Carlos Vieira

Enquanto os EUA se livram de Trump, o PSD dá a mão ao “nosso” Trumpito

A derrota de Trump representou um alívio para os norte-americanos que sofreram com a sua paranóia populista e fascista, o ódio aos imigrantes (um paradoxo estúpido num país construído por imigrantes), a separação de crianças dos pais apanhados na fronteira com o México e deportados, o desrespeito pelas mulheres e o incitamento ao racismo e à violência policial.  Mas também foi um alívio para os povos do resto do mundo. O seu estratega e director da campanha eleitoral de 2016, “Steve” Bannon, que andou pela Europa a tentar unir os neofascistas e até os inimigos do Papa Francisco, foi detido em Agosto por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro e será julgado em 2021.

No mesmo momento em que os EUA e o Mundo se livravam de Trump, em Portugal, o PSD dava a mão ao partido racista e xenófobo que tem Trump como ícone. Rui Rio, ao dizer que se o Chega se moderasse podiam conversar, abriu a porta que o PSD Açores, sem vergonha, escancarou para a extrema-direita. Claro que para chegar ao poder o Chega vai jurar ser democrático (Ventura diz uma coisa e o seu contrário), da mesma forma que criminosos neonazis como Mário Machado também já aconselharam os seus seguidores “infiltrados” no Chega para não fazerem a saudação nazi nas manifestações convocadas por André Ventura para não prejudicarem o chefe. Rio retribui o esforço de Ventura e radicaliza-se ao ponto de criticar a atribuição do RSI a 6,1% da população pobre, ou pior, paupérrima, dos Açores.

Mas há gente de direita que discorda da imprudência suicida do PSD, incluíndo ministros e secretários de Estado do governo de Passos Coelho, como Poiares Maduro e Francisco José Viegas, que assinaram um artigo no Público do passado dia 10,  a par de Adolfo Mesquita Nunes, Francisco Mendes da Silva, José Diogo Quintela, Miguel Esteves Cardoso, Pedro Mexia, Samuel Úria, Teresa Caeiro, entre muitos outros, onde afirmam que “O espaço do centro-direita e da direita portuguesa não é o do extremismo, seja esse extremismo convicto ou oportunista.” Também Jorge Moreira da Silva,ex-ministro de Passos Coelho,  já veio exigir um congresso extrordinário do PSD para esclarecer a identidade do partido, porque, escreve no Público de hoje,dia 16, ”não se fazem acordos com partidos xenófobos, racistas,extremistas e populistas. Com partidos que propalam propostas incompatíveis com a dignidade humana.”

Na verdade, a direita, aqui como em Espanha ou no Brasil, é sempre a incubadora da extrema-direita.

Talvez Rio devesse lembrar-se que Trump, dois dias depois de ter perdido as eleições, despediu o Secretário de Estado da Defesa, pelo Twitter, por este ter discordado do envio de militares para reprimir as manifestações contra o racismo e a violência policial, e já ameaça demitir também Anthony Fauci, responsável-mor pelo combate à Pandemia, bem como o

Secretário da Saúde e o director do FBI. E que Trump ordenou às milícias armadas fascistas dos “Proud Boys”, bem como ao movimento QAnon (das teorias da conspiração que extravasaram para a Europa acusando Obama, Hillary, Merkel e George Soros de liderarem um círculo mundial de pedófilos e canibais que teriam inventado a Covid 19), para recuarem e ficarem prontos para agir. Deixem passar estes movimentos fascistas e nenhum democrata ficará a salvo.

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