António Gouveia
						
Oportunismos, egoísmos, populismos e simplismos
									
						
O Papa Francisco, no sétimo ano do seu pontificado, encara uma crise (acontece, no casamento, o mesmo, sete anos é o momento da reflexão) casamento também é pontificado, os cônjuges são pontífices, fazem pontes. Mas no Vaticano a crise é mais delicada, as grandes reformas estão encalhadas (como cá), assiste-se a uma queda de popularidade inédita, já se fala na sua resignação, repete-se Bento XVI, acontece por aqui e toda a Europa, Na França de Macron e coletes verdes, ninguém sabe qual o melhor caminho a seguir. Na Itália de Conte/Salvini/Di Maio, uma mistura explosiva, dívida insustentável, orçamento mal calibrado face às exigências políticas, migrações famintas m massa. Na Alemanha prepara-se a sucessão de Merkel, política ingrata, excita, mas é exigente e fatigante, difícil aguentar o ritmo e as exigências destes tempos, será bom para a Europa? No Reino Unido, com a votação do Brexit, esperamos o pior. Por cá o Presidente Marcelo também em queda de popularidade, lenta mas vertical, a exceder-se nos afetos e poderes presidenciais, anestesia vontades  e hiperboliza (vaidade, vício humano, natural, portanto) o poder moderador (?) invadindo, frenético no assédio, a liberdade de todos, e atropelando o direito constitucional, um erro duplamente agravado, ele sabe, é professor de Direito, ‘ignorantia legis, non excusat’. Rui Rio é o líder mal-amado pelos boys obstinados e loucos do PSD, partido em bolandas e conspirações Pós Passos Coelho (PPC) e Trabalhos Para Casa (TPC) para um exame que já foi e querem segunda chamada, continua acossado pelos rivais, aves de rapina a contar borlas e vagas para lugares e modos de vida a distribuir pós-eleições, atentos à tendência de subida do desemprego político. O ‘onorevole’ Luís Montenegro lidera este ‘golpe palaciano’ (ou ‘de estado’), desestabiliza o eleito há pouco e, como faltou ao exame no último Congresso, quer redimir-se, qual salvador (outro malheiro) da Pátria, mas o seu palrar tem um ‘conteúdo patético’, ainda que secundado pelos ‘fratelli’, gatos sempre prontos a abocanhar o bofe do poder e cuidar de interesses próprios, os (gatos) de Viseu incluídos, outra tragédia de cegueira lamentável, puro egoísmo (outro vício humano, portanto, natural). Enfim são tempos em que os oportunismos, populismos, nacionalismos e outros simplismos, ‘irmãos de todos os fundamentalismos’, plagiando Frei Bento Domingues, proliferam por aí, mistura de emoções que antecipam catástrofes. ‘Si vis pacem para bellum’, devemos estar preparados, tratar das nossas vidas sem pensamentos catastróficos ou emoções que minem este espaço, tempo e movimento que nos pertencem, expulsemos os oportunismos, egoísmos, populismos e nacionalismos bacocos e exacerbados deste Portugal à beira-mar plantado com quem, por vezes, nos desentendemos e acusamos injustamente, o desespero inconsolável e a ansiedade angustiante são frutos de uma análise transacional íntima, descabida, descuidada e inconsequente, leva sempre a nenhures. Desculpa-se, um quarto do país está em depressão, as estatísticas da saúde assim o dizem. Mas temos de reagir de pronto.
Tudo dito, foi no Público que li e refleti sobre as ideias feitas texto escrito de Frei Bento Domingues e Pedro Abrunhosa que ele chamou à colação – dupla impensável, ‘Espiritual’, quem diria! -, e me deram o mote para esta primeira crónica 2019, texto do qual aqui deixo algumas pérolas para reflexão: “A complexidade e a cooperação entre ciência, ética, religião e estética podem criar um clima espiritual que nos defende de todos os simplismos, irmãos de todos os fundamentalismo (porque) o animal é um feixe de respostas, e o ser humano, um feixe de perguntas, (este) não se adapta apenas ao meio, transforma-o, umas vezes para bem, outras para o mal”.  E Pedro Abrunhosa: “Vivem-se momentos de ausência de mistério, momentos de pura fisicalidade, de aparência, muita aparência, de ‘eu sou o que tenho’, ‘eu sou o que mostro que tenho’ … e isso faz com que se viva numa feira de vaidades, que me faz lembrar muito os vendilhões do templo, este abastardamento dos valores humanos, que é uma das falências da decadência. Os impérios começam a decair exatamente por isso, por uma certa febre da vaidade da aparência.” Denso? Não, se pararmos para ler mais uma vez, pensar com tempo e agir. Sim, se continuarmos distraídos, autómatos ao sabor das correntes de águas, ventos e espuma das marés.
						
												
					 
								
				
				
			
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