António Bica

O universo de que somos parte (7)

O espaço entre os astros e entre as galáxias

Reflexões do falecido José Pereira sobre a vida e o mundo em manuscrito que me foi confiado

Ed659_DrBicaO que se tem considerado espaço vazio, desde que a teoria da relatividade afastou a concepção de ser preenchido por substância que a teoria seguida até aos fins do século 19 designava éter, será matéria composta por realidades ou seres muito pouco densificados ainda não identificados designados matéria negra e energia negra. Na possível existência dessa matéria muito pouco densa por unidade de volume poderá estar a razão por que as múltiplas radiações electromagnéticas, sobretudo as intergalácticas, como a luz e outras, chegam à Terra com alteração das características das suas ondas. À alteração das radiações electromagnéticas corresponde, no caso da luz, desvio para o vermelho. Essas radiações, tendo natureza ondulatória, têm que se propagar por meio material. A alteração das características das ondas resultará da interacção com elas da matéria por que se transmitem, mesmo que muito ténue, e não da contínua expansão do universo como supõe o modelo explicativo de explosão inicial (big bang).

A existência de matéria intergaláctica e dentro de cada galáxia poderá também explicar a velocidade dos movimentos galácticos, que é muito superior à quantidade (detectável pelos meios técnicos actualmente disponíveis) de matéria intergaláctica e dentro de cada galáxia (matéria que não pode deixar de deixar de corresponder massa). O espaço entre os astros em cada galáxia será constituído por matéria mais densa do que no espaço intergaláctico.

Porque grande parte da matéria entre as estrelas e os outros astros de cada galáxia não é detectável actualmente, tem sido designada matéria negra (o que equivale a dizer matéria desconhecida), que se calcula (2012) corresponder a cerca de 26,8% de toda a matéria do universo, muito mais do que a matéria visível ou detectável que corresponderá a apenas a cerca de 5,47%.

O modelo explicativo da origem do universo chamado explosão inicial (big bang) atribui o suposto constante afastamento das galáxias, de que resultará o desvio da luz para o vermelho, à existência do que se designa energia negra (o que corresponde a chamar-lhe energia desconhecida). Porque a energia equivale a matéria, calcula-se que a que se designa por energia negra será equivalente a cerca de 68,3% de toda a matéria do universo, percentagem que somada à de 26,8% calculada para a matéria negra, corresponderá a 95,1% de toda a matéria do universo. Assim toda a matéria mais densificada do universo (estrelas, planetas, planetésimos, cometas e nuvens de poeira) corresponderá a pouco menos de uma parte em vinte de toda a matéria do universo.

Sobre a velocidade da luz a generalidade dos físicos considera não ser maior nem menor em função do ponto em que é emitida, independentemente de se deslocar no sentido da sua propagação ou no inverso. Isso (a chamada constância da velocidade da luz) resulta de a luz ser ondulação da matéria existente entre o ponto emissor da luz e aqueles a que chega. Em consequência de a luz corresponder a ondulação dessa matéria, independentemente de o ponto emissor de luz se deslocar no sentido daquele em que é detectada, ou no inverso, a sua velocidade de propagação é constante, se não considerarmos o possível movimento do meio em que se propaga. De modo semelhante o som emitido por um avião em movimento não progride no ar atmosférico em que o avião se desloca a velocidade maior ou menor do que a velocidade do som, sendo a velocidade do som que o avião emite independente da velocidade e do sentido da deslocação dele. Por isso se o avião se deslocar, por hipótese, à velocidade igual à do som (ou superior) no sentido do ponto em que estiver o receptor do som que produz, ele só é detectado quando aí passar, não antes.

O referido, isto é a luz ser ondulação da matéria existente entre o ponto emissor dela e cada um daqueles em que é detectada, pode explicar por que a luz não pode sair de um corpo astronómico não emissor de luz (chamado buraco negro) como se verifica pelas observações feitas. A razão não estará na força de atracção desse corpo sobre a luz, dado que é ondulatória, mas de a gravidade se exercer tão poderosamente sobre a matéria mais próxima dele que a integra por atracção, ou pelo menos a quase totalidade dela, o que impedirá a luz de se propagar na ausência de matéria ou através da muito rarefeita que restar. Um corpo astronómico não emissor de luz (buraco negro) tem tamanha força de gravidade que incorpora nele a matéria que o orbitar a velocidade inferior à necessária para compensar a sua enorme força de atracção, incluindo aquela (mal conhecida) que, por desconhecimento da sua realidade, se designa por matéria negra e energia negra, que é a muito pouco densa matéria que existe entre os astros que compõem cada galáxia e entre as galáxias do Universo, sendo meio de propagação das ondulações electromagnéticas, incluindo a luz.

Pela razão referida nenhuma matéria existirá (capaz de suportar a ondulação electromagnética) entre a superfície de cada corpo astronómico não emissor de luz (buraco negro) e a matéria que se verifica existir aquém desse limite que se pode designar por horizonte de supergravidade. Se aí existe matéria, será tão pouco densa que, embora escapando à força de atracção do buraco negro, não permitirá ondulação electromagnética da faixa visível nem as demais ondas electromagnéticas. Além desse horizonte de supergravidade a gravidade deixa de ser suficientemente forte para incorporar a matéria que existe para cá dele (em relação ao observador). A distância entre a superfície do corpo astronómico não emissor de luz e esse horizonte de supergravidade variará necessariamente em função da massa do corpo astronómico não emissor de luz (buraco negro).

Porque existirá muito pouca matéria (se alguma existir) entre a superfície desse corpo astronómico não emissor de luz (buraco negro) e o seu horizonte de supergravidade, nesse espaço a luz e toda a demais radiação electromagnética não terão meio para se poder propagar.

Do mesmo modo que se sabe que o som não se propaga no vazio ou quase vazio de ar, a luz e toda a radiação electromagnética não podem sair do buraco negro onde eventualmente forem emitidas por estar rodeado de espaço onde não existe matéria, ou será tão pouco densa que não suporta a ondulação electromagnética.

NOTA: A transcrição do escrito pelo falecido José Pereira foi autorizada pela família.Redação Gazeta da Beira

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