A cultura e a educação são os pilares de uma sociedade

Entrevista a Sérgio Lucas

 

A rubrica “Gente Que Ousa Fazer “será assente numa entrevista a alguém que tenha algo válido no seu percurso de vida. Gente que sabe o que quer e, acima de tudo, que luta por aquilo que quer. As entrevistas serão sempre encaminhadas de forma a mostrar o lado melhor que há em cada um de nós e, dentro do possível, ousar surpreender o leitor. Serão entrevistas com a marca das nossas gentes, da região Viseu Dão Lafões, de todos os quadrantes e faixas etárias. Vamos a isso!

•  Paula Jorge

Ficha Biográfica

Nome: Sérgio Lucas

Idade: 42

Profissão: carpinteiro, músico, ator, encenador, autor e compositor

Livro preferido: “O profeta” de Khalil Gibran

Destino de sonho: Ser feliz, não importa onde

Personalidade que admira: Os meus pais

 

Paula Jorge (PJ) – Muito obrigada, Sérgio Lucas, por mostrar disponibilidade para esta entrevista da rubrica “Gente Que Ousa Fazer”. Comecemos pelo princípio.

Pode descrever o seu percurso profissional no mundo artístico?

Sérgio Lucas (SL)– Começou tudo muito cedo, com o frequentar a igreja que me despertou para o gosto musical, depois com a ajuda do Professor José Fernando, com nove anos, ganhei um festival da canção e a partir daí foi sempre a querer fazer mais e melhor. Também a paixão pelo teatro começou na escola, com o grupo escolar Argos, pela direção do saudoso e genial, Tito Agra Amorim, ao qual dos vários encontros de teatro na escola, em vários pontos do após serviço militar, vou para Lisboa à procura de oportunidades e faço uma série de TV juvenil para a RTP chamada “Camaleão virtual rock” e regresso a casa. Fui membro fundador de vários projetos na adolescência, nomeadamente Lezyria e Sekmet, fui vencedor do Festival da canção escolar durante 3 edições e com o seguimento disso a banda Sekmet grava CD, assina contrato e faz tour pelo país. Mais tarde surge a banda The Wish, que acompanhei até à minha ida para o concurso Ídolos, onde saí vencedor, daí surgem imensas oportunidades de trabalhar no meio profissional e trabalhei em canais de TV como SIC, TVI, RTP. Neste seguimento, trabalhei em teatros como o Trindade, Politeama, Tivoli, etc. Fui encenado por Antonio Feio, Fernanda Lapa, Henrique Feist, Filipe La Féria, Wanda Stuart, entre outros. Durante este processo, gravo 4 discos de originais a solo e participo em imensos projetos como cantor, letrista, corista, fiz dobragens de vozes para desenhos animados e editei um livro intitulado “Camaleão”. Fui pai e com a boa relação que tenho com as minhas raízes, regressei à minha terra para que a minha filha crescesse junto da família e tentar dar às pessoas da minha terra algum do conhecimento que adquiri, processo este que se mostraria um parto difícil… Reativei o Clube de teatro da escola Secundária que estava parado há imensos anos e já contamos com 3 trabalhos apresentados nos quais também originais do grupo. A atividade musical continua, a teatral também e só espero que a minha gente me dê espaço para trabalhar e fazer o que realmente interessa, a diferença.

 

PJ – A música é para si é uma necessidade ou um passatempo?

SL – A música é uma coisa muito séria e deve ser levada como tal. Sempre tive como objetivo ser artista e sempre fiz e lutei muito por isso

Já dormi na rua, passei alguma fome e remei contra muita maré, mas consegui sempre chegar onde queria e onde não cheguei, foi somente porque achei que não o deveria fazer.

 

PJ – Quais os géneros musicais que mais gosta de cantar?

SL – De tudo! já cantei de tudo e a formação que tive, quer musical quer teatral, permitiu-me isso, desde a ópera, musical rock, pop, popular, bossa nova, etc.

 

PJ – Quais os sentimentos que o dominam quando canta para um público que o aprecia?

SL – Felicidade pura, a entrega faz o resto, mas é preciso haver um amor muito grande pelas pessoas que pagam para te ver e que fazem de ti quem és, é uma relação estreita feita de respeito e admiração.

 

PJ – Muitas histórias terá guardadas durante todo o seu percurso de cantor. Quer partilhar connosco aquela que mais o marcou?

SL – A minha ida em busca do meu sonho após o serviço militar para Lisboa e ser avaliado com 19 anos pelo Filipe Lá Féria e ser chamado para o elenco principal e a minha participação no Ídolos em que fui por carolice e acabo por sair vencedor! São coisas que nunca esperei que acontecessem, mas pelo meio houveram imensas histórias fantásticas!

 

PJ – Que lições tirou destas marcantes experiências?

SL – Muitas, principalmente, que o sonho comanda a vida, mas também te pode magoar muito. Tem de haver sempre respeito, resiliência, amor e muito trabalho.

 

PJ – O que é ser um bom profissional ao serviço da música nacional e internacional?

SL– É ter uma responsabilidade enorme, ter sempre em mente como respeitar as regras interpessoais e, acima de tudo, trabalhar imenso. Há pessoas que pensam que ser artista já nasce com a pessoa e pronto… Um pouco de sorte e muito trabalho.

 

PJ – Quer partilhar connosco algum projeto, ao nível da música, ou a outro nível, que esteja em curso, ou para nascer?

SL – Tenho várias ideias e estou sempre a desenvolver algo. Neste momento estou focado na composição de novos temas, visto que editei um álbum há pouco tempo, mas a componente teatral de encenador é a que mais quero desenvolver e trazer para a nossa região, como novas técnicas e estilos, se me deixarem trabalhar.

 

PJ – Acredita que a sociedade dá a devida importância ao setor da cultura musical?

SL — Musical e teatralmente varia de lugar para lugar. Já estive em sítios pequenos com uma atividade cultural imensa e sítios grandes que sofriam de um vazio atroz. O nosso município tem tudo para ser muito rico culturalmente e não se deveria focar tanto na parte desportiva. A cultura e suas vertentes, são fatores que enriquecem o intelecto, a formação pessoal, a nossa história e língua. No meu ponto de vista, a cultura e a educação são os pilares de uma sociedade. Mas infelizmente não se verifica…

 

PJ – Além da música, que outras paixões nutre, que o completam enquanto pepessoa?

SL – Ser pai foi, sem dúvida, a melhor coisa que me aconteceu, adoro! Uma aprendizagem constante e uma bênção de Deus! A família que tenho é o meu pilar e minha profissão, na madeira, que tanto gosto, são as minhas ocupações.

 

PJ – Imagine a sua vida sem a música, como seria?

SL – Não seria. Toda a gente que me viu crescer diz que canto desde sempre, nas terras a trabalhar, a brincar, no trabalho, assim do nada, como forma de explicar um assunto ou situação… A música é uma forma de vida.

 

PJ – Apenas numa palavra, pode descrever-se?

SL – Acho que não sou linear, mas deixe cá ver… Lutador!

 

PJ – Para fechar esta entrevista, o que me diz o seu coração?

SL– Gostaria que as pessoas fossem mais unidas, sem “capelismos”, com mais escrúpulos e mais altruístas. O meu coração é inquieto, mas fiel.

 

PJ – Quero, em meu nome pessoal e em nome da Gazeta da Beira, dizer-lhe que foi uma enorme honra, Sérgio Lucas! Desejo-lhe a continuação de um bom trabalho e MUITO OBRIGADA!

Peço-lhe que deixe uma mensagem breve a todos os nossos leitores.

SL – Ajudem sempre a manter as tradições, a cultura e o respeito pelo que é nosso, apoiem o que é nosso, como este jornal, a nossa identidade e cultura. Não se confunda música pimba com a tradicional e não se confunda passatempo com profissão. Sejam felizes e façam os outros assim o serem.

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