Agostinho da Silva

Consciência coletiva da gente de Serrazes um século após o assassinato do Dr.º Augusto Malafaia – Crime de Serrazes (parte 03)

Crime de Serrazes

A morte do Dr.º Augusto, é logo pela manhã do dia 27JUL17,dada a conhecer mesmo aos povos mais distantes da Freguesia, pelo “dobrar dos sinos a Finados” com as 3 paragens usuais, quando falecimento do século masculino e já existindo o conhecimento do tresloucado ato de assassinato, logo houve o perjúrio de que era a confirmação da morte do Dr. Augusto Malafaia. O Corpo depois da compostura usual para as exéquias fúnebres tal como é descrito no auto da autópsia, toilete de casaca, meia preta e sapato de polimento, camisa branca gravata preta ,foi colocado em urna de mogno ficando exposto na Capela do Solar Malafaia onde foi assassinado, todo o dia e noite a seguir ao do seu falecimento(27JUL1917). De todos os pontos do País chegaram a Serrazes gente da maior importância, política, religiosa e científica, nomeadamente da Velha Universidade de Coimbra, onde o que agora jazia no celário tirou o Curso Superior de Bacharelato em Direito e ali vieram  para prestarem as condolências à Família enlutada e principalmente acompanhar naquelas horas tão tristes a Senhora D. Amélia Malafaia de Pina Falcão, que junto do caixão de seu filho, acompanhada de suas filhas, Eugénia e Palmira ia deixando cair as suas lágrimas de mãe sofredora. Também a gente simples do Povo de Serrazes e quiçá da Freguesia quiseram ali estar e permanecer, num anúncio de “, Consciência coletiva”, por duas ordens de razão:- a primeira era a indignação contida por tão nefasto e tresloucado ato dos assassinos do Dr.º Augusto Malafaia; a segunda era estar junto daquele que sempre que alguém, por infortúnio ou desgraça lhe batia à porta a pedir alívio sempre era atendido com as suas dádivas ou préstimos!

O Dr.º Augusto Malafaia apesar de lhe tirarem a vida muito jovem também se realizou junto dos mais humildes essencialmente criando projetos que levavam a dar trabalho a um número considerável de assalariados. Alguém escreveu a seu respeito”…. a mão de Augusto Malafaia era na expressão do nosso Eça, mão real, mão de dar…” Efetivamente assim seria, dava e sabia dar, o que nem todos sabem praticar! Nos anais da nossa História, têm assentamento no Torrão Pátrio e fora dele, os Malafaias! O Dr.º Augusto seguiu as pisadas dos seus maiores! Apenas como lembrança e para os mais jovens e incautos, uma das primeiras salas de aula que existiram no Povo de Serrazes, e até que fosse inaugurada a atual Escola Primária , funcionou dezenas de anos num edifício dos Malafaias. Mais tarde o mesmo espaço serviu para o ensaio do  Rancho Folclórico de Serrazes. Além do mais havia entre a  gente de Serrazes e a Casa dos Malafaias um certo ”laissez faire, laissez passer” para ir à lenha às suas tapadas, para apascentar essencialmente as ovelhas nos seus  terrenos e até ,o de  os rapazes irem aos seus laranjais. Daí, que a gente simples soube e sabe  distinguir o que de bem é feito, em termos singulares ou globais e quiseram há um Século, testemunhar a sua gratidão e fazer manifestação de pesar, com a presença viva no funeral de Augusto Malafaia, que até hoje não houve memória na freguesia e até no concelho tão grande manifestação de pesar. Saindo o funeral ao que se sabe ao meio da manhã do dia 28 de Julho de 1917, ainda o corpo estava na Capela do Solar, e já a bandeira da 1.ª  das Irmandades que vieram das paróquias vizinhas, encerrando o conjunto destas, a anfitriã da Senhora do Bom Sucesso de Freixo, estava a chegar ao Cemitério, distância  esta de mais de um quilómetro. O Funeral a todos comoveu e fez chorar mesmo os que não quisessem chorar, pois era um jovem que ia a sepultar por ser assassinado! Não obstante as diferenças sociais, bem acentuadas há época , os mais humildes terão sido os que maior sinal de luto fizeram nos seu vestuários! E durante mais de três meses, apesar de não ser necessário” reunião ou referendo”, mas a consciência coletiva ditou sem imposição que não deveria haver canto, toques de instrumentos e dança, porque Augusto Malafaia era merecedor desta póstuma consagração popular!

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