António Alexandrino
1. Prémio “Fernando Namora”

José Eduardo Agualusa é o vencedor, com o romance “Teoria geral do esquecimento”, publicado em 2012. Prémio para romance, cuja acção decorre em Luanda. Sucedendo a “Milagrário Pessoal” (2010), é a mais recente obra de ficção do escritor angolano. O galardão ‘vale’ para Agualusa o estímulo de 15 mil euros.
Esta é a 16ª edição do certame, instituído pelo Grupo “Estoril-Sol”. Pela primeira vez, foram anunciados os romances finalistas, constando da lista as obras: “Jesus Cristo bebia cerveja” (Afonso Cruz), “O rei do Monte Brasil” (Ana Cristina Silva), “Metade maior” (Julieta Monginho) e “Barro” (Rui Nunes).
A acção narrativa de “Teoria geral do esquecimento” decorre em Luanda e começa nas vésperas da proclamação da independência de Angola (dia 11 de Novembro de 1975), quando uma mulher portuguesa ergue um muro que a separa da casa onde mora, acabando por sobreviver isolada, durante cerca de 30 anos. A escolha do júri teve em conta «a escrita ágil de um autor que sabe realizar uma especial economia de efeitos, encontrando uma linguagem em que o Português é falado em intercepção com outros modos», segundo o texto da acta. O júri salienta que «esta obra engrandece o apurado estilo literário da ficção do autor».
Presidido pelo escritor Vasco Graça Moura, do júri fizeram parte: Guilherme d’Oliveira Martins, pelo Centro Nacional de Cultura, José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, além de outras personalidades, em representação da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, da Direcção-Geral do Livro e do Grupo Estoril-Sol.
José Eduardo Agualusa nasceu em Huambo, no planalto central de Angola, em 1960. É membro da União de Escritores Angolanos. Entre novelas, contos e romances, é autor de mais de 20 títulos.
2. Prémio “Pessoa”

- Richard Zenith
Richard Zenith é o galardoado com o Prémio “Pessoa”. Certame da iniciativa conjunta do Expresso e da Caixa Geral de Depósitos, visa “destacar personalidades da Cultura, Artes ou Ciência cuja obra, num determinado ano, tenha obtido destaque no panorama nacional”.
A viver em Portugal há 25 anos, o norte-americano Richard Zenith, escritor, tradutor e crítico literário, com dupla nacionalidade, é um dos mais consagrados tradutores de obras de autores portugueses, tendo-se destacado pelos trabalhos de tradução para inglês de autores como Camões, Antero de Quental, Sophia de Mello Breyner ou António Lobo Antunes. Fernando Pessoa tem sido objecto de especial divulgação por parte de Richard Zenith.
O júri do Prémio “Pessoa”, presidido por Francisco Pinto Balsemão, entendeu destacar R. Zenith que receberá um prémio pecuniário no valor de 60 mil euros.
3. Prémio “LeYa”

- Nuno Camarneiro
Nuno Camarneiro é o vencedor do Prémio “LeYa”, com o romance “Debaixo de algum céu”, a publicar em Março. Vai receber a quantia de 100 mil euros.
Criado em 2008, o referido prémio visa “distinguir um romance inédito escrito em português”. É promovido pelo grupo editorial “LeYa”, que reúne mais de uma dezena de editoras e chancelas de Portugal, Angola, Moçambique e Brasil.
Nuno Camarneiro tinha já uma obra publicada pelo mesmo grupo editorial, intitulada “No Meu Peito Não Cabem Pássaros”.
Ao júri presidiu o poeta Manuel Alegre
4. Prémio “Nobel” 2013

- Alice Munro
Foi atribuído a Alice Munro. Nascida no Canadá, em Julho de 1931, publicou a sua primeira história (“The Dimensions of a Shadow”), em 1950, quando ainda estudava na faculdade.
Publicou doze antologias de contos e um romance (“Lives of Girls and Women”). Tem recebido inúmeros prémios literários, entre eles, o ‘Governor General’s Literary Award’, o ‘Giller Prize’, o ‘National Book Critics Circle Award’.
Dela se escreveu, a propósito de “Fugas” (colectânea de oito histórias que falam sobre pessoas – mulheres de todas as idades e de origens diferentes, os seus amigos, amantes, pais e filhos – cujas vidas, nas mãos de Alice Munro, se tornam reais e inesquecíveis): «Ninguém consegue escrever de forma tão convincente sobre “o progresso do amor” como Alice Munro (…) Surge como um dos colossos vivos do conto moderno, e o seu realismo tchekhoviano, o seu profundo conhecimento psicológico e o seu sentimento instintivo da aritmética emocional da vida quotidiana têm deixado uma marca indelével na sua escrita contemporânea.» (‘The New York Times’) Ou: «Alice Munro tem vindo a ser reconhecida como a melhor escritora de ficção a trabalhar na América do Norte. “Fugas” é um encanto.» (‘The New York Times Book Review’)
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Morreu o escritor Urbano Tavares Rodrigues
• António Alexandrino
Aos 89 anos, morreu o escritor Urbano Tavares Rodrigues.

- Urbano Tavares Rodrigues, sempre optimista, quanto aos destinos do Mundo, nunca deixou de acreditar na bondade do ser humano
Tendo completado recentemente 60 anos de vida literária, era professor jubilado da Faculdade de Letras de Lisboa. Senhor de “uma grandeza modesta”, foi um resistente ao ‘Estado Novo’, sendo por isso várias vezes preso e afastado do ensino universitário. Filho de grandes proprietários alentejanos, e numa linha de coerência que sempre defendeu, doou as suas terras aos que nelas trabalhavam, logo após o 25 de Abril de 1974.
Sempre optimista, quanto aos destinos do Mundo, Urbano Tavares Rodrigues nunca deixou de acreditar na bondade do ser humano – “Penso que, no futuro, virá aquilo a que se poderá chamar a igualdade possível”.
Deixa mais um livro pronto, a lançar neste ano – ‘Nenhuma vida’ –, em cujo prefácio se pode ler: «Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhoso adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças e à beleza das mulheres»
A escrita tornou-se, nos últimos anos, a sua obsessão – “Às vezes, chego a ficar doente, porque vivo tão por dentro o que estou a escrever, que até de noite acordo a pensar nisso”.
“Fecundo novelista, supera o individualismo da afirmação pessoal no amor e na aventura pela denúncia duma sociedade corrupta e pela fome de justiça” (in ‘Dicionário de Literatura’, direcção de Jacinto do Prado Coelho, p. 954).
É autor de vasta obra que abrange ensaios, crítica, viagens, romances, contos – “Bastardos do Sol”, “Insubmissos”, “Dissolução”, “A Noite Roxa”, “Uma Pedrada no Charco”, “Nus e Suplicantes”, “Dias Lamacentos”, “Imitação da Felicidade”, “Terra Ocupada”, “Torres Milenárias”, além de outros títulos.
…….
«– Mas, quanto ao nosso filho, talvez tenhas razão: tenho de me ocupar dele. Se não for eu a fazê-lo …
– As notas que ele traz da escola são bonitas, não haja dúvida! A vida tem-me corrido sempre torta, caramba: uns pais que me escravizavam, um marido sem ambições, agora um filho que é um burrinho!
– Porque é que dizes isso? Como é que se mede a inteligência de uma criança aos dez anos?! Talvez lhe falte assistência nossa, de facto…
– Queres que todos saibam ler, que todos sejam médicos e advogados, e nem sequer ensinas o teu filho, que sofre o vexame de ser pior aluno que os gandulos de pé descalço que andam com ele na quarta classe…
– E talvez esses fossem mais capazes do que ele de ser médicos ou engenheiros, se a vida não lhes cortasse as pernas, coitados…
[…] Sim, e por isso é tão belo viver e é tão fácil morrer. Quem sou eu? Um elo de uma corrente. Quebra-se o elo, mas a corrente fica. Um entre muitos, uma parte de um todo em que palpita agora a mesma ideia, como sangue a correr num corpo múltiplo. Sim: isto pode ser melhor, deve sê-lo, tem de o ser; a nossa terra há-de chegar para todos.
[…] Nem lhe responderam. Aquilo sim, era gente. Pelo menos naquela hora. São as ocasiões que fazem as pessoas; os homens surgem nas dificuldades e é quando são melhores, mais vivos, mais limpos, unidos.»
“Terra Ocupada – novelas – A Alegria de Viver” (Bertrand, 2ª edição, pp. 229-230; 239; 243)
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