Crónicas do Olheirão de Mário Pereira

O pior centralismo é o provinciano

A Ecopista do Vouga foi oficialmente inaugurada no passado de 6 de outubro. A cerimónia solene aconteceu, de manhã, em Viseu, com a presença da Sra. Ministra Ana Abrunhosa, seguindo-se, sessões com os senhores presidentes das câmaras de Viseu, S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades, em cada um destes três concelhos.

Eu tinha recebido um convite para à sessão, com a senhora ministra, em Viseu, mas decidi não ir. Recebi depois um convite para uma cerimónia de inauguração em Oliveira de Frades e, sinceramente, pensei que tivessem mudado a cerimónia oficial. Só no local é que percebi que a inauguração oficial tinha efetivamente acontecido de manhã em Viseu.

Inaugurar a Ecopista do Vouga em Viseu, não me faz sentido, desde logo, porque Viseu, dos municípios atravessados pela Ecopista do Vouga, é o que tem menor extensão, pelo que esta inauguração me pareceu mais uma manifestação do centralismo que Viseu gosta de exibir.

As minhas razões para não ir à cerimónia de Viseu multiplicaram-se, depois de no dia 1 de outubro ter percorrido de bicicleta o troço da Ecopista do Vouga entre Moçâmedes e Viseu.

Chamar Ecopista ao troço entre o cruzamento da A24 com a N 16 e o Tribunal de Viseu é completamente desajustado à realidade. Em cerca de 7 km, talvez um terço tenha a forma de Ecopista, pois na maior parte do percurso o canal da linha do comboio foi transformado em arruamentos urbanos.

Em Moselos a Câmara de Viseu, na anterior encarnação do seu Presidente, construiu duas rotundas em cima da linha, pelo que temos de fazer um desvio por uma rua antiga que tem um acesso com grande declive para entrar na Nacional 16, e depois circular por uma das rotundas duma forma nada amigável para quem vai de bicicleta.

Mais adiante, entre o Quartel da GNR e o Tribunal, onde a Ecopista do Vouga se liga à Ecopista do Dão, o percurso não é sequer uma ciclovia urbana com o mínimo de condições. Na Avenida Europa limitaram-se a pintar umas linhas e algumas bicicletas num passeio, muito degradado, onde encontramos todo o tipo de obstáculos.

Não é por acaso que embora fosse um domingo ao final da manhã não encontrei meia dúzia de pessoas no troço de Viseu.

Já fiz a Ecopista do Dão, que é usada por muita gente, mas que na área urbana não tem rigorosamente nada a ver com a Ecopista do Vouga. Aliás, alguém que venha da Ecopista do Dão e queira continuar para a Ecopista do Vouga vai pensar que se perdeu.

Tudo na Ecopista do Vouga na área urbana de Viseu revela falta de cuidado e falta de respeito feito pelo investimento feito pelos outros municípios. Há locais onde é evidente o risco de acidentes e até o piso, apesar de ter sido o último a ser feito, já está em muito mau estado.

Eu diria, que se Câmara de Viseu tivesse como objetivo boicotar a Ecopista do Vouga dificilmente teria feito melhor.


12/10/2023

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