António Gouveia

Para onde vamos?

Disse-o Churchill, assim mais ou menos, “a democracia é um mal menor, não se conhece outro regime político melhor” e, por isso, seria melhor que fôssemos todos mais sensatos, bem integrados no que Aristóteles definia como “justo meio”. Mas não somos sensatos nem estamos sempre no meio da balança, humanos que somos e cabeça para pensar, nem sempre pensamos e, mesmo pensando, destrambelhamos muitas vezes, é normal. O mesmo se passa com a ideologia, tenho para mim (outros assim não pensam, somos livres, isto da liberdade é outra falácia) que a social-democracia seria o tal “justo meio” ideológico (outro melhor não se inventou ainda): nem faz sentido a abolição da propriedade como querem alguns, nem faz sentido que parte dos rendimentos deixem de alimentar o chamado “estado social”, como querem outros e mais escravidão, sim todos a contribuir proporcionalmente às suas posses, aptidões, trabalho e rendimentos, com ética, sem artifícios ou desculpas da corrupção só porque não existe ainda no CP o crime de enriquecimento ilícito ou, pior ainda, que o ónus da prova de rendimentos ou fortunas de milhões que, a priori, ninguém sabe como chegaram aos bolsos de cidadãos subitamente afortunados, políticos ou não, não deva estar do lado destes artistas de palco e magia, alguns bem conhecidos na praça pública, quando chamados a prestar contas de milhões na justiça.
A social-democracia em mudança, tal como a conhecemos, está neste país dividida entre dois partidos, PSD e PS, foi a partilha ideológica de cartas que a democracia determinou em abril 1974 sem que, até hoje, com algumas exceções de cidadãos mais esclarecidos, o baralho tenha sido redefinido. E este é um dos graves problemas por que se tem pautado o nosso país e estabilidade política, afastando-o de um programa urgente, do qual precisa como de pão para a boca para fazer reformas importantes e estruturais e resolver de vez a nossa dependência económica e financeira, o mesmo é dizer, menos “monstro” na máquina administrativa e menos endividamento, público e privado, no orçamento e contas, mais e melhor estado social. Tudo isto a propósito das últimas eleições cujos resultados e soluções estão a deixar o país meio louco, premiando a confusão ideológica, até nas duas figuras mais importantes do regime, os presidentes da República e Assembleia proclamando sem um mínimo de pudor e distanciamento, urbi et orbe, “discursos de fação” e manipulação da democracia parlamentar, sem perceberem o que o cidadão comum e sensato, representado no parlamento, quer para Portugal.
E o que quer quem votou a 4 de outubro? A reforma das instituições, menos monstro, menos austeridade (a possível), mais emprego, mais economia (a possível, sem destempero), melhores salários e menos (muito menos) corrupção, melhor distribuição da riqueza nacional e uma carga fiscal com prémio maior a quem produz, trabalha ou já trabalhou. É verdade que esta riqueza nacional (PIB) já não chega num só ano e por si só para pagar o serviço da dívida pública (capital e juros) e, por este andar, seremos eternos pedintes de uma Europa em desagregação, ela própria corrupta, sem ética e sem vergonha (veja-se o caso da VW numa impensável Alemanha).
Assim e em conclusão: se esta maioria de esquerda, democraticamente eleita, não perceber isto e o que está em causa; se quiser gritar, punho erguido e ameaçador contra todos, os seus slogans de sempre; se esta esquerda partidária continuar a lutar por “amanhãs que cantam” mas não encantam (o pessoal já não se levanta cedo como no tempo de Salazar); se não perceber que estes são novos tempos, não têm comparação na história recente como alguns gostam – os últimos 50 anos foram urgentes e tão rápidos como o som e a internet, levaram-nos à lua, a lousa preta presa a quatro tabuinhas do meu tempo de escola não tem nada a ver com o Ipad da escola da minha neta, qualquer comparação, justificação ou desculpa é pura perda de tempo -, então daqui a uns meses (poucos) teremos novas eleições e o povo acabará por preferir, tal como no tempo de Salazar, “os que estão”. Na sua “sabedoria” proverbial e empírica, também medrosa e avessa ao risco, sem espírito democrático crítico (meio mundo vota confundindo política com futebol), o povo vai escolher entre o mal menor e mais do mesmo. E continuaremos como estamos, de mal a pior, a dívida a crescer e os impostos a cargo da classe média até à sua completa extinção. Um pouco como o analfabetismo, dura mas desaparecerá um dia destes.Redação Gazeta da Beira

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