Porto Santo, a antiga irmã pobre da Madeira (2ª Parte)
Como já referi, num anterior artigo publicado na Gazeta, a Ilha de Porto Santo faz igualmente parte do Arquipélago da Madeira, todavia, há bem pouco tempo, pouca gente a conhecia. Fica a cerca de 42 milhas náuticas do Funchal, sendo a ligação marítima, quase até à década de setenta, o único modo de lá arribar. É uma Ilha, na sua maior parte plana, mas com vários picos superiores a 400 metros de altura, nos seus cerca de 42 metros quadrados. O mais alto, o Pico do Facho, tem 517 metros de altitude. O Litoral Sul é constituído por uma extensa baia, com 9 quilómetros de praias encantadoras, que contrasta com a restante costa escarpada e agreste. A areia da praia é biogénica, isto é, de origem biológica, resultante da erosão de conchas e de outros seres vivos durante milhões de anos, o que lhe confere qualidades terapêuticas notáveis, um significativo atractivo para os turistas que procuram Porto Santo, para tratamentos de areia, de hidromassagens e de banhos de lama. Por outro lado, as preciosidades geológicas que mantém e felizmente têm sido preservadas, constituem um chamariz irrecusável para que se visite Porto Santo. As colunas prismáticas que formam uma estranha escadaria, idêntica à célebre e conhecida Calçada dos Gigantes existente na Irlanda do Norte, bem como as “morenas”, filões de lava que subiram há milhões de anos por brechas existentes na rocha e desceram pela encosta oposta, formando estranhas listas de cor diferente das paredes, são estranhamente deslumbrantes. Uma beleza!!! Ainda por cima, da flora fazem parte os típicos Dragoeiros, cactos nativos da Ilha, com um aspecto fora do vulgar, de onde se extrai o Sangue de Dragão que, desde a chegada dos primeiros colonos, é exportado para tingir tecidos.
Há muitos anos, quando fiz a minha primeira visita a Porto Santo, parti num barco do Funchal, que fazia essa viagem de ida e volta. Muitas vezes a travessia demorava muito mais do que o previsto, devido ao estado do mar. Na Ilha, havia um único hotel, o Hotel Porto Santo, hoje em dia completamente remodelado e com um aspecto irreconhecível, para melhor. Fora desse estabelecimento hoteleiro, tomavam-se refeições ligeiras, mas excelentes, devo dizê-lo, normalmente grelhados, numas modestas barracas de madeira, instaladas na praia ou na sua proximidade. As casas de habitação contavam-se pelos dedos, fora os imóveis que constituem o aglomerado do centro histórico, na Cidade Vila da Baleira. Mesmo, actualmente, os habitantes permanentes de Porto Santo ficam-se pelas cinco mil pessoas, sendo tal cifra ultrapassada, durante o Verão, com a profusão de profissionais de hotelaria e de outras actividades que vêm fazer face às exigências dos milhares de turistas que invadem os belíssimos e modernos hotéis de Porto Santo e pelos proprietários de casas que lá aparecem para passar férias, nessa altura.
Claro que em relação ao acesso dos visitantes, as coisas mudaram, quando o aeroporto militar construído na última guerra se transformou, em 1960, num excelente aeroporto civil, onde aterram permanentemente aviões carregados de turistas de todos o mundo e de onde são evacuados os casos urgentes de sinistrados e de doentes. Aliás, após a construção, uns anos mais tarde, do aeroporto de Santa Catarina, na Ilha da Madeira (1964), agora baptizado de Cristiano Ronaldo (A.C.R.7), o aeroporto de Porto Santo mantém a sua primordial importância complementar, como alternativa, nos dias em que os ventos, na Madeira, ultrapassam os limites operacionais estabelecidos nas normas de segurança das companhias aéreas.
Como já referi, o primeiro donatário de Porto Santo, foi Bartolomeu Perestrelo, que fixou residência na parte plana da Ilha, em frente do local onde pairavam as caravelas e onde abivacava o seu contingente militar. Como recompensa pelo achamento, foi investido pelo Rei no cargo de Donatário da Ilha foi-lhe dada a mão de Isabel Moniz, uma senhora portuguesa, pertencente a uma das mais importantes famílias da época.
Ora bem, este casal teve uma filha Filipa, que casou em 1488 com Cristóvão Colombo, um genovês, segundo informação de um escriba de Génova, um frade conhecido pelas suas mentiras delirantes e que escrevia quanta patranha havia sobre os feitos dos genoveses, então já completamente afastados da corrida da navegação comercial e política pelos homens das escolas marítimas portuguesas. Começou a propalar romances, autênticas enormidades inverosímeis, acerca de supostos feitos heroicos de navegadores genoveses, como foi o caso de Cadamosto, marinheiro de uma caravela portuguesa e que o frade diz ter descoberto todas as ilhas de Cabo Verde, pois viu as mesmas do topo de uma dessas Ilhas, quando lá chegou, no exercício das suas funções, numa nau portuguesa!!! Facto impossível, pois de uma ilha não se vislumbram todas as outras. O mesmo se passou com Américo Vespúcio que, das terras apelidadas mais tarde com o seu nome, apenas conhecia o que corria pelas bocas do mundo e, quando muito, lhe era transmitido pelos tripulantes das embarcações que abastecia com mercadorias do seu estabelecimento comercial, sito em Castela. E o falso historiador conseguiu mesmo, com a falta de informação existente, que o novo continente descoberto se chamasse América, por supostamente ter sido descoberta pelo tal Américo Vespúcio. Ora, com o mesmo tipo de inverdades, veio afirmar que Cristóvão Colombo era genovês, filho de um taberneiro cardador de lã, cujos serviços oferecidos para descobrir a Índia pelo Ocidente não foram aceites pelo Rei D. João II. O investigador Mascarenhas Barreto veio destruir todas estas inverdades, afirmando, com provas documentais que ninguém refutou e ninguém conhecia, mas que desde sempre existiram nos arquivos e nos anais da Torre do Tombo. Segundo o ilustre investigador, Cristóvão Colombo era português, nascido em Cuba, no Alentejo, em 1448 e não em 1451, como referem os genoveses. O seu verdadeiro nome era SALVADOR FERNANDES ZARCO, filho natural do Infante D. Fernando, Duque de Beja, Mestre da Ordem de Cristo e Condestável do Reino, e de uma senhora judia, Isabel da Câmara. O Infante D. Fernando era filho do Rei D. Duarte e irmão mais novo do Rei D. Afonso V. Assim, Cristóvão Colombo era neto do Rei D. Duarte, sobrinho do Rei D. Afonso V, primo de D. João II e meio irmão do Rei D. Manuel e da mulher de D. João II, D. Leonor, os dois filhos legítimos do Infante D. Fernando. Pertencia à Ordem de Cristo e estava obrigado ao secretismo estabelecido nas regras da Ordem do Tempo e acolhido na sua sucessora Ordem de Cristo. Por esse motivo, usava um nome diferente, na sua actividade de navegador. Pelos vistos, era uma espécie de agente secreto de D. João II, como dizia Mascarenhas Barreto. Aliás, mais tarde, os castelhanos vieram dizer isso mesmo, pretendendo retirar-lhe todas as benesses recebidas pelos Reis Católicos, como prémio da sua chegada às Índias. Foi devido à sua ascendência ilustre, que teve possibilidade de casar com D. Filipa Moniz Perestrelo. Deve dizer-se que Cristóvão Colombo, não sabia uma palavra de genovês. Depois de casado, viveu numa casa em Porto Santo, que ainda existe, tendo lá nascido o seu filho. A sua casa, actualmente, está transformada numa Casa Museu, onde se procurou recriar o ambiente que se vivia no tempo dos seus ilustres moradores. Os guias vão dizendo aos turistas que há dúvidas acerca da nacionalidade de Cristóvão Colombo. Será Genovês, será Português? Levantavam tal dúvida com um ar inocente. Claro que me fazia de parvo e matava as dúvidas com uma explicação histórica, acabando por constatar já conhecerem o assunto por inteiro. Porém, como Porto Santo recebe imensos turistas italianos, não queriam ofender a freguesia…! Como a ignorância da presumida intelectualidade portuguesa permitiu que se mantivesse uma mentira deste calibre, sobra a naturalidade de Cristóvão Colombo, durante tanto tempo, nas nossas barbas!!!?
António Moniz Palme-2016 2ª Parte
————————————————————————————————
Mais artigos:
Comentários recentes