António Bica

O terramoto Trump nos EUA e as suas possíveis razões

O desenvolvimento científico cada vez mais acelerado está a potenciar a criação de novas tecnologias que dispensam trabalhadores. Em consequência as empresas procuram adquiri-las e despedir trabalhadores, mantendo a produção ou aumentando-a sem contratar novos trabalhadores, incluindo dos que procuram o primeiro emprego.

Assim o desemprego aumenta e os trabalhadores tendem a aceitar salários cada vez mais baixos. Disso resulta descontentamento social e diminuição da procura das mercadorias postas no mercado por falta de poder de compra, conduzindo a estagnação e a crise económica.

Os trabalhadores afectados por isso, na falta de liderança capaz de conduzir à compreensão racional da dinâmica tecnológica e económica, tendem a reagir emocionalmente com aceitação de explicações demagógicas, atribuindo a outros a redução dos salários e do desemprego. Os outros são os imigrantes que vêm de outros países à procura de melhores condições de vida e os países exportadores de mercadorias a preços mais baixos.

As forças económicas, sociais e políticas conservadoras têm procurado navegar demagogicamente em cada país a onda da irracionalidade para chegar ao poder, estando a atrair o apoio de número cada vez maior de descontentes. Não é acontecimento novo. No fim da Primeira Grande Guerra em 1918, com a crise social e económica que se seguiu sobretudo na Itália, na Alemanha, em Portugal e em outros países, nasceram movimentos políticos demagógicos de tipo semelhante que levaram aos regimes fascistas e ao terrível desastre da Segunda Grande Guerra.

De modo semelhante hoje,  nos países europeus, os partidos populistas conservadores estão a ter cada vez mais forte apoio: Na Polónia e na Hungria chegaram ao poder, em Inglaterra abandonaram a União Europeia. Agora nos EUA Trump ganhou a eleição de 2016 para presidente, prometendo impedir a entrada de emigrantes, a expulsão dos já chegados, taxar fortemente a importação de mercadorias e estimular a desagregação da União Europeia. Estes 2 últimos objectivos, se houver intenção de serem efectivamente prosseguidos pelo governo de Trump, como parece, serão indiciadores de os EUA tomarem consciência de que estão a deixar de ter capacidade para continuar a mandar no mundo como têm vindo a fazer desde que a URSS se desagregou em 1991.

A assumpção por Trump dessa consciência poderia ser sinal de lucidez de análise da actual realidade económica e política:

A China tem área semelhante à dos EUA, mas a sua população é cerca de 4 vezes maior, tendo desenvolvimento científico próximo do americano e produção interna, estão a aproximar-se cada vez mais da dos EUA e, em alguns anos, vão inevitavelmente ultrapassá-los.

A Índia, que tem população cerca de 3 vezes mais numerosa que a americana, está em processo de desenvolvimento económico acelerado.

A União Europeia, se continuar a progredir para cada vez maior integração dos países que a constituem, sobrepor-se-á aos EUA, não só em poder económico, que já é maior, mas também em poder político.

A Rússia, embora com reduzido número de habitantes (cerca de 150 milhões), tem enorme superfície (cerca de 17 milhões de km2) e grande capacidade científica e tecnológica.

Assim no conjunto dos países do mundo os EUA tendem a perder a liderança.

O governo de Trump, com as forças económicas, sociais e políticas que o apoiam, sentem o risco de tenderem a perder a liderança do mundo. Mas Trump e os que o seguem não parece estarem a ser lúcidos nas contramedidas políticas.

Pelo contrário, percebendo estar a sua economia a perder capacidade concorrencial em largos sectores, estão a reagir a esse risco, procurando tomar medidas de isolamento económico e de hostilização da China, da União Europeia e da Rússia, declarando ostensivamemte a supremacia americana com a afirmação «America first»  (a América em primeiro lugar).

Trump e os que o apoiam não primam pela racionalidade ao defender essas medidas. Não é porque se isolam economicamente que os EUA resolvem as dificuldades da  sua economia; não é porque proclamam «America Fist» (a América em primeiro lugar) que se manterão como primeiro poder no mundo.

Esperamos que estes sinais não conduzam à multiplicação de decisões irracionais como a recentemente tomada de proibição de entrada nos EUA dos nacionais de diversos países e que, na sequência delas, não desencadeiem ataque militar contra outros países com armamento atómico.

Lembrando conhecido político português que já morreu: “Estamos em curva ape

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