Carlos Correia Matias

O primeiro comandante do exército de libertação de Angola e São Pedro do Sul

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O Professor Doutor Manuel dos Santos Lima nasceu em Angola na cidade de Silva Porto (Bié). Cursou Direito em Lisboa onde foi colega do autor destas linhas. Colaborou na “Mensagem” orgão da Casa dos Estudantes do Império, instituição que também frequentavamos, não por razões políticas, mas porque tinha um restaurante onde se comia barato.

Um dia de férias em 1957 um grupo de estudantes de Lafões encontrava-se a confraternizar no Monte da Senhora do Castelo. Manuel dos Santos Lima ali apareceu com mais três companheiros negros que andavam em passeio. Foram de imediato convidados para se associarem à merenda. Aceitaram e ali estiveram horas em ameno convívio.

Regressados às aulas em Lisboa, Manuel Lima expressou-nos a satisfação que tivera pela forma aberta, fraterna, igualitária, como tinham sido recebidos em Lafões, o que não acontecia aos africanos, ao tempo, em todos os lados.

Gostava de expressar a sua satisfação aos Lafonenses.

Ao tempo existia em São Pedro do Sul em organização, a União Académica Sampedrense (UAS), que abordaremos em artigos futuros, e que já promovera a primeira corrida, São Pedro do Sul – Termas em atletismo, ganha pelo Zé Duque. Antes tinha convidado o Dr. António Saldanha Gomes Mota para pronunciar uma conferência no Club São Pedro, que esgotou a audiência e teve grande repercurção na Vila.

A U.A.S. tinha uma secção na “Tribuna de Lafões” denominada “Mirante” onde colaboravam figuras como Aurora Carvalho Homem, seu irmão Professor Doutor Amadeu Carvalho Homem, outros e nós próprios.

Convidámo-lo a escrever para a Tribuna. O que fez várias vezes como se demonstra com o artigo em anexo, que se reproduz.

Manuel dos Santos Lima com a nacionalidade portuguesa, teve de tirar o curso de oficial miliciano. Ao tempo, fazer a “Tropa” era obrigatória para todos. O Exército português, era um exército popular comandado por uma minoria de profissionais, Capitães, Majores, Oficiais Generais, que mantinham sem desfalecimentos o regime.

Mobilizado para o Estado da India, desertou. Mais tarde seria fundador e primeiro comandante em chefe do Exército Popular de Libertação de Angola, onde enfrentou o exército português, e perdoem-nos a graça, os Gorilas do Maiombe em Cabinda. Estava no Canadá aquando do golpe do 25 de Abril e da revolução subsquente e parte para Luanda. Profundo nacionalista, africano, ali permanece pouco tempo. Volta a Portugal onde faz carreira universitária na Escola Superior Politécnica de Santarém. Escreve o romance “As Lágrimas e o Vento” que relemos sempre com emoção. Publicou também “Kissange” (poemas) e “As sementes da Liberdade” (romance).

Convidámo-lo para vir pronunciar uma conferência a São Pedro do Sul, o que aceitou, àcerca da última guerra colonial – na qual como oficial miliciano também participamos-.

“Gazeta da Beira” convida para data e local a anunciar todos os ex-combatentes de Lafões a estarem presentes. Que políticos, designadamente deputados e governo tenham “pudor” em abordar tal tema e considerar as muitas dezenas de milhares de ex-militares ainda vivos, compreende-se.

Mas os ex-combatentes de Lafões terão de dizer “PRESENTE”.

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