Há 100 anos: a conclusão da Linha do Vale do Vouga

Daniel Melo

3 – A estação das Termas

CaminhoFerro-Vouga_artigoDaA 30 de Novembro de 1913 foi finalmente aberto à exploração o torço da linha entre Ribeiradio e Vouzela. A partir dessa data, passaram a circular comboios diários entre esta vila e Espinho. A viagem demorava entre quatro horas e meia a quase cinco horas (horário em Ecos do Vouga, 07-12-1913).

Agora só faltava terminar a linha entre Bodiosa e Vouzela. A maior parte do esforço foi concentrada na construção das duas pontes desse troço e, para apressar as obras, foi colocada iluminação a gás acetilene, que permitia trabalhar de noite. Para o efeito esteve por cá um empregado d’uma casa commercial do Porto a fazer a instalação dos focos nas pontes do Pego e em S. Pedro do Sul. (JL, 23-11-1913).

De resto, a linha avançava a bom ritmo dos lados de Bodiosa para baixo e em breve estava na freguesia de Figueiredo das Donas, conforme relatava o correspondente dali:

A Linha do Valle do Vouga, n’esta freguezia, está quasi concluida. É um gosto ouvir os estridentes e agudos silvos da machina que logo de manhã cedo passa quasi junto de nossa casa, trazendo cascalho e outros materiaes. (JL, 14-12-1913).

A linha progredia também do lado das Termas, como reportava o correspondente local:

Prossegue com atividade o assentamento dos carris da linha ferrea do Valle do Vouga.

A maquina, vinda de Vouzela passa já aqui frequentemente para a Nazarét e apita dia e noite na sua faina laboriosa e arfar continuo. A estação fica chic, o que causa engulhos a muita gente que a não tem tão boa… Mas nada de arrufos… (JL, 21-12-1913).

Com efeito a estação das Termas era um edifício diferente de todos os outros na mesma linha. As restantes estações obedeciam ao um projecto-tipo, que as tornava todas iguais, variando apenas o número dos módulos que as compunham – ou tinham só edifício de passageiros, ou possuíam também armazém de mercadorias anexo.

Ao que parece, a companhia construtora tinha acedido aos pedidos da câmara de S. Pedro do Sul para que o edifício fosse aprimorado. É o que ficamos a saber graças a uma carta que o município dirigiu, já depois da inauguração da linha, ao director da companhia. Nela se pedia o apoio da empresa aos esforços de investimento que o município estava a fazer na estância termal, sublinhando-se que o desenvolvimento das Termas também era do seu interesse. E lembrava-se:

Já a Companhia, na pessoa do seu Director Mgr. Audigier reconheceu essa verdade, annuindo ao pedido de tornar diversa e mais vistosa a estação das Thermas e em ser mudada para o nascente d’essa estancia o que permitirá regularisar e embelesar a povoação em harmonia  com uma planta geral da localidade a que serão submetidas as construcções ali a fazer. (JL, 07-06-1914).

E foi assim que a estação das Termas de S. Pedro do Sul beneficiou de um projecto especial, conforme é bem notório ainda hoje, apesar do lamentável estado de abandono e degradação em que tem caído nos últimos anos.

 

Nota do Autor – Por motivos alheios à minha vontade, a última edição da Gazeta da Beira não manteve os itálicos do original, tornando assim quase impossível distinguir as citações. Ainda na mesma edição saiu um texto indevidamente assinado com o meu nome na pág. 9.