António Moniz Palme (Ed.687)

Crónica

O Homem está a cometer um suicídio a curto prazo, se continuar a não respeitar a Irmã Natureza. – 1ª Parte

 • António Moniz de Palme

Durante o último e no decorrer do actual século, o Homem vem abusando descaradamente, sem qualquer assomo de sensibilidade e de escrúpulos, de um bem essencial à sua vida, a Natureza, fazendo dela um uso completamente irresponsável. Assistimos a uma permanente agressão e deterioração do Meio Ambiente e dos Bens que na Terra encontrámos.

Essa é a triste realidade.

Claro que muitas vozes existem, que protestam veementemente contra esta situação, referindo que uma actividade descontrolada do ser humano na exploração da Natureza, terá como consequência um fim desastroso para a Humanidade. E a Igreja tem sempre comparticipado nesse clamor que, apesar de tudo, se tem mostrado insuficiente para travar a sua visível degradação.

Basta ler de relance a “Pacem in Terris”, de Paulo VI, para assim concluirmos sobre a posição da Igreja. Mas, essas vozes, infelizmente, pouco têm alterado o comportamento da globalidade, pois apenas são escutadas em pequenos círculos de cientistas e de pessoas cultas e sensatas. De resto, a maioria da população navega inconscientemente ao sabor do consumismo desenfreado, pautado pelos interesses imediatos da economia global e da total incapacidade política de redefinição do Conceito do Progresso como via essencial para à preservação da Natureza. E, no dia a dia, quando começamos a estar sensíveis às consequências do aquecimento global e da degradação da natureza, logo ouvimos as sereias do consumismo a referir tal ser um exagero fundamentalista e que o progresso da técnica mudará essa situação com novas descobertas. E a opinião pública, à mínima oportunidade, comodamente refreia os seus protestos perante o abuso da exploração dos bens da Terra. Bens esses, note-se bem, que são de todos e não apenas da população actual, mas igualmente das gerações que nos vão suceder, apesar das consequências já bem visíveis na alteração climática, provocadas pela diminuição da camada de ozono.

Motivadas por estas verdades nuas e cruas, que a curto prazo vão dar cabo do planeta Terra, o Papa Francisco publicou uma importante Encíclica sobre os deveres dos cidadãos em geral e dos cristãos em particular no cuidado a ter com os bens comuns. Na realidade, quando o Homem se colocou no centro do mundo, passou a não haver para ele verdades indiscutíveis e sim uma liberdade sem limites, não olhando a meios para atingir os seus fins. Ora o Ser Humano não é apenas espírito e vontade, mas também Natureza, como refere a nova Encíclica “Laudato Si”, Louvado Sejas Senhor, pela nossa Irmã Terra que nos concedeste e que por causa da acção do Homem se encontra numa situação de tremenda fragilidade.

Na realidade, por motivos económicos e políticos imediatos, é exigida uma tremenda rapidez e velocidade no processamento das acções humanas, protegida pelo progresso técnico e científico, velocidade essa que contrasta com a lentidão natural da evolução biológica, pois os objectivos dessa mudança não estão orientados para o bem comum e para o desenvolvimento humano sustentável e integral. Frases estas bombásticas com que os políticos enchem a boca, mas que são por eles descartáveis ao virar da esquina. Pois são apenas usadas circunstancialmente, na propaganda eleitoral, e logo esquecidas na actividade governativa, quando se planeia a economia e a vida social de um país e, consequentemente, a situação do respectivo meio ambiente. Como é óbvio, a Tecnologia ligada às Finanças pretende ser a única solução dos problemas. E o ser humano, quando se coloca no centro do mundo, como tem acontecido, acaba por dar prioridade absoluta aos seus interesses imediatos, tudo o mais se tornando relativo. No fundo, tornamo-nos escravos de uma política que necessita de produzir crescimento a curto prazo, respondendo a interesses egoísticos eleitorais, não se atrevendo os responsáveis, como bem refere o novo documento do Papa Francisco, a irritar a população com medidas que afectem o seus níveis de consumo ou ponham em risco os investimentos estrangeiros mesmo à custa do equilíbrio ambiental. E, nesta lógica, acrescento eu, o bem comum que é a preservação da Natureza que se dane.

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Redação Gazeta da Beira