Carlos Vieira e Castro

Lições a tirar desta Pandemia...antes que chegue a próxima (2)

MAIS INVESTIMENTO NO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE. Apesar do desinvestimento no SNS, muito depauperado pelas consecutivas manobras de sucessivos governos, principalmente de direita, para o desmantelar, beneficiando grupos privados, este está a provar que ainda é o fruto mais precioso da democracia conquistada há 46 anos. A reacção de alguns hospitais privados que queriam aproveitar esta pandemia para sacar indevidamente dinheiro do Estado (que é o de todos nós) só pode fazer aumentar a nossa exigência de mais investimento no SNS, a fim de o libertar das PPP ruinosas e da promiscuidade entre o sector público e o privado, garantindo aos profissionais de saúde condições de trabalho dignas e compensatórias em regime de exclusividade.

 

O MUNDO É UMA ALDEIA GLOBAL ONDE TODOS DEPENDEM DE TODOS . O que esta pandemia tornou  mais óbvio para o comum dos mortais, parece que não foi ainda compreendido por alguns governantes, com mentalidade egoísta e chauvinista, como o ministro das Finanças da Holanda (país que tem sido um paraíso fiscal para a maioria das empresas portuguesas cotadas em bolsa)  que queria que a Comissão Europeia investigasse países como a Espanha que dizem não ter margem orçamental para responder à crise da pandemia (o que António Costa classificou, e bem,  como atitude “repugnante”) ou o desvio e confisco de máscaras e ventiladores encomendadas por outros países, por parte das autoridades da Alemanha, dos EUA, da França e da Turquia, com acusações cruzadas de “pirataria moderna”.

É urgente o perdão das dívidas externas dos países mais pobres de África, da Ásia e da América Latina; é urgente acabar com o apoio a ditadores ou autocratas corruptos em troca da compra de armas e do saque das riquezas naturais dos seus países, optando por políticas de cooperação pacífica.

As desigualdades sociais são o vírus que mais mata no planeta e multiplicam os efeitos das tragédias. A luta de classes também passa por aqui.

Nos EUA, os afro-americanos e os latinos, sendo uma minoria da população,  tiveram a maioria das mortes pela Covid-19. Porque os mais pobres não podem recorrer ao teletrabalho e vivem em zonas densamente povoadas e em habitações exíguas ou precárias onde não é permitido o distanciamento social. Só poderemos resistir a futuras pandemias e tragédias ambientais com mais cooperação internacional na Investigação Científica relacionada com a Saúde e com as alterações climáticas.

Se no Brasil muitos que apoiaram Bolsonaro já começaram a ver que ajudaram a eleger um psicopata ignorante e malévolo que nem respeita as recomendações da ciência, nem a saúde do seu povo,  nos EUA, Trump afronta cientistas e governadores de vários Estados, e dificilmente passará pelos pingos da chuva pandémica que está a desfazer o cenário à Hollywood do país mais poderoso do mundo, deixando à vista a estrutura miserável de uma superpotência militar sem um sistema mínimo de saúde para quase 30 milhões de pessoas, onde os mortos são enterrados em valas comuns porque os familiares nem têm dinheiro para pagar às funerárias e não reclamam os corpos, com 39 milhões de desempregados e lidera a lista de países com mais infectados e  mortos por Covid-19. Mas o candidato presidencial que melhor defendia um Serviço de Saúde para todos, e que até deu como exemplo o nossos SNS, Bernie Sanders, foi abalroado pelo seu próprio partido, dito Democrata, que mais uma vez se assustou com os vislumbres de políticas de esquerda, mesmo que vagamente social-democratas.

Nos EUA, no RU e noutros países europeus, a vida dos idosos foi desvalorizada e até houve quem, como o vice-governador do Texas, apelasse ao seu (auto-)sacrifício para salvar vidas mais jovens, em face da falta de ventiladores, como se o limite da vida fosse pré-determinado por um prazo de validade. É urgente mais humanidade!

Quem já tem o essencial deve ter descoberto agora que não precisa de se esfalfar a trabalhar para consumir bens em excesso. Sem ser espartanos nem tolerarmos a austeridade do anunciado tempo de “vacas magras”, o que é imprescindível e temos de continuar a exigir para todos, com a força que nos deu o 25 de Abril, é tão só: PAZ, PÃO, SAÚDE, EDUCAÇÃO, HABITAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA. Sem abdicar de mais IGUALDADE, SOLIDARIEDADE e LIBERDADE!

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