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A Educação em Pequenas Histórias - Mais do que preocupações?
Se há algo que se ouve muito nas escolas, e também na sociedade em geral, é que as pessoas andam ansiosas. Mas, muitas das vezes ainda não estamos a falar de ansiedade, mas sim de preocupações no geral e que acabam por condicionar, de alguma forma, o nosso bem-estar e, consequentemente, a nossa vida.
Nas escolas são vários os motivos para apontar, as crianças andam ansiosas porque: vão ter avaliações, porque vão fazer apresentações, porque vai haver uma visita de estudo, porque aconteceu alguma coisa em casa… Podem ser inúmeras situações que levam a que os adultos sintam as crianças “desconfortáveis” ou que as próprias crianças o verbalizem. Mas será isto ansiedade que precise de intervenção imediata?
Pedíamos um exercício de memória aos adultos que também passaram pela fase da escolaridade. E que, provavelmente, também tinham algumas preocupações face a determinadas alturas do ano letivo e do que as mesmas exigiam. Lembram-se de quando se sentiam preocupados? Qual era o motivo? Como faziam para lidar com isso? Ou não faziam nada e essa sensação acabava por passar?
O que parece é que hoje em dia nem damos oportunidade à criança de experienciar a situação de preocupação e que de uma forma natural possa aprender a lidar com a mesma, a arranjar padrões de funcionamento que se ajustem à sua forma de ser, à sua forma de pensar e de sentir o mundo. Quando sentimos a criança “diferente” pensamos logo no que nós podemos fazer para que ela se sinta melhor. Perguntamos então: o desconforto não faz parte da vida? Não devemos aprender a lidar com ele? Ele não nos ensina nada? Temos a necessidade de querer ensinar à criança a desaparecer com o mal-estar com um toque de mágica. Mas será esse o caminho?
A criança deve aprender a descobrir que situações a preocupam, quais são aquelas em que vai investir o seu esforço e quais não são. Vivemos, por vezes, num ritmo que também não nos permite dar tempo para aprender a lidar com o que nos preocupa, a pensar sobre isso. E como adultos que acompanhamos estas crianças e jovens o que podemos fazer? Dar abertura para que a criança exprima as suas preocupações, sem julgamentos. Ouvir o que tem para nos dizer, ajudando a perceber o que está a sentir, o que pensa fazer acerca disso. Deixar que a criança construa a sua narrativa sobre a situação é uma forma de promover a compreensão face ao que está a gerar preocupação. E muitas das vezes é suficiente para trazer serenidade.
E atenção, quando falamos das preocupações falamos daquilo que prende o nosso pensamento para uma temática, que nos deixa em alerta, que nos move para uma solução.
Agora quando a preocupação se torna excessiva, quando surgem sintomas corporais associados, aí é porque a forma de lidar com algumas situações não está a funcionar de uma forma adaptativa e por isso, talvez seja a hora de experimentar outras abordagens. Mas isso fica para outro dia.
12/10/2023
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