Crónicas do Olheirão de Mário Pereira

Poluição ecológica

Há ideias que se vão instalando e que parecem ter uma lógica tão natural que se tornam inquestionáveis, até perguntarmos qual é a sua razão de ser. A pintura das ecopistas, ecovias ou ciclovias é uma dessas coisas que parecem leis da natureza.

Aconteceu-me, há dias, passar por uma vila da região centro, onde, como é moda, andam a fazer uma pista ao longo da estrada nacional, num sítio que aliás tem excelentes condições para isso, pois é largo e plano.

Uma parte do percurso já estava pintada com tons de amarelo e vermelho tão berrantes e tão fortes que até passando de carro chocavam.

Achei aquelas cores estranhas e dei comigo a pensar que não havia necessidade de estragar um passeio agradável com aquela pintura.

É óbvio, que aquelas cores não são necessárias nem úteis, mas a diferença para os tons de verde ou de vermelho mais suaves, que costumamos ver, é só de intensidade. Todas acrescentam poluição, que naquele caso entra pelos olhos dentro, mas não deixa de existir quando usamos cores suaves.

Há uma óbvia contradição quando queremos fazer algo ecológico e o pintamos com tintas químicas.

Se alguém agradece não será o ambiente, mas sim os maiores poluidores do planeta que produzem produtos derivados do petróleo e outros químicos.

Aceito que é necessária sinalização, mas bastaria fazer umas linhas ou desenhar umas bicicletas no chão, o que também tem se ser feito quando pintamos a pista toda, pois é necessário pintar a sinalização por cima.

Asfaltar uma ecopista e pintá-la com uma tinta plástica verde não a torna mais ecológica. Podem dizer-me que fica mais bonita, mas é óbvio que as dezenas de latas de tinta, usadas para pintar a ecopista do Vouga em Vouzela e S. Pedro do Sul ou os passeios, que estão e construção dentro de Oliveira Frades e S. Pedro do Sul, vão sofrer desgaste e com o tempo acabarão transformadas em milhões de pequenos pedaços de plástico que a água da chuva arrastará para o rio Vouga e para o mar.

Havendo uma grande probabilidade de, num futuro próximo, ao comermos uma sardinha assada pelos santos populares, no caso de ainda houver alguma, ela vir recheada com alguns desses plásticos.

Neste ponto, parece-me muito bem a opção que foi tomada na Ecopista do Vouga de usar materiais naturais, se é que podemos chamar produtos naturais ao cimento e à madeira tratada com químicos, mas já me aconteceu ter de argumentar com pessoas que me diziam que se fosse asfaltada e pintada de verde é que era boa.

Pintar ecopistas é, entre nós, visto como um símbolo de riqueza, mas parece-me mais uma daquelas situações que explica a nossa pobreza, pois gastamos dinheiro em coisas que não acrescentam funcionalidade, mas geram poluição e maiores custos de manutenção futura.

Talvez, fosse útil mandar os nossos projetistas ver como são as ciclovias nos países ricos, pois, nos que visitei, não me lembro de ter visto tantas ciclovias pintadas.

15/06/2023


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