarde, também, por estes dias, na Caixa Geral de Depósitos, ao chegar às 11 horas, disseram-me que a caixa tinha fechado às 10 e 30.

Isto, é claro, faz parte do esforço de racionalização dos serviços, decidido por grandes gestores, mas quem se “lixa” são sempre os mesmos.

Quando vemos a CGD e o BPI fazerem publicidade aos seus programas de responsabilidade social para idosos e pobres não podemos deixar de perguntar se a sua primeira responsabilidade social não será assegurar o normal funcionamento dos balcões que eles utilizam.

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