A sorte de não terem uma Ordem

Crónicas do Olheirão

O governo acaba de lançar mais uma das suas medidas avulsas.

Ed644_MarioPereira-AvaliacaoRefiro-me à prova de avaliação de acesso à carreira de professor. Eu discordo desta prova, mas gostaria de dizer que na condenação generalizada desta medida há muita hipocrisia e que os professores têm imensa sorte em não terem uma Ordem.

Por princípio considero que não faz sentido haver este tipo de restrição no acesso à atividade profissional seja dos professores, dos médicos ou dos advogados mas também dos psicólogos e todas as profissões.

Esta prova para os professores, incluindo aqueles que já trabalharam é um absurdo e aparece como um exercício gratuito de poder por parte do Ministério da Educação.

Uma coisa que parece acontecer em todas as profissões é que quem já está instalado tentar dificultar o acesso dos novos à profissão.

Com os professores, passa-se o mesmo que com as outras profissões.

Quando o Ministério quis fazer a avaliação dos professores efetivos aconteceram as maiores manifestações de professores de que em lembro, mas agora, como esta prova é só para quem quer entrar, assistimos a discursos mais ou menos inflamados dos sindicalistas mas não vemos uma contestação significativa.

Esta prova não faz sentido, mas também não faz nenhum sentido que quem conclui um curso de direito tenha de fazer um estágio e uma prova de acesso à Ordem, como não faz sentido que depois de estudarem, que nem tolinhos, durante seis anos e mais um ano de internato o seu reconhecimento como médicos e a inscrição na Ordem estejam pendentes de um único exame feito pela Ordem, o qual mais que todos os exames que fizeram ao longo de seis vai decidir toda a  sua carreira futura.

Os psicólogos, em que me incluo, também quiseram ter a sua Ordem, em vez de terem um sindicato, pois na larga maioria os que trabalham são empregados por conta de outrem. E, sem que ninguém os obrigasse, criaram regras de aceso à profissão de que nem o ministro Crato conseguiria lembrar-se.

Aqueles que trabalhavam há mais de cinco anos bastou-lhe fazer prova de que já trabalham, há cinco ou mais anos. Os que trabalhavam há menos tempo tiverem que fazer um relatório, mas para os novos criaram a obrigação de fazer um estágio que dura praticamente um ano e no fim têm de apresentar um relatório.

No quadro atual isso significa que quem quiser ser psicólogo tem de fazer um curso de cinco anos e depois trabalhar de graça durante mais um ano.

Se o ministro Crato se lembrasse de fazer o mesmo resolvia o problema financeiros do Ministério da Educação, pois todos os anos poderia ter milhares de professores a trabalhar de graça nas escolas.

O que verdadeiramente está em causa é o exercício e o abuso do poder.

Os entraves que as Ordens colocam à entrada de novos profissionais é apenas e só um forma de proteger os mais velhos de mais concorrência.

As ordens, a começar pela dos psicólogos, são um coisa fora do tempo.

É perfeitamente ridículo que o Estado  pague a formação dos médicos e depois seja uma Ordem que vai dizer quem pode ser médico ou não, ainda mais é ridículo que seja a Ordem a dizer que especialidades podem ou não fazer os jovens quando todas são feitas nos hospitais do Estado e no final quase todos trabalhem par o estado.

O grande argumento a favor destas organizações é a regulamentação deontológica. Convinha saber se têm sido eficazes nisso ou não.

A quem está de fora parece que em regra se preocupam mais em defender os seus membros do que em proteger pessoas, eventualmente, prejudicadas por atos dos profissionais.

Infelizmente, não é apenas o governo que abusa do poder.

A tendência e a tentação de abusar do poder, que se tem, parece ser uma coisa inerente aos seres humanos e é por isso que é necessário um estado respeitador dos direitos e das leis e que nos proteja de esses abusos e não de um que se coloque ao lado dos poderes que crescem por aí como cogumelos neste Outono.

• Mário Pereira