Manuel Silva

ACABOU O MAOISMO EM PORTUGAL?

Após a Revolução do 25 de Abril de 1974 existia em Portugal uma miríade de partidos, movimentos e organizações maoistas. À excepção do MRPP, todos os outros grupos tinham origem na primeira organização maoista portuguesa (CML/FAP – Comité Marxista-Leninista Português/Frente de Acção Popular, braço armado do Comité), fundada em 1964 por três dissidentes do PCP (Francisco Martins Rodrigues, “o camarada Campos”, até aí membro do Comité Central do partido liderado por Álvaro Cunhal, João Pulido Valente e Rui d’Espiney, todos já falecidos.

O MRPP era o único partido que afirmava ter sido o PCP um falso partido comunista e revisionista desde a sua fundação em 1921. Os outros maoistas defendiam o PCP como verdadeiro partido comunista até à chegada de Krutchov ao poder na União Soviética, que segundo eles, tornou o PCUS em “partido revisionista” e “partido burguês infiltrado no movimento operário”, restaurando o capitalismo sob a forma de capitalismo de Estado na URSS, caminho seguido e apoiado e apoiado pelo PCP.

A partir de 1987, com o desaparecimento da OCMLP (Organização Comunista Marxista-Leninista Portuguesa), o único partido marxista-leninista-maoista existente no nosso país passou a ser o PCTP/MRPP, fundado em 18/9/1970.

Após a queda do muro de Berlim e o fim da generalidade dos regimes que se definiam como comunistas, verifica-se uma “nuance” no partido de Arnaldo Matos, que passou a falar muito de marxismo e pouco de leninismo e maoismo. Num tempo de antena televisivo durante a campanha eleitoral para as eleições legislativas de 1991, Garcia Pereira, então o dirigente mais mediático do PCTP/MRPP, disse que a primeira experiência de poder comunista verificou-se em França, com a Comuna de Paris de 1871,  derrotada, e que a partir daí não houve nenhuma sociedade comunista.

Por esta altura ou pouco mais tarde, Arnaldo Matos afirmava que a experiência chinesa, com Mao Tsé Tung, foi uma contribuição importante para o desenvolvimento do marxismo-leninismo, mas só no respeitante à China. O MRPP já não considerava ter o “grande timoneiro” elevado o marxismo-leninismo a uma nova etapa, o maoismo.

Num debate sobre a regionalização realizado em Aveiro, durante a campanha eleitoral para o referendo à mesma, em 1998, no qual estive presente, um dos oradores foi António Garcia Pereira. Findo o debate, conversei com ele e perguntei-lhe se o MRPP ainda era maoista, tendo-me respondido “preferimos chamar-nos marxistas”.

Há muitos anos que, na coreografia do PCTP/MRPP, apenas aparecia a fotografia de Marx e também de Engels, desaparecendo os retratos de Lenine, Estaline e Mao.

De há dois anos a esta parte, Arnaldo Matos, agora novamente na direcção do partido de que foi fundador, tem considerado que as revoluções russa e chinesa não foram revoluções comunistas. Marx escreveu que “a revolução proletária realizar-se-ia em economias capitalistas desenvolvidas”. Ora, nem a Rússia, nem a China o eram. Na Rússia, o capitalismo era pouco desenvolvido. Grande parte da população vivia da agricultura, num regime semi-feudal. O mesmo se passava na China, onde as relações de produção capitalistas eram quase inexistentes. A maior base da revolução chinesa foi o campesinato. Arnaldo Matos afirma que estas revoluções falharam à partida, pois desviaram-se do marxismo. A aliança operária-camponesa sob a ditadura do proletariado não podia funcionar, tendo aquelas revoluções criado um capitalismo de estado, que se apropriava das mais-valias do trabalho dos produtores, contrário às teses políticas e económicas de Marx e Engels. Mais diz Arnaldo Matos que quando Lenine chega à Rússia e diz “a revolução de Abril (de 1917) tem que transformar-se numa revolução comunista e operária” proferiu o maior disparate da sua vida, devido à situação anteriormente tipificada. Também considera não ser possível construir a revolução num só país.

Numa entrevista concedida à Revista E, do “Expresso”, em Dezembro passado, Arnaldo Matos afirma “o partido leninista não serve, o partido maoista não serve. Temos de procurar outro caminho com base no estudo do marxismo”. Mais diz que o que Estaline escreveu nada tem a ver com o marxismo.

Resumindo e concluindo: o MRPP já não é leninista, nem estalinista, nem maoista, mas apenas marxista, pois considera terem falhado todas as revoluções porque deturparam os ensinamentos de Karl Marx. Já não há qualquer partido maoista em Portugal. Resta, em defesa de Mao, o chamado Círculo Revolucionário, que edita a “Página Vermelha”, constituído por antigos militantes do PCTP/MRPP, desconhecido do que apelidam de massas.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *