Crónicas do Olheirão

E porque não raciocinar um pouco antes de racionalizar?

Ed648_Trib-VouzelaA racionalização dos serviços públicos tem vindo a ser apresentada como a justificação para o encerramento dos tribunais de Oliveira de Frades e Vouzela,  para os encerramentos que já aconteceram e para os que irão acontecer a curto prazo.

Esta justificação faz sentido pois todos os governo têm a obrigação de não desperdiçar dinheiros públicos.

O problema começa com os critérios dessa racionalização. O único critério parece apenas a estrutura dos serviços e não o serviço que esses serviços prestam às pessoas.

Ed648_TriB-OFradesNa nossa região a primeira grande racionalização dos serviços foi o encerramento da linha do Vale do Vouga.

Seguiu-se a racionalização dos transportes públicos rodoviários e com isso muitas localidades ficaram sem transportes públicos

A última grande racionalização foi a união das freguesias.

Entretanto a EDP racionalizou os serviços  e hoje não há nenhuma loja oficial da EDP na região de Lafões.

Os correios já racionalizaram e querem continuar a racionalizar.

A próxima racionalização é dos tribunais e a seguir serão racionalizadas as finanças.

Temos ouvido muita gente falar de racionalizar mas ainda não ouvimos ninguém raciocinar sobre os resultados que se pretendem atingir.

O governo, e nisto o PS não tem sido melhor, racionalizar é apenas fechar serviços onde há poucas pessoas.

Quando os inteligentes dizem que racionalizar é fechar os serviços nas pequenas localidades, parecem querer dizer-nos que somos irracionais por morarmos aqui.

Racionalizar rima com centralizar. É uma constatação que os nossos dirigentes não conseguem pensar em racionalizar sem dizerem centralizar.

Em Portugal cada aldeia se julga o centro do mundo e há na nossa região exemplos fantásticos dessa cultura.

Quando há 20 anos foi construída a Escola EBI de Oliveira de Frades, não foi construída entre Arcozelo das Maias e Ribeiradio, porque era preciso fazer da vila um grande centro. Hoje não restam dúvidas que as escolas de Santa Cruz da Trapa e Campia têm contribuído muito para a manutenção da vida naquelas zonas, enquanto Ribeiradio e Arcozelo das Maias agonizam.

O projeto, em curso no concelho de Oliveira, de fechar todas as escolas do primeiro ciclo insere-se neste pensamento.

Uma das exigências da Câmara de Viseu para integrar a Comunidade Intermunicipal Dão Lafões foi esta se chamasse Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões.

Desde há anos que defendo a fusão dos três concelhos de Lafões como um ponto de partida da reorganização dos serviços públicos.

O grade obstáculo está no receio, muito fundamentado, de que existindo um só concelho existiria uma só cabeça e portanto tudo seria deslocado para essa localidade desertificando as restantes.

O que é curioso é que o concelho parece ser a única coisa pela qual as elites locais estariam verdadeiramente dispostas a lutar, daí que o governo não tenha mexido nos municípios.

Pelas freguesias, onde viviam algumas centenas de pessoas idosas ninguém se dispôs a desobedecer ao partido.

Quando fecharam as urgências em Vouzela, a revolta não foi tanto pela redução das urgências, em Lafões, de três para uma mas sobretudo contra a única urgência não ter ficado em Vouzela.

Em Portugal parece que há ainda muita gente com vergonha das suas origens rurais, seja em Lisboa, Viseu, Vouzela, Oliveira de Frades ou S. Pedro do Sul,  só esse estima justifica que os deputados do interior não sejam capazes do mais pequeno gesto de indignação e votem, alegremente, todas as reformas que aniquilam o interior.

No fundo todos eles sabem que as decisões, raramente, são suportadas por estudos aprofundados e por isso julgam que conseguirão desviar os raios para as terras dos vizinhos e proteger a sua.

O Tribunal de Oliveira de Vouzela juntos cumpririam todos os critérios para continuar a funcionar um tribunal. Contudo, acredito que provocaria mais contestação dos poderes locais a fusão dos dois tribunais num só do que o fecho dos dois, quer ele ficasse sediado em Oliveira ou em Vouzela.

A perda de serviços públicos na região é importante e tem sido acentuada pela postura das três câmaras municipais que, mesmo perante uma ameaça da dimensão da que tem estado em curso, teimam em se manterem de costas voltadas cada uma convencida que consegue influenciar as decisões do governo em favor do seu concelho.

• Mário Pereira

Redação Gazeta da Beira

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