António Moniz Palme (Ed. 715)

Quem não se sente não é boa gente (1ª parte) - Timor, nossa irmã tão querida e tão martirizada

Quem não se sente não é boa gente (1ª parte)

Timor, nossa irmã tão querida e tão martirizada

No meu tempo de escolar, -como a gente da minha geração bem sabe, nas escolas primárias aprendia-se a sério o português e a respectiva gramática, a matemática, a história e a geografia. Se bem que com afluentes dos nossos rios até à exaustão e as montanhas e ramais ferroviários ao pormenor, mas o que é certo é que ficávamos bem preparados para a vida. Mais tarde, na minha vida profissional, quando me aparecia alguém com a quarta classe e aprovado no respectivo exame, já sabia que tinha os preliminares culturais essenciais e as condições básicas mínimas e suficientes para desempenhar bem o cargo que lhe fosse oferecido. E, invariavelmente acertava nesse juízo de valor. A quarta classe, era uma armadura cultural que, diga o que se disser, tornava o candidato ao trabalho capaz, sobre diversos aspectos profissionais, tivesse tido ou não educação em casa. Benditos professores primários que ganhavam pouco e eram altamente competentes. Ainda por cima, tinham que nos aturar..!. Aproveito para relembrar com saudade o meu querido professor da primária, o lafonense, Sr. Professor António Luís.

Mas, continuemos com o raciocínio encetado. Nas diversas matérias que nos ensinavam, lá vinham as províncias ultramarinas a reboque. Os professores, na generalidade, nunca lá tinham ido e os alunos a mesma coisa. Mas ficávamos com ideias claras sobre os múltiplos territórios coloniais portugueses, a sua situação, a sua gente, a sua fauna e a sua flora. Para mim, talvez Timor fosse a terra que mais me apetecia visitar, devido ao facto de ter sido ocupada pelos japoneses, na altura da Segunda Guerra Mundial, e pelo modo como a população se portou na resistência denodada contra os invasores, apesar da crueldade dos militares nipónicos contra a nossa pacífica gente. A história do Régulo Côrte-Real foi paradigmática, que acabou por ser fuzilado, mas embrulhado na bandeira portuguesa, dando vivas ao nosso País, antes de ser abatido. E sabíamos que Timor Leste era um pequeno território, na maior parte montanhoso, onde se prefigurava um dos pontos mais altos da Ilha, o Ramelau. Igualmente sabíamos que o café lá produzido era uma especialidade e que lá existia a cultura do algodão, da cana de açúcar e da copra, bem como florestas de sândalo que para lá atraíram os primeiros navegadores portugueses. Enfim, ainda por cima, tínhamos uma visão romântica da história daquele território e do seu Povo, o que não nos fazia mal nenhum, antes muito pelo contrário. Bem me lembro, muito mais tarde devorar o livro “Funo”, escrito pelo conhecido de meu Pai, Sr. Dr. Carlos Cal Brandão, que lá esteve deportado, por razões políticas e que lutou na resistência contra os invasores japoneses, como um simples guerrilheiro.

Pois bem, depois do miserável abandono de Timor, integrado na ainda mais miserável descolonização feita por um sector politico do povo português, que representava uma ínfima minoria contra a vontade da esmagadora maioria da população, todos acabámos por serenar o nosso espírito com a sua independência, após as dramáticas vicissitudes que aquela boa gente passou, desde a ocupação militar pela Indonésia, passando pelo infame e selvático massacre do cemitério de Santa Cruz, em 1992, até à eleição de Xanana Gusmão. Na realidade, envergonhados pelo comportamento dos nossos responsáveis políticos pós revolução que contrastou com o posterior comportamento colectivo do Povo Português contra a Indonésia, conseguimos finalmente transmitir ao Povo Maubere a certeza que desta vez não seria traído. Na realidade, tudo fizemos para resolver a situação nas instâncias internacionais, levando-lhes a esperança e a determinação para continuarem a lutar pela sua liberdade, pela sua cultura, pela sua língua indígena o Tétum e pela sua língua cultural o Português.

E chegados à verdadeira independência do Povo Maubere, tentámos lavar o nosso espírito e pensar que alguma coisa tínhamos feito por Timor, esquecendo a descolonização criminosa com que uma minoria colaborou, satisfazendo de mão beijada os interesses económicos de potências estrangeiras, bem arredios dos interesses portugueses e mais arredio ainda dos interesses das populações autóctones, as grandes vítimas da descolonização exemplar.

E neste longo processo, procurámos esquecer o passado, arrumando egoisticamente os pesadelos da descolonização no armário do esquecimento, dormindo beatificamente, embalados pela simpática imagem do Prémio Nobel D. Ximenes Belo a percorrer as avenidas de Lisboa em apoteose e pelas manifestações efusivas de contentamentos, acontecidas em todo o País, provocadas pela iminente independência.

Mas tal não chega e, exactamente ao que acontece quando nos deixamos adormecer depois de uma boa e pesada refeição, acabamos por acordar sobressaltados por um pesadelo que das profundezas do nosso ser, nos vem recordar o que permitimos que fosse feito e as traições cometidas por responsáveis civis e militares na infame descolonização levada a cabo…!

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