Carlos Vieira e Castro

Manifestações em todo o mundo contra o Racismo

“Numa sociedade racista não basta não ser racista, é necessário ser anti-racista!” (Angela Davis)

A morte de George Floyd, de 46 anos, por asfixia sob a bota de um polícia que o manietou no chão, já algemado, durante quase nove minutos, por suspeita de ter pago com uma nota falsa, já levou nove membros do Conselho Municipal de Minneapolis a prometer desmantelar o Departamento de Polícia que consideram não ser reformável, dado o historial de mortes por violência policial contra “afro-americanos”. Com efeito, o que fez a diferença, desta vez, foi a morte ter sido filmada por um transeunte e ter corrido o mundo nas redes sociais. As grandiosas manifestações que se realizaram em quase todas as cidades dos EUA obrigaram as autoridades a agir, e depois de apenas o polícia homicida ter sido acusado de homicídio em segundo grau (inicialmente apenas em terceiro grau, ou seja, por morte não intencional), podendo ser condenado a 40 anos de prisão, também os outros agentes que colaboraram com a detenção e assistiram impassíveis ao crime já foram acusados de cumplicidade de homicídio.

A violência policial contra negros é uma constante na história dos EUA, um país construído com o cimento da escravatura. Tal, aliás, como o Brasil. Não é por acaso que em ambos os países foram  eleitos presidentes psicopatas, demagogos, populistas e criminosos que nem sequer respeitam a saúde e a segurança dos seus cidadãos, instigando-os a armarem-se e a fazer justiça pelas próprias mãos, que negam a Ciência e aconselham os seus compatriotas a tomarem medicamentos contra a Covid-19 que a Organização Mundial de Saúde e os próprios serviços de saúde desses países consideram perigosos.

O presidente dos EUA, Abraham Lincoln, aboliu a escravatura , em 1863, libertando 4 milhões de escravos negros, mas cem anos depois, em 1963, foi necessário que os seus descendentes continuassem a lutar pelos direitos civis, como o de voto, numa marcha rumo a Washington, liderada por Martin Luther King, que seria assassinado em 1968. Os Estados do Sul, que enriqueceram à custa do trabalho escravo, não se renderam às leis igualitárias e decretaram leis à medida dos seus intentos criminosos, como o de proibir um negro de falar alto perto de uma mulher branca, o que levou à substituição do trabalho escravo por “trabalho forçado”. Os presos eram arrendados a proprietários de terras e de empresas que os obrigavam a trabalhar como escravos a troco de um pagamento às autoridades locais. Todos ganhavam menos os negros. Muitos outros activistas negros, uns pacifistas como King, outros que preconizavam a auto-defesa, como Malcom X, acabaram assassinados, às mãos da polícia ou de milícias racistas como o Klu Klux Klan.

Realizaram-se manifestações anti-racistas em todo o mundo, no passado Sábado, e Portugal não foi excepção, até porque o racismo e a violência policial também são dois vírus que ainda não foram exterminados, apesar de serem há anos sinalizados e denunciados por organizações nacionais e internacionais como o SOS Racismo, a Amnistia Internacional e a Olho Vivo – Associação de Defesa dos Direitos Humanos. Mas bastaria lembrarmo-nos de casos recentes, como o do Bairro da Cova da Moura que levaria à condenação de vários polícias, da manifestação pacífica de “afro-descendentes” em Lisboa, atacados a balas de borracha pela polícia ou do ucraniano torturado e assassinado pelo SEF no aeroporto de Lisboa, quando só queria trabalhar no nosso país.

(continua)

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