Cooperativa Agrícola de Lafões, o trampolim da avicultura da região

As atividades económicas de Vouzela que o tempo apagou

A Gazeta da Beira inaugura uma nova rúbrica. Chama-se “As atividade económicas de Vouzela que o tempo apagou” e tem como grande objetivo recuar no tempo e recordar as atividades económicas de outros tempos. Esta é uma tentativa de escrever um período da história do concelho, através de estórias e protagonistas. Enquanto é tempo, e o tempo, como sabemos é fugaz. Quais eram as principais atividades de Vouzela na geração dos nossos avós? Do que forma contribuíram para a construção do retrato do que é hoje o concelho? O início, o fim e o que aconteceu entretanto. As perguntas são muitas, vamos à descoberta das respostas.

Começamos pela Cooperativa Agrícola de Lafões. Nasceu em 1965, quando a avicultura, no modo industrial, dava os primeiros passos no país. Sendo o berço aqui tão perto, em Tondela, facilmente se compreende que não demorou muito para que esta fosse também uma atividade económica de relevo em Lafões, a qual fez a diferença na vida de muitos.

A importância da avicultura em Lafões e o papel da Cooperativa

O exemplo de Tondela rapidamente inspirou Lafões, o número de produtores cresceu rapidamente, também, na nossa região. Houve necessidade de organização e regularização dos preços dos mercados, que justificou a constituição, em Vouzela, da Cooperativa Agrícola de Lafões.

Na realidade a avicultura teve um forte impacto económico na época, permitiu a melhoria de vida de muitas famílias e foi, nestes territórios, uma arma importante contra a vaga de emigração que se fazia sentir na década de 60. A Cooperativa de Lafões teve um papel decisivo para o crescimento da avicultura em Lafões, implantando métodos de gestão inovadores.

Nesta edição damos-lhe conta de como tudo começou. Para início de conversa, a Gazeta da Beira falou com António Bica, um dos fundadores e presidente da direção que mais se destacou. Nas mãos trazemos, ainda, o Relatório da Direção do ano de 1973, com informação pertinente, como prova daquilo que se viveu e que aqui se relata, e que servirá de fio condutor nesta reportagem.

Nasceu a avicultura e logo chegou a Lafões

Besteiros, Tondela, década de 50. É assim que começa a história da avicultura, segundo métodos industriais. “Um italiano chamado engenheiro Morelli, que era agrónomo, tinha na Itália colaborado com os Estados Unidos da América (durante a invasão da Itália, aquando da 2ª Guerra Mundial), na produção de ovos segundo métodos industrias que, pelos vistos, os americanos já tinham ensaiado para resolver os problemas de alimentação que a guerra impunha. Ora o engenheiro agrónomo, casado com uma portuguesa, tuberculizou e veio tratar-se para o Caramulo, num dos muitos sanatórios aí existentes e acabou por curar-se. Resolveu ficar no país e dedicou-se a fazer uma pequena agricultura do método industrial com os métodos que tinha aprendido”, explica António Bica.

Muito mudou com a avicultura em modo industrial. “Assim nasceram os aviários com galinhas geneticamente selecionadas para maior produção de ovos. As aves eram criadas em espaços confinados (aviários), sendo-lhes fornecida alimentação sem restrições e água limpa em abundância. As camas deviam manter-se secas para que o ambiente não ter maus odores e ser sadio”, justifica.

Os pequenos agricultores logo verificaram que a atividade era sinónimo de algum rendimento e também decidiram apostar. A Avicultura foi-se afirmando em Tondela.

Não tardou muito a chegar a Lafões, o que aconteceu no final da década de 50. “Começaram a surgir negócios pequenos, com cerca de 250 a 500 galinhas”, recorda António Bica. O negócio principal era a venda de ovos, como subprodutos havia, paralelemente, a venda de frangos. Como não se conseguia distinguir o sexo dos frangos à nascença, eram criados, em conjunto, até aos seis meses.

Assim, começou a surgir o pequeno comércio ligado à avicultura. “Os fornecedores de ração compravam rações às fábricas, entregavam à casa dos agricultores, depois compravam os ovos e levam-nos para o mercado, compravam pintos e forneciam pintos.”

Depois da primeira grande crise de preços, nasce a Cooperativa

A avicultura ia crescendo e dando rendimento aos pequenos produtores. Em 1963, contudo, houve uma crise de preços. “O motivo é claro, houve um grande aumento de produção, os comerciantes não reduziram a margem e começaram a ter prejuízo”, explica António Bica. Este foi o contexto que ditou o surgimento da Cooperativa Agrícola de Lafões.

José Lopes Ribeiro do Crasto de Campia foi o primeiro presidente da direção da Cooperativa, sendo directores também José Bastos de Paredes Velhas, Cambra e Cândido de Alcofra. António Bica, na altura estudante de Direito na Universidade de Coimbra, surge, nesta primeira lista, no Conselho Fiscal. “Fizemos os estatutos e começámos a trabalhar. A CUF, que era uma grande empresa agroquímica do Barreiro deu-nos rédito a 90 dias, os aviários fornecedores de pintos do dia também davam crédito razoável. Tínhamos condições para começar”.

Os primeiros passos

No início, antes de construir as instalações naquilo que é hoje a Escola Profissional de Vouzela, a Cooperativa de Lafões algum um pequeno espaço, num edifício que ainda existe na rua que dá para a Foz. Era em frente ao velho tanque do Seixo onde se lavava a roupa e se ia à água, que foi desnecessariamente derrubado e se situava em frente às actuais antigas instalações da GNR. “No primeiro andar eram os escritórios, por baixo o armazém”.

À Cooperativa cabiam duas funções essenciais. O transporte e a comercialização. “Fornecíamos aos associados rações, pintos, produtos zootécnicos e depois recolhíamos os ovos e os frangos para vender”.

Os ovos eram escoados, predominantemente, em Lisboa. “Criámos um pequeno Armazém em Loures, contratamos para lá um motorista que vendia ao pequeno comércio: mercearias, restaurantes…”. Já os Frangos (subproduto) eram vendidos, essencialmente, no mercado do Porto.

Os lafonenses foram, de imediato, recetivos à ideia, no ano da sua constituição a Cooperativa Agrícola de Lafões já tinha 79 associados. Em 1965, ano de arranque, foram vendidas mais de 276 mil dúzias de ovos e 6.184 quilos de frango. Por outro lado, foram vendidos 18.440 quilos de ração e fornecidos 25 mil pintos.

Mas nem tudo foram rosas, a Cooperativa fechou o ano com um forte prejuízo. “No fim do primeiro ano a Cooperativa teve um prejuízo relativamente grande para a dimensão, era uma cooperativa pequena. Enquanto o valor do movimento comercial, nesse ano, foi de 7 mil contos, tivemos um prejuízo de 300 contos”. Era preciso inverter o ciclo.

Nestas circunstâncias os corpos sociais decidiram a alterar a direção. António Bica foi convidado a ser o novo Presidente da Cooperativa e  aceitou. “Não vou interromper o curso para vir para aqui, mas como à sexta-feira  não tenho aulas, posso vir na quinta à noite e,  estou  na sexta e sábado e vamos ver se endireitamos isso!”, disse António Bica na altura.

Um prejuízo de 300 contos era de facto um número expressivo tendo em conta a dimensão da Cooperativa. Quando assumiu a Direção da Cooperativa Agrícola de Lafões, António Bica tinha esse ponto bem claro na sua cabeça e um dos seus primeiros objetivos foi, naturalmente, perceber o que é que correu mal. Para isso, analisou pormenor, a pormenor. Tinha nas suas mãos uma equação difícil que teria que resolver. A pergunta imponha-se de onde resultava o prejuízo? As soluções acabaram por chegar. Como explica António Bica, “O prejuízo resultou fundamentalmente da diferença entre rações compradas à fábrica e fornecidas aos associados. Houve uma diferença, ora, não podia haver”, justifica.

A cura

Depois de encontrar a doença há que administrar a cura. Foi isso que António Bica procurou fazer. “A solução passava por controlar rigorosamente a entrada e saída de rações”. Como explica, “Não se podia comprar nada sem passar pelo armazém. O que saia do armazém tinha que ser debitado aos associados e se não fosse debitado por qualquer razão, tinha que regressar ao armazém”, esclarece.

A Cooperativa Agrícola de Lafões contratou, para isso, um encarregado de armazém. “Contratei um senhor de Paços de Vilharigues, chamava-se António Almeida, mas era conhecido por António Alho”. Alcunha que parece ter sido bem atribuída, já que, como garante António Bica, “Era fino como um alho”.

As regras eram claras. “Tudo que entra o senhor verifica as guias de entrada e confere. Por cada tipo de mercadoria tem que haver uma ficha. Movimenta logo a ficha, para que as fichas estejam preenchidas de maneira a que o que está no armazém corresponda ao que está na ficha. Para sair, o motorista assina uma guia de entrega, quando ele regressar tem que trazer mercadoria ou documentos. ”, Explicou António Bica ao novo encarregado do armazém.

O presidente da direção deixou também o aviso. “Aleatoriamente, quando entender, venho cá e peço uma determinada ficha e vou ver. Se não corresponder, você paga a diferença no final do mês”. António Bica nunca teve que cumprir este aviso. A estratégia tinha resultado. Como recorda, “nunca faltou um grão de nada”.

Novos ventos

Com mais rigor e controle os ventos começaram a alterar-se. Rapidamente, a Cooperativa conseguiu inverter os resultados. Quanto ao número de associados este continuava a crescer. Em apenas um ano, a Cooperativa passou de 79 associados para 139. Um crescimento que ronda os 75%.

O mesmo aconteceu com a quantidade de mercadorias vendidas pela Cooperativa. Quanto às dúzias de ovos de 276.048, passou-se para 444.674; relativamente aos quilos de frango de 6.189 passou-se para 83.774. Já os sacos de ração de 18.440 passou-se para 37.000. Finalmente nos pintos fornecidos passou-se de 25.000 para 132.000. Tudo isto em apenas um ano. “A cooperativa começou a ganhar dinheiro. Nós tínhamos uma margem. O desenvolvimento da cooperativa foi progressivo”.

A página tinha sido definitivamente virada. Começavam assim os tempos áureos da Cooperativa que ao mesmo tempo que crescia, contribuía decididamente para o desenvolvimento económico da região e para o aumento da qualidade da vida dos lafonenses. A Cooperativa Agrícola de Lafões crescia substancialmente. Com mais sócios e produção eram necessários mais motoristas que transportassem as rações e outros produtos. Chegaram a ser mais de uma dezena e tiveram um papel fulcral para o sucesso desta instituição. Graças a uma gestão inovadora e de mãos dadas com os trabalhadores a Cooperativa pode expandir-se, investir desenvolver-se e gerar riqueza para os sócios e para a região.

As histórias passadas entre os milhares de quilómetros percorridos

Guilherme Pereira, hoje com 79 anos, era um dos motoristas da Cooperativa. Diz com orgulho que foi “sócio fundador e de escritura”, foi também um dos “motoristas mais cuidadosos”. À Gazeta da Beira recorda com saudades, tempos duros mas recompensadores. “Trabalhava-se lá muito. Havia dias que distribuíamos centenas de sacos de farinha e, nessa altura, não havia tapete rolante para carregar as camionetes. Era do chão às nossas costas e das nossas costas ao cimo da camionete”, explica.

Tendo em conta que a principal função da Cooperativa Agrícola de Lafões era o transporte, para o sucesso era fundamental que os motoristas fizessem um bom trabalho. Eram, portanto, uma peça importante neste xadrez. “O nosso trabalho era fundamentalmente o transporte, portanto, para nós, era essencial ter motoristas cuidadosos. Com o crescimento da Cooperativa, naturalmente, foram necessários mais motoristas. Nós apostávamos em gente nova e da região, quem estivesse connosco, como ajudante e quisesse tirar a carta nós dávamos crédito para isso”, explica António Bica.

Uma queixa que deu origem a um prémio

Um certo dia, a Cooperativa recebeu uma queixa séria de um dos sócios. “Está ali o motorista e o ajudante à sombra de uma carvalha a dormir e nós a pagarmos? Ai, isto não pode ser, tem que o mandar embora”, disse na altura ao Presidente da Direção um associado, recorda António Bica.

Ao sócio, o dirigente prometeu averiguar o assunto e falar com o trabalhador. António Bica não queria despedir o trabalhador, portanto, tinha que encontrar uma outra solução. “Na altura era relativamente fácil despedir, mas, o sujeito em questão era um bom motorista, era cuidadoso… e se viesse um motorista pior para o substituir? Também não podia arranjar um fiscal para andar atrás dele…”

Depois de muito pensar, António Bica tinha a solução: premiar o trabalho dos motoristas.

Uma cooperativa de todos

Na Cooperativa havia uma máxima da qual ninguém prescindia. Todas as semanas os trabalhadores reuniam para debater os problemas e encontrar soluções. Estes encontros eram essenciais para que os trabalhadores se sentissem motivados. Como explica Otília Bica, antiga colaboradora da Cooperativa, “As pessoas gostavam que as suas ideias fossem ouvidas, todos os assuntos eram discutidos à frente dos trabalhadores, era também com as suas opiniões que se chegava um acordo. Isto fazia com que as pessoas trabalhassem com mais vontade. A cooperativa não funcionava como uma empresa, havia bom ambiente, era como se fossemos família”.

António Bica explica as razões. “Quem faz o trabalho é que sabe as dificuldades e é quem pode dar boas ideias. Eu procurava seguir as ideias, a menos que fossem manifestamente erradas”, referiu.

Motoristas passaram a render o dobro

Regressemos à história dos prémios para os motoristas. Foi precisamente numa das reuniões com os trabalhadores que a ideia viu luz verde. “Num dia de trabalho normal, sem andar a correr, mas sem andar a dormir, quanto é que fazem nos diferentes trabalhos?”, questionou António Bica aos trabalhadores. Consoante as respostas, o dirigente fez as contas e viu quanto é que custava em termos de mão-de-obra líquida e fez a proposta: “ E se nós vos dessemos, acima do que vocês ganham, tanto por cada unidade produzida durante o mês”?

A ideia, desde logo, recebeu a aceitação dos motoristas, que viram aqui uma oportunidade de ganhar mais algum dinheiro. “Se distribuíssemos mais de “x” sacos de ração davam-nos um “x”… Era mais algum que a gente recebia, ficamos satisfeitos”, explica Guilherme Pereira.

“A produção aumentou, com essa medida a cooperativa cresceu muito. Quase sempre, os motoristas faziam mais de que horário, as pessoas sentiam-se donos da Cooperativa, recebiam um bom dinheiro. Ao fim do mês parecia-lhe bem”, acrescenta.

Se os motoristas passaram a ganhar a mais, a verdade é que, com esta medida, também a Cooperativa obteve melhores resultados.

“Na altura tinha 25, 26 anos e eles tinham quase todos a minha idade era tudo gente nova e com vontade de ganhar dinheiro. O aumento de produção foi de 50%.Claro que eles não trabalham 8 horas, trabalhavam 10, às vezes 12, mas no final do mês recebiam a recompensa. Na altura, um motorista ganhava tanto como um professor primário. Com duas equipas de transporte, poupávamos uma. Nós estávamos em crescimento, foi isso que deu dinheiro à Cooperativa”, resume António Bica.

Os trabalhadores, para além do rendimento fixo, passaram a contar com um variável que dependia de si e os fez trabalhar mais, dando mais lucro à Cooperativa. Um prémio de produtividade que à época não era vulgar. “Não tinha nada de inovador, é apenas nós percebermos porque é que as pessoas trabalham. As pessoas trabalham para ganhar a vida e se veem que se trabalharem bem ganham uma promoção, as pessoas esforçam-se. Depois, não é preciso andar atrás deles a fiscalizar”, defende o antigo presidente da direção.

Hoje a Cooperativa Agrícola de Lafões é também recordada pela inovação que imprimia nos métodos de gestão. Como explica António Garcez, antigo diretor na área administrativa, “Os métodos de trabalho e gestão foram sendo “ apurados “e inovados à medida que íamos vendo os resultados da sua aplicação. Pela minha parte, mas não só, procurei sempre criar à minha volta bom ambiente e uma equipa de pessoal de superior craveira, experiente, dedicada, competente e que sempre me apoiou e ajudou a dirigir a Cooperativa no seu todo e em particular no pelouro que me foi confiado pela restante direção”.

Motoristas gestores

Esta nova era deu nova folgo aos motoristas que uniam esforços para dar mais eficiência ao trabalho. Numa outra reunião entre os trabalhadores sugeriram que se contratasse um mecânico para que os carros não demorassem tanto a serem concertados. Como explica António Bica, “Antes do prémio de produtividade, sempre que o carro ia para a manutenção, os motoristas esfregavam as mãos de contentes, porque ficavam em casa, enquanto o carro ia para a oficina”.

Com a introdução do incentivo, as opiniões mudaram radicalmente, os trabalhadores passaram a queixar-se do tempo que perdiam, enquanto o carro estava parado. Como conta António Bica, “diziam eles numa das nossas reuniões: “Depois, ao final do mês, em vez de recebermos mais uns tostões, recebemos menos. Nós havíamos de arranjar para aqui um mecânico que entrasse ao meio-dia e saísse às 11 da noite, nós encostávamos o carro à noite, no dia seguinte, quando pegássemos ao trabalho o carro já estava composto. Está a ver os trabalhadores a ensinar gestão?”, sublinha.

“Os carros iam para as oficinas e passavam lá tempos infinitos. Não podíamos trabalhar. Então tivemos a ideia de fazer tudo ali, contratamos o Torres, um mecânico de Vouzela. Assim, os carros eram reparados muito mais rápido, nas nossas horas de descanso, assim não perdíamos tempo”, conta Guilherme Pereira.

A união faz a força e a Cooperativa avançou com o contributo de todos. Os problemas eram encarados de frente. “Quando temos um problema, sentamo-nos e depois resolvemos, é a única maneira”, defende António Bica.

A Cooperativa Agrícola de Lafões registava um crescimento sólido de ano para ano. Aumentava o número de quilos de frango e dúzias de ovos comercializados, o número de ração vendida e o número de pintos fornecidos, como ilustra, aliás, a tabela, retirada do relatório de contas de 1973. Proporcionalmente, aumentava o número de empregos diretos, mas também o número de pessoas que tirava algum rendimento da avicultura em Lafões. A direção teve, portanto, de se adaptar às exigências que iam surgidos e foram necessários novos investimentos. O grande objetivo da Cooperativa passou por fechar completamente o círculo da produção, desde o nacimento do pinto à sua comercialização. Uma ambição enorme, nada fácil de concretizar.

As velhas e pequenas instalações já não serviam os interesses da Cooperativa Agrícola de Lafões foi por isso construído um edifício de raiz, hoje, as instalações da Escola Profissional de Vouzela. “Ainda hoje está tudo como estava. Os antigos armazéns eram muito pequenos para os nossos serviços. Conseguimos fazer este investimento só com o nosso trabalho, fazíamos uma boa gestão”, resume António Bica.

Como se pode ler no relatório de atividades de 1973: “Ficaram concluídas as obras da nova sede, salvo alguns pormenores que podem aguardar por posterior acabamento, os escritórios foram entretanto mudados para as novas instalações onde agora se dispõe de espaço suficiente e de sala para as Assembleias Gerais (…) A oficina de mecânica foi instalada no edifício da nova sede e dispõe agora de espaço suficiente para o seu trabalho. Foi aí também instalada uma pequena serralharia e carpintaria para fazer caixas, reparar as caixas de outros veículos e fazer outros serviços”.

Fechar o ciclo

A Cooperativa Agrícola de Lafões teve a ambição de fechar o ciclo de produção de pitos. Para isso, primeiro associou-se à Uniagri, Industria Agroalimentar de Vale de Cambra. António Bica, desde logo impôs uma condição. Como explicou à Gazeta da Beira, “tinham que produzir uma boa ração. O frango é, sobretudo, água e ração, portanto, é a boa ração que faz a diferença. Para isso, contrataram o Engº. Gusmão que era, digamos assim, o cozinheiro da ração. Nunca a ração teve tanta qualidade e essa qualidade notava-se em termos práticos”, recorda.

Começou-se, também a construir um matadouro. Como nos dá conta o referido relatório: “Estão em curso as obras do matadouro, embora, apenas, em fase de terraplanagem. As obras de construção civil serão feitas, em princípio, por empreitada. Estão a ser elaborados todos os estudos, cálculos e desenhos necessários para entregar o processo para obtenção de créditos oficiais e para se poder proceder ao concurso de construção civil. As máquinas necessárias ao seu equipamento já foram escolhidas e contratadas a sua compra”, pode ler-se. Em cima da mesa, ainda o projeto para uma central de classificação de ovos e a Central de produção de pitos na Penoita.

Como explica o então Presidente da Cooperativa o objetivo era fechar o ciclo. “Nós fazemos os pintos, fazemos a ração, temos os produtores com um matadouro, no fundo o que queríamos era criar uma cadeia. Tudo isso procurando fazer tudo nas pequenas unidades, para que o pequeno agricultor possa trabalhar sem ter grandes gastos”, remata António Bica.

Terão todos estes projetos sido levados a bom porto? Saiba a resposta no último episódio desta reportagem já na próxima edição da Gazeta da Beira.

Ano Ovos Quilos de frango Sacos de ração Pintos fornecidos
1965 276 048 6 184 18 440 25 000
1966 444   674 83   744 37   000 132   000
1667 682 570 382 570 82 460 411 000
1968 991   202 642   164 90   087 530   000
1969 873 000 892 000 100 721 710 000
1970 979   133 1 696   455 168   519 1 310   137
1971 706 543 2 355 930 189 889 1 675 256
1972 876   107 3 871   389 298   490 2 342   892
1973 961 811 3 699 173 293 314 2 411 913

 

 

 

 

 

 Redação Gazeta da Beira